O
menino despertou com o canto do galo, e a mãe já preparava a viagem
ao Juazeiro. Ela dormiu pouco. O trem ainda apitava ao longe, mas
estavam todos ansiosos. Haveria a compra das passagens e era grande o
burburinho do povo.
Eles
logo tomariam assento. Aquela, quase aventura, era uma viagem
especial. A irmã querida, frágil e magrinha, quase morreu de
sarampo, e a família iria demonstrar ao Padre Cícero toda a sua
gratidão. E próximo à estação, pela janela do trem, vendo a
Igreja dos Franciscanos, logo chegaram ao Juazeiro.
O
pai, a mãe e as crianças desceram pela rua São Pedro, vaguearam
pela São José, andaram na Santa Luzia, na Conceição, no Mercado,
talvez na José Marrocos e na Floro Bartolomeu. E o pai conduzindo a
todos, certamente deslumbrado com “A
Aliança de Ouro”, “As Casas Pernambucanas”, o
BNB e o Banco do Brasil: mil sonhos e temores no seu coração
guerreiro.
E
em meio aos romeiros, na capela do Socorro, no túmulo do Padre
Cícero, eles pagaram a promessa. Muitas vezes depois, agora sozinho,
no mesmo trem ou de ônibus, o menino voltaria. Compraria gibis e
enfeites de bicicleta; na praça principal tomaria sorvete de abacate
ou pegaria uma Kombi para o Crato, onde nesse tempo estudava.
E
as promessas continuaram com a mãe pedindo a aprovação dele no
vestibular e a formatura em Medicina. O milagre se repetiu e todos
voltaram, subiram o horto e agradeceram ao “meu
Padim” pelo
ingresso improvável daquele menino velho na universidade.
Juazeiro
do Norte, lugar abençoado, onde meu irmão é feliz. Terra da fé e
milagre do Padre Cícero. No teu povo humilde e bom, e não nos
ladrões do dinheiro público, existe a força divina a construir a
tua história.
E
dias atrás, ao ver na televisão tantos “padres
cíceros” na
bateria de uma escola de samba no carnaval do Rio de Janeiro, ele se
lembrou do Cariri e da sua gente, chorou em silêncio e novamente
agradeceu ao santo da mãe e da irmã, da infância e da família,
pela proteção presente nessa caminhada.
Outro
dia em Fortaleza, dia treze, ao passar em frente à Igreja de Fátima,
dentro de um automóvel, ele, como um menino antigo, também se
juntou às vozes que cantavam e murmurou “com
minha mãe estarei na santa glória um dia...”
E lembrou do pai, de terno branco e gravata, - velhos tempos - para a
missa do domingo na cidadezinha.
Então,
fez uma prece e agradeceu muito à mãe. Pois ela, tão devota do
Padre Cícero, ainda muito pequeno lhe ensinou a rezar e com imensa
sabedoria lhe transmitiu toda a fé. Porque somente um milagre,
acreditem ou façam pouco, era a sua vida até aqui.
(*) Médico-Cardiologista, natural de Missão Velha e residente em Fortaleza-CE
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