por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 16 de junho de 2024

 “ZU”, SEM TERGIVERSAÇÕES - José Nilton Mariano Saraiva

Já nos reportamos aqui sobre as “homenagens” aos ídolos do futebol, música e cinema, por parte de pais “torcedores fanáticos”, através da tributação, preferencialmente ao primogênito, do nome de algum deles. No entanto, um outro tipo de homenagem é muito comum entre genitores normalmente humildes e de parca cultura, e que merece ser lembrada: batizar o rebento com um nome estrangeiro, uma “sopinha de letras” de difícil pronúncia, capaz de “enrolar a língua” de qualquer um “metido a besta”, simplesmente por achar tratar-se de um nome bonito. Não importa a origem do nome, quem o usava (se se tratava de algum marginal ou uma autoridade constituída); enfim, o que vale é a “boniteza” da grafia e, principalmente, a dificuldade que os “analfabetos” tenham de pronunciá-lo.

Pois foi estribado em tais “conceitos revolucionários” que o pai de um nosso colega de trabalho resolveu batizá-lo com o pomposo nome de Zwínglio (aos desavisados, a principal referência sobre, é o suíço Ulrich Zwínglio, teólogo e principal líder da reforma protestante naquele país; portanto, um nome de peso e com história).

Fato é que, de tanta ouvir o pai se “gabar” com os amigos do nome estrambótico e difícil que tinha posto nele, nosso amigo assimilou “ipsis litteris” e “lato sensu” todo aquele arrazoado laudatório e, ele próprio, a partir de uma certa idade, passou a se vangloriar do nome e, tal qual o nosso rei Roberto Carlos, a se achar “o cara”; ria às escancaras quando, ao fornecer informações para um cadastro qualquer nas lojas comerciais, observava a extrema dificuldades e a cara de espanto daquelas moçoilas/entrevistadoras que preenchem as fichas respectivas: “Por favor, senhor, “Zu...” o quê, mesmo ???”, lhe inquiriam. E nessa oportunidade, como se fora um paciente professor catedrático, todo “cheio de razão”, fazia questão de citar, uma a uma, aquelas letras famosas, caprichando na dicção:  Z – W – I – N – G – L – I - O. E se punha a rir com a cara de espanto daquelas “pobres analfabetas”.

A adoração pelo próprio nome virou mais que mania, tornou-se uma verdadeira obsessão, tanto que, 200 anos antes de casar, ele já decidira que o primeiro filho receberia na pia batismal o mesmo nome dele, pai (afinal, era uma rara oportunidade de homenagear o avô (seu pai), que mesmo pouco letrado, tivera a ideia brilhante de arranjar-lhe um nome tão “porreta”).

Assim, após casar, constituiu-se uma tremenda surpresa o nascimento de uma robusta criança do sexo feminino; e agora, o que fazer para homenagear o próprio pai, se perguntava atarantado; mas eis que, como num passe de mágica, “fiat lux”: absorveu o choque rapidamente através da  adoção de uma solução simplória - “feminilizar” o próprio nome, trocando o “O” final pelo “A”, daí que a filha chamar-se-ia “ZWINGLIA”. Pronto, resolvida a questão, até mesmo porque... com ele ninguém podia. Era um gênio.

Anos após, evidentemente que quando começou a se entender por gente (ao adolescer), a filha criou verdadeira ojeriza, aversão azeda pelo próprio nome, a ponto de ter vergonha de citá-lo em conversas particulares e, principalmente, em público.

 Virava uma “fera ferida” quando o pai, na ânsia de mostrar ao mundo o que era um nome bonito e charmoso, a chamava pelo nome exótico, em voz alta.  Para ela, seu pai... “tava doido varrido ou bêbado” quando decidiu batizá-la com aquela “praga de nome”. Pra encurtar a conversa e já que não tinha jeito, Zwínglia resolveu que a partir de então seria simplesmente “ZU”. E não admitia tergiversações. Se o pai não gostasse que fosse à PQP. Se possível, sem passagem de retorno.

Enquanto isso, na solidão da sua última morada, Ulrich Zwínglio (o teólogo suíço) ainda hoje deve estar se contorcendo e se questionando se merecia tal tipo de homenagem de um habitante da terra “brasilis”.

 

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