Everardo Norões
- As histórias infantis se equivocam ao fazer crer aos seus leitores que o Bem sempre vence o Mal e a Sabedoria sempre derrota a Astúcia. Quase nunca é assim.
Poucos percebem a ironia do malabarista que se exercita no sinal vermelho da avenida e diz ao proprietário do automóvel que lhe dá gorjeta (ou esmola?):
- Com isso vou comprar um carro!
Ele sabe que as acrobacias do político, do empreiteiro, ...do traficante serão sempre melhor recompensadas do que a alquimia do artista para transformar sofrimento em alegria ou em êxtase. O malabarista transpira no cruzamento da Padre Roma com a Rosa e Silva para conseguir alguns trocados e diz aquilo sabendo que nunca terá automóvel e que as pessoas nem consideram o que ele faz como um trabalho. É difícil perceber que ele está falando sério porque nossa cultura - a mesma que nega recursos ao artista - incutiu-nos que querer é poder e com esforço sempre se consegue chegar lá. Essa ideologia do 'esforço' é a mesma que abafa o ócio criador.
Na mesma ordem de pensamento, é também um equívoco pretender que diploma confere ao titular capacidade para fazer alguma obra. Um burocrata da cultura exige de um músico a certificação de cursos e diplomas como se assinaturas com firmas reconhecidas fossem mais importantes do que o exímio exercício de tocara. O argumento de que a ausência de papéis justifica a negação da já pobre recompensa financeira atribuída aos artistas seria cômica se não padecesse daquela crueldade que foi tão genialmente esmiuçada por Kafka.
Quando o músico - alguém reconhecido até por platéias estrangeiras eruditas - contou-me sua desventura com o funcionário da cultura que tentou lhe negar recursos para um trabalho sério, logo lhe contei o episódio de quando Villa Lobos chegou a Paris e, interrogado sobre quais universidades havia frequentado, respondeu sem hesitar:
- A de Pixinguinha e João Pernambuco!
P.S. A PROPÓSITO, TODOS QUE SE INTERESSAM PELA MÚSICA E PELA NOSSA CIDADANIA DEVERIAM PERGUNTAR : O QUE ACONTECEU COM A ORQUESTRA SINFÔNICA JOVEM ?
por José do Vale Pinheiro Feitosa
Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.
José do Vale P Feitosa
quinta-feira, 31 de julho de 2014
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