Porque as fotos coloridas, quando cores não existiam, no
filme e na revelação. E elas eram coloridas. Suavemente coloridas, dégradée,
assim como as sombras do nosso corpo.
E a correnteza do tempo não é apenas um fluxo vazante. Com
frequência a ausência e o intervalo calendário nos comovem em esquecimento. Mas
é certo que no recôndito de camadas de anos aquele permanente fato é como um
remanso na correnteza.
Assim como as caras, apenas elas, em várias poses, que
contam a estética da época, traduzem uma permanência tão sólida como meus dedos
digitando estas palavras. As caras nas paredes imorredouras do domicílio de um
tempo de gentes e acontecimentos.
E o cinema. Que ideia força a criar imagens! Poses sugeridas
das estrelas e estrelinhas de suas salas em plenitude de domingos. E lá estava
Marisol na imagem de uma menina da terra.
E os leões da “casa dos leões” ao ladear a entrada para o
estúdio. Uma sala de cores neutras, focos de luz, assentos, guardas-luzes,
efeitos do clic mais saliente que os arranjos de laboratório (na fase digital o Fotoshop).
Isso é uma era. E não o passado do verbo ser. É uma
linguagem viva com integral léxico ao mundo atual. Quem não compreende as
palavras não pode se apresentar no escapismo do novo ou do presente. E quem não
compreende e desdenha, mostra uma lagoa seca. Sem novas fontes de abastecimento.
Assim como as fotos coloridas de Telma Saraiva, em sua
elegância apresentada, ela e as fotos, dizem de um tempo em remanso. Que gira,
acumula, retém, sem perder-se rapidamente a jusante.
Como canções que enterneceram minha mãe em seu eterno
romantismo. Uma das últimas conversas que tive com ela, um pouco mais do que
dezesseis anos de idade, narrava-me todo o enredo de um filme de encontro e
desencontro de um homem e uma mulher em plena 2ª Guerra Mundial. Na ponte
londrina de Waterloo.
Assim como Ernesto Lecuona, mais um dos gênios latinos da
canção do século XX, o cubano compositor de Siboney, Malaguena e Babalu. Qual
sua canção que ganhou um Oscar na trilha sonora de um filme. A canção que minha
mãe sempre cantava.
Sempre no meu coração. O remanso da permanência sobre o
desgaste do esquecimento.
2 comentários:
Pra arrepeiar.
Bonito demais!
A cada leitura, novo arrepio.
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