Éramos adolescentes.
O CREVA (Clube Recreativo de Várzea Alegre), nosso imã. Ponto de encontro.
Cheguei como visitante. Meu olhar correu na estrada, chegou à cidade, passeou na Matriz de S.Raimundo, na Praça, nos cafés (tigelas de doce de leite), vultos masculinos, possibilidades de construir amizades, e novos sonhos.
Dias de férias, ajuntamento de estudantes. Ócio romântico.
Amplificadora ativa, através das músicas, passava os seus recados noite e dia. Nas calçadas, em cadeiras de balanço, gentes de todas as gerações, pastoravam o tempo, proseavam, achavam graça, se entendiam.
Cheiro de “White magnólia”, vestidos de seda e chiffon vermelho, brinquinhos de pérolas, pulseiras escravas, saltos finas, meias de seda, batom cor-de-rosa, cabelos curtos ou longos com franjinhas. Boleros, xadrez, canastra, dominó, danças face a face, conversas engraçadas e tímidas.Flertes, paixões nascentes e serenatas...
Depois de balançar pernas e coração, e quase adormecendo, éramos acordadas pelo som das serenatas...
Os meninos que invadiam a pureza do nosso coração tentavam com gestos delicados, nos deixar o carinho musical...Um beijo, um olhar, na canção.
Não sei por que adotamos “Renúncia”, como trilha sonora... Além de “Relógio” (música da última serenata – despedida das férias... sempre lagrimosa, saudosa, inesquecível!)... É claro!
Renúncia era uma palavra suave. Pedia ao tempo que esperasse o futuro. , e ao mesmo tempo, pedíamos ao “Relógio”, que pelo amor de Deus, parasse... Que nunca amanhecesse... Que deixasse longe, a despedida... Nunca desejada!
Passaram-se quatro décadas. Passou a emoção do coração desarrumado, apaixonado... Pulando, e ficando na palma de outra mão.
Cartinhas amorosas, descomprometidas para a rua Duque de Caxias – Edifício Jalcy Avenida...
Passou o silêncio, o desencontro, a notícia, o desejo e o sonho...
Ficou o sentimento inviolável, perfeitamente intacto... Em todas e tantas lembranças.
A mesma voz, o mesmo riso, a mesma vontade de conversar, de ser incendiada pelo brilho do olhar.
Mais uma vez, a vida nos devolve o passado, numa caixinha de música. E lá está, a bailarina que anuncia e espera, incansavelmente, um novo encontro.
Oi, meu X... Sou teu Z, apesar de tantas incógnitas, equacionadas ou não, em nossas vidas.
Éramos jovens, puros e lindos... Só a paz do futuro, num tempo delicado e maduro, poderia nos presentear, e celebrar um novo encontro.
De tudo que vivi, você é o frescor, a hortelã que alivia meu coração de outras dores.
- A sempre-viva... A Renúncia revertida!
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