Meu caro José do Vale,
Vale dizer que somos parentes consangüíneos. Meu pai e minha avó paterna são Feitosa. Mas nosso parentesco vai muito além, está expresso em nosso gosto pelo conhecimento e pelas artes. Diria que somos irmãos de armas, e as nossas são as idéias e os ideais. Você me surpreendeu com perguntas tão certeiras que quase não ouso respondê-las.
A feitura dessa rabeca se desenvolveu durante a eternidade de 10 dias e noites, sem outro pensamento, sem outra ocupação – com breves intervalos durante os jogos do Brasil, na última copa. Durante esses dias, respirei o pó de cedro, imburana e ipê, retirando da madeira, tudo que não fosse a própria rabeca, lá no interior das fibras, adormecida a esperar. E, sim senhor, sonhei operações que não sabia resolver; e despertava, dia seguinte, seguindo passo a passo a lição revelada. Ao final do dia, noite alta, saltava da rede atendendo ao chamado, olhando cada detalhe, pré-vendo a dúvida e o movimento seguinte...
É sim, é uma outra arte, dentro da Arte. Lixar até construir a forma necessária, unir faces opostas e complementares; transfigurar fragilidade em força capaz de tencionar o aço e fazê-lo vibrar consonante com o Universo.“A rabeca revirar este mundo que se esconde na música dos astros?”
Este verso merece um tratado de astro-física-quântica... É tão profundo que precisaríamos falar sobre as relações mensuráveis entre a vibração dos átomos e a dos astros nos diversos sistemas solares em consonância com o movimento das galáxias, o que não resolveria a equação...
Meu irmão, você me emocionou!
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