por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 14 de junho de 2015

Sempre no meu coração - José do Vale Pinheiro Feitosa


Porque as fotos coloridas, quando cores não existiam, no filme e na revelação. E elas eram coloridas. Suavemente coloridas, dégradée, assim como as sombras do nosso corpo.

E a correnteza do tempo não é apenas um fluxo vazante. Com frequência a ausência e o intervalo calendário nos comovem em esquecimento. Mas é certo que no recôndito de camadas de anos aquele permanente fato é como um remanso na correnteza.

Assim como as caras, apenas elas, em várias poses, que contam a estética da época, traduzem uma permanência tão sólida como meus dedos digitando estas palavras. As caras nas paredes imorredouras do domicílio de um tempo de gentes e acontecimentos.

E o cinema. Que ideia força a criar imagens! Poses sugeridas das estrelas e estrelinhas de suas salas em plenitude de domingos. E lá estava Marisol na imagem de uma menina da terra.

E os leões da “casa dos leões” ao ladear a entrada para o estúdio. Uma sala de cores neutras, focos de luz, assentos, guardas-luzes, efeitos do clic mais saliente que os arranjos de laboratório (na fase digital o Fotoshop).

Isso é uma era. E não o passado do verbo ser. É uma linguagem viva com integral léxico ao mundo atual. Quem não compreende as palavras não pode se apresentar no escapismo do novo ou do presente. E quem não compreende e desdenha, mostra uma lagoa seca. Sem novas fontes de abastecimento.

Assim como as fotos coloridas de Telma Saraiva, em sua elegância apresentada, ela e as fotos, dizem de um tempo em remanso. Que gira, acumula, retém, sem perder-se rapidamente a jusante.

Como canções que enterneceram minha mãe em seu eterno romantismo. Uma das últimas conversas que tive com ela, um pouco mais do que dezesseis anos de idade, narrava-me todo o enredo de um filme de encontro e desencontro de um homem e uma mulher em plena 2ª Guerra Mundial. Na ponte londrina de Waterloo.

Assim como Ernesto Lecuona, mais um dos gênios latinos da canção do século XX, o cubano compositor de Siboney, Malaguena e Babalu. Qual sua canção que ganhou um Oscar na trilha sonora de um filme. A canção que minha mãe sempre cantava.


Sempre no meu coração. O remanso da permanência sobre o desgaste do esquecimento.  

2 comentários:

socorro moreira disse...

Pra arrepeiar.
Bonito demais!

socorro moreira disse...

A cada leitura, novo arrepio.