"Tenho
apenas de imaginar a porta, uma porta velha e boa como a da cozinha de
minha infância, com maçaneta de ferro e tranca. Não há quarto tão
emparedado que não se abra com uma porta de confiança como essa, basta
haver força suficiente para insinuar-lhe a existência dela".
(Bruno Schulz)
"Sim, mas aí é que está, estou longe de minhas portas, longe das minhas paredes, seria preciso acordar o carcereiro, há um com certeza..."
(Samuel Beckett)
(Bruno Schulz)
"Sim, mas aí é que está, estou longe de minhas portas, longe das minhas paredes, seria preciso acordar o carcereiro, há um com certeza..."
(Samuel Beckett)
Se me fosse dado, algum dia, me deparar com um desses dois maravilhosos
escritores, ou, para minha suprema felicidade, com os dois ao mesmo
tempo, teria o atrevimento de falar dessas portas, e de todas as portas,
da ânsia, da urgência, da carência de portas (que todos nós temos) -
quando a noite chegasse ao fim e o dono do bar nos pusesse para fora, ao
tropeçar (cada um) no batente da porta, talvez trocássemos olhares
desanuviados porque teríamos finalmente descoberto que o papel das
portas é, na verdade, encarcerar. De nada valeria o desencanto de tal
descoberta, ou melhor dizendo, não seria possível tal encontro, tal
conversa; que eu saiba - no céu - não existe bar, e mesmo que tivesse
não permitiria bêbados e fecharia as portas cedo.
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