por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 27 de maio de 2021

A "APOSENTADORIA" - José Nilton Mariano Saraiva

 A "APOSENTADORIA" - José Nilton Mariano Saraiva

De par com toda a carga simbólica que a envolve (a certeza de ter sido útil e de “não ter passado pela vida em vão”), a “aposentadoria” deveria se constituir numa espécie de merecido prêmio àquele que durante boa parte da vida “ralou” duro para possibilitar o contínuo “giro da roda” e, consequentemente, o evoluir do processo produtivo; e, como natural contrapartida, o desejável seria a formação de um capital mínimo que permitisse ao aposentando um tranquilo descanso mais adiante (ou, pelo menos, a sobrevivência com um mínimo de dignidade).

No entanto, no Brasil o tal “capitalismo selvagem” (via globalização desenfreada), literalmente “decretou” que, apesar da “bagagem adquirida” (CONHECIMENTO) e da “experiência acumulada” ao longo dos anos (O SABER FAZER), aquele que se aposenta passa a ser uma espécie de “produto descartável”, verdadeiro trambolho a obstar o progresso dos mais jovens e, pois, passível de descaso, de humilhação, de desrespeito por parte dos que “estão chegando” (a “meninada”). EXCLUÍ-LOS, POIS, PASSA A SER A SENHA VIGENTE; ESCAMOTEÁ-LOS DE PRONTO A PALAVRA DE ORDEM; DELETÁ-LOS DE VEZ UMA NECESSIDADE.

Assim, não tenham dúvidas de que a tão badalada “REINSERÇÃO DO APOSENTADO NO PROCESSO PRODUTIVO", hipocritamente cantada e decantada em verso e prosa, não passa, em verdade, de vergonhoso enchimento de linguiça, uma miríade distante, autentica utopia, masturbação sociológica sem fim, porquanto as barreiras para tal se apresentam a partir do momento em que o “carimbo” de aposentado é aplicado àquele que passou a vida labutando com vigor (mas que ainda se apresenta física e mentalmente apto à luta).

A propósito, permitimo-nos dividir com vocês, aí do outro lado da telinha, a magistral colocação da escritora francesa Viviane Forrester:

Sobre a “aposentadoria”:

“Tantas vidas encurraladas, manietadas, torturadas, que se desfazem, tangentes a uma sociedade que se retrai. ENTRE ESSES "DESPOSSUÍDOS" E SEUS CONTEMPORÂNEOS ERGUE-SE UMA ESPÉCIE DE VIDRAÇA CADA VEZ MENOS TRANSPARENTE. E como são cada vez menos vistos, como alguns os querem ainda mais apagados, riscados, escamoteados dessa sociedade, eles são chamados de excluídos. Mas, ao contrário, eles estão lá, apertados, encarcerados, incluídos até a medula. Eles são absorvidos, devorados, relegados para sempre, deportados, repudiados, banidos, submissos e decaídos, mas tão incômodos: uns chatos. Jamais suficientemente expulsos. Incluídos, demasiado incluídos, e em descrédito. É DESSA MANEIRA QUE SE PREPARA UMA SOCIEDADE DE ESCRAVOS, AOS QUAIS SÓ A ESCRAVIDÃO CONFERIRIA UM ESTATUTO.”

Sobre a “pós-aposentadoria”:

“Longe de representar uma liberação favorável a todos, próxima de uma fantasia paradisíaca, o desaparecimento do trabalho torna-se uma ameaça, e sua rarefação, sua precariedade, um desastre, já que o trabalho continua necessário de maneira muito ilógica, cruel e letal, não mais à sociedade, nem mesmo à produção, mas, precisamente, À SOBREVIVÊNCIA DAQUELES QUE NÃO TRABALHAM, NÃO PODEM MAIS TRABALHAR, E PARA OS QUAIS O TRABALHO SERIA A ÚNICA SALVAÇÃO”.

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