Pode o “fim”, resultar em um “começo” ??? Baseado em fatos reais, o excelente filme “DOIS PAPAS” nos mostra exatamente isso.
Após a morte do carismático Papa polonês João Paulo II, nos requintados e luxuosos salões do Vaticano começa uma luta ferrenha à sua sucessão: de um lado, o cardeal alemão Joseph Ratzinger, 78 anos (que na juventude militara na tropa nazista de Hitler), e agora tido e havido como um ultraconservador, de posições jurássicas inabaláveis e assumidamente candidato, capaz até de cabalar votos sem nenhum escrúpulo; na oposição, usando de toda a hipocrisia que se possa imaginar, o polêmico cardeal argentino Jorge Bergoglio, 69 anos, (que no passado se aliara à Ditadura dos militares argentinos) que embora declare não pretender concorrer, intimamente batalha para se viabilizar.
Fato é que, só após o quarto escrutínio, emergiu a fumaça branca oriunda da cafona e ultrapassada chaminé do Vaticano, anunciando que um novo Papa fora sagrado. Joseph Ratzinger, o alemão ambicioso, chegara lá.
Desgostoso por entender que a Igreja necessitava de uma outra política, um outro olhar, uma outra atuação, que só ele poderia implementar, Bergoglio resolve voltar à sua Argentina e se dedicar à sua paróquia.
Eis que, durante o papado de Ratzinger (agora rebatizado como Papa Bento XVI), eclodem os cabeludos e incontentáveis escândalos na cúpula do catolicismo: o roubo no Banco do Vaticano, os padres pedófilos, as traições, o abuso sexual na Igreja entre padres e freiras, bem como a homossexualidade até então reprimida (talvez em razão do ultrapassado celibato), assim como a persistente condenação ao divórcio, e por aí vai.
Contrário a tudo isso, o populista Bergoglio toma a iniciativa de aposentar-se precocemente (mesmo sem contar com o apoio dos argentinos) e, para tanto, necessário solicitar a autorização do Papa Bento XVI-Ratzinger; endereça-lhe, então, o competente pedido, e é chamado a Roma para uma conversa pessoal com o próprio.
Em lá chegando, durante dois dias, respeitosamente Bergoglio e Ratzinger se reúnem várias vezes e põem a nu suas abissais diferenças, olho no olho, a ponto do Papa lhe confidenciar que não concordava com sua aposentadoria, por uma razão simplória: confidencia-lhe, em primeira mão, que iria renunciar ao papado por não aguentar tanta pressão e pela saúde debilitada (estaria, até, cego do olho esquerdo). E então, incisivamente declara sua intenção de fazê-lo seu sucessor, ao afirmar "Não concordo com nada do que você diz, mas você é aquilo de que a Igreja precisa agora".
Eleito Papa (com o apoio do Papa, lembremo-nos), Bergoglio virou o Papa Francisco e até hoje mantém uma respeitosa amizade com Ratzinger, que, por uma deferência sua (Bergoglio), mora no próprio Vaticano.
Baseado em fatos reais, o excelente filme “DOIS PAPAS” nos mostra que, mesmo no crepúsculo da vida (Ratzinger), há que se ter espaço para o começo de uma amizade respeitosa, apesar de divergências profundas.
O final do filme é fabuloso: “tarado” por futebol (que Ratzinger abominara por toda a vida), Francisco convida-o para assistirem juntos a final da Copa do Mundo (realizada no Maracanã, Rio de Janeiro, Brasil), entre Alemanha e Argentina. E então, frente a TV, entre goles generosos de cerveja estupidamente gelada, opiniões sobre determinados lances do jogo (cada um defendendo a sua seleção), Ratzinger descobre, enfim, que o futebol é realmente “fabuloso”.
Para quem não lembra, a Alemanha ganhou de 1 x 0 (e como o neófito no mister, Ratzinger, vibrou com o gol da sua Alemanha).
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