Numa dessas nossas andanças
pelo Brasil, certa vez desembarcamos em Curitiba, a belíssima e agradável capital
do Paraná, já à noitinha e com o tempo bastante frio. Em chegando ao hotel, a
surpresa: no hall, dentro dos elevadores, nos corredores, nas portas dos
apartamentos e, enfim, por todo o prédio, cartazes em letras garrafais anunciavam:
“A falta d’agua é fogo”.
De princípio, não demos
maior importância, porquanto a prioridade era se acomodar o mais rápido
possível e logo partir para conhecer a noite curitibana.
E aí a surpresa: ainda
no elevador, o “office-boy” encarregado de transportar as malas, notando o sotaque
diferente dos integrantes do grupo, indagou de onde éramos. Ao saber sermos cearenses,
do Crato, Fortaleza e tal, identificou-se como também cearense, só que se São
Benedito, na Serra da Ibiapaba. Não se conteve e, apontando para o cartaz afixado
numa das laterais do elevador, disparou: “Tão vendo isso aí ? É que aqui tá
faltando água há vários dias e “eles” tão passando por grande dificuldade” E emendou:
”Eu acho é pouco. Só assim “eles” vão ter consciência do sofrimento que nós,
nordestinos, passamos com a seca”. Já instalados, telefonema da portaria reverberava
o dito pelo office-boy: “Senhor, queríamos comunicar-lhe que toda a cidade está
com problemas de falta d’agua e, assim, pedimos
sua compreensão a fim de consumir o menos possível, só o absolutamente necessário”.
A reflexão nos remete
ao drama pelo qual passa o todo poderoso Estado de São Paulo, atualmente no enfrentamento
de uma estiagem braba e demorada, com água faltando até para as necessidades básicas
e com perspectiva de racionamento iminente. E como o tal São Pedro não tá nem
aí para o drama dos paulistanos, a tendência é a coisa piorar.
Mas, como não há mal
que dure para sempre, naturalmente a “coisa” passará algum dia; e aí, pode ser
que eles deixem de “frescura” e não fiquem a reclamar da transposição das águas
do Rio São Francisco, sob o argumento que a Região Nordeste não é prioritária e
que se está jogando dinheiro fora com um projeto de tamanho alcance social.
Por enquanto, vão ter
que reprisar o lengalenga que ouvimos dos curitibanos, àquela época: “A FALTA D’AGUA É FOGO”.
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