por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 9 de maio de 2014

Um caixeiro cearense em Nova Iorque - Por Carlos Eduardo Esmeraldo

A história abaixo  relatada saiu em uma edição da Revista Exame que eu li por volta de 1977, há cerca de trinta e sete anos, portanto. Dessa edição, perdeu-se no tempo a revista e, apagou-se da minha memória todos os demais temas tratados, ficando apenas a narrativa que se segue, como prova do espírito empreendedor e inovador de uma das mais marcantes personalidades de nosso estado. 

A esposa de um jovem empresário cearense foi acometida de uma estranha doença, cujos médicos locais sugeriram tratamento em São Paulo. Lá chegando, uma junta médica aconselhou o empresário levar sua mulher aos Estados Unidos. Não era doença tão grave que, o dinheiro não pudesse resolver. Com as indicações de quem e onde procurar o atendimento em Nova Iorque e de posse do competente prontuário médico vertido para o inglês, o nosso empresário decidiu acompanhar sua esposa à terra  do "Tio Sam". Em lá chegando, sua mulher foi atendida numa das mais importantes clínica da cidade de  Nova Iorque.

Realizados novos exames, o marido foi informado de que sua esposa deveria ficar alguns dias internada, sem permissão de acompanhamento de familiares e visitas permitidas apenas nos dias de domingo.

No primeiro dia a sós na cidade, o nosso empresário resolveu dar uma volta pelo centro da cidade, examinar as lojas, verificar os avanços e as possíveis novas técnicas de vendas e marketing. Sentia-se sem saber o que fazer perambulando no meio de um verdadeiro formigueiro humano, que eram as ruas da grande metrópole, quando notou uma lojinha, espécie de chapelaria, cuja vitrine se encontrava vazia e às escuras. Como precisava comprar uma capa de chuva, entrou na loja onde o proprietário, um senhor idoso,  cujo aspecto lhe pareceu ser o de um judeu, era o único atendente. Começou uma interessante conversa com o dono da loja que lhe informou que as vendas estavam muito fracas. Então resolveu gastar seu inglês para se divertir pedindo emprego:
- O senhor não sente falta de uma pessoa para lhe ajudar? Sou brasileiro, há pouco  chegado aqui e estou precisando trabalhar. -  disse o empresário
-  Meu amigo, não posso lhe pagar um salário, pois como lhe falei, minhas vendas são fracas.
-  O senhor não precisará me pagar nada. Apenas se achar justo me conceder uma gratificação de dez por cento sobre o acréscimo das vendas que se verificarem após o inicio do meu trabalho. Se as vendas não progredirem, o senhor me despede sem nada me pagar. - Proposta mais do que tentadora para um presumível judeu. Como previra o candidato a emprego, o velhinho concordou e o jovem vendedor iniciou seu trabalho.

Sua primeira providência foi dar uma arrumação geral na disposição dos artigos da loja. As malas mais bonitas e de melhor qualidade foram convenientemente expostas na vitrine que ganhou nova iluminação, de modo a despertar a atenção das pessoas que passavam pela calçada da lojinha. Ali também foram colocados outros artigos que a loja dispunha para oferecer ao público, todos eles de grande utilidade. O interior da loja também teve as lâmpadas trocadas de modo a fornecer a sensação de se estar ao relento em uma ensolarada manhã.

Não demorou muito para o efeito se fazer notar. Logo no primeiro dia, o número de visitas à loja cresceu exponencialmente e quase cem por cento das pessoas que entravam na loja saia levando consigo algum artigo relacionado com as condições do tempo, capas e guarda-chuvas, luvas, casacos de lã, malas e sacolas para viagem, enfim, a loja conheceu um acréscimo de vendas jamais imaginado por seu proprietário. Nosso empresário cearense se divertia, à seu modo, como talvez não o fizera quando criança em suas brincadeiras. Mas contrariando um famoso dito popular, a alegria de rico às vezes também dura pouco. Um belo dia entrou na loja um engenheiro americano que estivera no Ceará projetando e montando uma das instalações industriais do empresário, agora transmutado em simples comerciário. Ele, ao avistar o engenheiro, tentou se esconder por trás de alguns artigos, mas fora notado e reconhecido pelo engenheiro que perguntou ao dono da loja:
- Quem é aquele homem que se encontra escondido por trás daquele material?
- Um imigrante brasileiro que veio me pedir emprego. É um vendedor muito esperto. Depois que muito a contra gosto eu resolvi empregá-lo, minhas vendas cresceram extraordinariamente. -  Respondeu o comerciante.
- Que imigrante, que nada! Aquele homem é um dos empresários mais rico do Brasil! E se chama Edson Queiroz. - Dito isto o ricaço brasileiro saiu de onde estava, abraçou o amigo e riram bastante da brincadeira, diante do comerciante americano admirado e intrigado. Não me recordo se a reportagem citou alguma explicação relativa a continuidade do emprego ou sobre à gratificação sobre o acréscimo das vendas a que o informal contrato de trabalho aludia teria sido paga.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo
             
09/05/2014

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