“Riqueza são aquelas
coisas materiais produzidas pelo trabalho humano que satisfazem desejos humanos
e podem ter valor de troca”. - John
Atcheson, citando Adam Smith que disse: “Riqueza
é material, não podemos considera-la uma habilidade física ou mental humana.
Ela é produzida pelo trabalho. A terra tem todas as características, só que não
é produzida pelo trabalho. O dinheiro não é riqueza, mas um meio de troca. A
riqueza, no entanto, deve ter valor de troca”.
Frase de Delfim Netto no período mais negro da Ditadura
Militar, logo após o AI 5, quando ele disse: “é preciso fazer o bolo crescer para depois dividi-lo” se coloca na
mais pura falácia do capitalismo segundo a análise de dois séculos feita por
Thomas Pikkety. Na verdade, a esperança distributiva do capitalismo industrial avançado,
nunca se concretizou e a ideia não é original de Delfim Netto. Dizia isso Simon
Smith Kuznets, russo radicado nos EUA que desenvolveu uma curva que relacionava
crescimento do produto à desigualdade de renda.
Pikkety destrói a falácia ideológica predominante na guerra
fria de que o capitalismo estaria sujeito a um determinante econômico onde o
desenvolvimento das suas forças produtivas levaria automaticamente à
distribuição de renda. O seu trabalho demonstra que não há uma lei econômica
inexorável que conduza à distribuição de renda. E nem à concentração.
O seu trabalho, no entanto, revela muito bem que a porção
mais pobre continua tão pobre como há duzentos anos, que neste intervalo surgiu
uma classe média que aumentou sua participação na distribuição das riquezas e
que os ricos, inicialmente, perderam participação, mas agora concentram mais
retirando meios da classe média.
Mas tem um lado importante do trabalho do autor francês: o
crescimento médio da economia mundial desde a revolução industrial (1700 a
2015) foi de 1,6% e metade deste crescimento (0,8%) devido ao crescimento
populacional. Crescimento mesmo do PIB per capita foi de 0,8%. Crescimentos mais acelerados só ocorrem em
países se recuperando em relação aos outros ou após guerras destrutivas. Quer
dizer: se for subtraída a parcela desnivelada e as perdas de guerra, o
crescimento é muito menor.
A questão do crescimento, que faz com que uma geração tenha
melhores condições que seus país é bem abordada pelo pensador francês,
considerando níveis ótimos em torno de 1 a 2% e perigosa a ideia do crescimento
zero, quando cada geração ficaria pior que seus pais. Não se esqueçam que
crescimento nos termos estudados consideram aumento de população e do PIB real
(riqueza sobre o número de pessoas existentes) e por isso taxa de crescimento
demográfico zero ou negativa leva a mero consumo das riquezas já acumuladas.
Mas aí vem a questão central quando diz Pikkety: “Melhorar a avaliação e valorização do capital
natural é uma questão central. A degradação do capital natural é um risco maior
do que qualquer outro. Esta é a verdadeira dívida(...) O problema real é que
não estamos em dívida com Marte, mas com o planeta Terra (...). No entanto, um
aumento de 2ºC na temperatura do planeta em 50 anos não é apenas um jogo de
palavras. E não dispomos de nada para resolver o problema do custo imposto ao
capital natural.
E ele continua apontando a questão do meio ambiente na
evolução e futuro do capital e seu crescimento: “É preciso levar em conta o que foi destruído, contabilizar o capital
natural. Contabilizar o que é criado sem reduzir o que foi destruído é
estupidez. Então a reportagem levanta com Pikkety que vivemos num impasse
com um capital muito poderoso e uma impressa muito forte.
Pikkety responde - “Tendência
passadas sugerem que as coisas podem mudar mais rápido do que imaginamos. A
história da desigualdade, da renda, da riqueza e dos impostos é cheia de
surpresas. O que vai acontecer ainda é totalmente incerto, e temos vários
futuros possíveis. Além disso, há diferentes maneiras de resolver estes
problemas: de forma mais ou menos rápidas, mais ou menos justa e mais ou
menos cara”.
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