Peguemos duas notícias de hoje, uma diz ter a Associação
Médica Brasileira (AMB) declarado apoio a Aécio Neves e a outra diz que a
Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que proximamente se atingirá a marca entre
5 a 10 mil casos novos por semana da doença provocada pelo Ebola.
A carta de apoio da AMB termina assim: “Conclamamos todos a votar em Aécio Neves (45) para presidente do
Brasil, a fim de que possamos trabalhar juntos, orgulhosos e confiantes,
podendo proporcionar melhor saúde e assistência aos nossos pacientes.” Em
nota o chefe da missão da ONU que se dedica ao combate da doença declara: “Ou paramos o ebola agora ou enfrentaremos
uma situação sem precedentes e para a qual não temos um plano.”
Onde as duas notícias se aproximam e onde se distanciam. Aproximam-se
por ter como tema comum a saúde. Ambos são manifestos políticos tentando
mobilizar corações e mentes. Ambos supostamente foram refletidos por profissionais
da saúde.
Distanciam-se pelos interesses manifestos atrás das
palavras. A AMB é uma entidade de classe, corporativa, que luta essencialmente
pelo controle corporativo das especialidades médicas através das associações de
especialidades. São as velhas guildas da idade média que controlavam os números
e o perfil aceito aos artesãos. Só um exemplo de como funcionam para revelar qual
interesse têm na saúde coletiva: todo beneficiário de Plano de Saúde tem que
pagar por fora aos anestesistas. Eles se organizaram de tal modo que a
sociedade mesmo pagando os tubos por um Plano de Saúde, tem que pagar o pedágio
a eles. E simbolicamente tem um detalhe: eles, pelos anestésicos, levam você à
linha tênue entre a vida e a morte.
A OMS, mesmo que sujeita à pressão das grandes indústrias de
tecnologia de saúde, continua sendo o órgão universal dos interesses de toda a
humanidade. O chefe da missão diz que é preciso tratar 70% dos casos e enterrar
70% das pessoas de maneira segura ou, então, a epidemia foge ao controle. E
pode chegar a outros países distantes. Os exemplos americanos e espanhóis são
evidentes para que acreditemos na OMS.
A dinâmica da AMB e suas associações, por outro lado, não
consegue fugir mais do suprimento do Complexo Industrial da Saúde, este que,
artificialmente, lança mão de todos os mecanismos para criar e manter
especialidades médicas. Os Congressos de Especialidades se tornaram um balcão
de anúncios e os painéis e conferências magnas, a voz do produtor de
tecnologia. Por isso no mundo todo surgem instituições de Avaliação de
Tecnologia, que pretendem operar de modo independente, para que se separe onde
se encontra a eficiência verdadeira e a negociação do uso intensivo no
interesse da contabilidade do Complexo.
O surto do Ebola não é a mesma coisa de combater os
islamitas com aviões e drones nos desertos do Iraque e da Síria. Ele tem o
potencial de se tornar uma nova peste. Diante da falta de recursos
terapêuticos, de um mundo em convulsão que gera milhares de desabrigados e
concentrações em lugares precários, do rápido deslocamento por avião, há que se
pensar na solidariedade na ação coletiva e humana como uma necessidade. Que se
pensar uma política de saúde universal, independente de dinheiro para comprar a
vida ao invés da morte.
Entre a AMB e a OMS há uma vala enorme de separação. Uma
vala onde ardem os interesses do Complexo Industrial da Saúde e seus agentes de
campo. A vala onde o interesse individual suplanta o interesse da sociedade.
Onde a liberalidade é sinônimo de bem remunerado serviço por uma boa imagem de
marketing.
Um marketing que todo profissional de saúde sente pela
traição dos “colegas” a desqualifica-lo por uma melhor posição no “mercado.”
Uma dinâmica para criar dúvidas nos seus “consumidores” em relação aos “produtos”
do mesmo associado à AMB. E sintam que num enorme ato falho eles terminam
dizendo: proporcionar melhor saúde e
assistência aos nossos pacientes.
São eles, os mágicos, quem controlam a oferta, aqueles que
proporcionam. Eles são os sujeitos os outros os pacientes. Malandros põem saúde
no meio para disfarçar o que realmente fazem: assistência. Neste discurso a
complexidade das relações saúde e doença, com seus componentes sociais,
econômicos e políticos não existem. Existe apenas a assistência. Mas corrijo:
existe a política.
O apoio a um
candidato que desviou recursos da saúde. Não aplicou sequer os recursos
previstos na Constituição que Minas Gerais deveria ter feito.
É AMB ficou difícil. Como argumentar no futuro por mais
verbas para o SUS? E quando a Agência Nacional de Saúde privilegiar mais os interesses
das “operadoras de Plano Privados de Saúde” do que dos “prestadores de serviços
de saúde?”
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