A PALAVRA COISA
A poesia da palavra coisa.
O seu silêncio de ovo, de relógio.
A coisa é uma pedra no poema,
pedra de toque, fora e dentro: essência.
HORIZONTE
Chove lá fora, além das montanhas
no horizonte em frente
e num outro horizonte com que sonho sem fim.
FLOR DE PEDRA
A flor nasce na pedra,
a flor medra na pedra.
Nasce, medra, como tudo
para morrer.
NOTA
No velho livro,
uma data e a nota:
“Trocaram o nosso gato.”
NO MEIO DO CAMINHO
Tinha uma pedra no meio do caminho.
Pus de lado e sentei em cima
para descansar.
COMPOSIÇÃO
Entre coisa e cousa
componho o poema
com giz e lousa.
O GUARDA-CHUVA
Abro o guarda-chuva
contra as águas do dilúvio
e morro afogado.
ELÉTRICO
Meu céu ficou elétrico
na objetiva da minha câmara
e nas minhas retinas.
A COISA
A poesia é uma coisa
que ninguém sabe o que é
e se soubesse, o que adiantaria?
Um comentário:
Poesia tem cheiro de coisa
nem sempre rosa
nem sempre amor
sentir é tudo que podemos
Explicar ... São elas !
Não apague o teu céu...
Nem poderias
a impotência de um instrumento
A potência da natureza...
Reconhecemos !
Na lousa
o giz faz o poema
Pensa que é poeta
Pensa que é Brandão !
As pedras e as árvores
teem uma missão no caminho...
Nos livros antigos
Notas que já não assustam
Pra morrer
a gente nasce
A recíproca é verdadeira
a chuva fertiliza o sonho
até quando destrói...
Postar um comentário