Hércules!
Uma brilhante estátua grega masculina!
O amor!
Mas poderia ser a força arrebatadora, a beleza pura ou o
fogo humano rasgando os limites da conveniência temporal. Não do espaço, pois
nele tudo é possível, o tempo é que é o senhor da razão e dos cercados.
As três tias Raimunda, Rosa e Maria tiveram sentimentos
paralelos enquanto viam o corpo perfeitamente musculoso de Sebastião, brilhando
ao sol como se secretasse feromônios com uma força atratora universal. Naquele
instante, dos movimentos de Sebastião enchendo com uma pá um caminhão de areia,
os olhares das três não puderam mais se cruzarem. A denúncia estaria anunciada
nas duas janelas da alma.
Mais tarde na varanda, durante um café acompanhado com beiju
recém saído da Casa de Farinha, pleno, mas não encharcado, na medida, de uma
saborosa manteiga da terra. Daquelas manteigas que só existem posto que
artesanais assim como o queijo de coalho. A pasteurização roubou a essência
histórica destes dois derivados do leite. As bactérias que lhes emprestavam a
alma nordestina foram dizimadas entre o calor e o frio.
E foi naquela ocasião, que o tom de reprovação para a
degeneração sensual dos povos veio à voz do coletivo na forma de um reparo de
tia Rosinha:
- Esse mundo anda mesmo desgarrado pois não é que já
inventaram que o dia 31 de julho é dia Internacional do Orgasmo.
Claro. O teatro. Primeiro o espanto reprovador. Depois a
ansiosa busca da fonte para também pesquisar a notícia na internet pela voz de
Tia Maria.
- Menina, não tem mais como segurar este pecado! O mundo
está perdido mesmo. Na verdade isso não é brincadeira para nos espantar nesta
hora amena da nossa merenda.
- Não mulher. É merenda mesmo, ô, ô, ô, peraí, é mesmo, eu
vi naquele site que todas costumamos ler logo que terminamos a nossa dormida da
tarde. - Tia Rosinha confirma a notícia.
- Mulher avé Maria. Eu agora acredito que ela diz a verdade –
Tia Mundinha carimba o anunciado.
Mais que café mais rápido desta vez para tia Maria e
Mundinha. Por um motivo de extrema força maior as duas tiveram que ir aos seus
respectivos quartos para ultimar coisas pessoais. Até deixaram tia Rosinha nos pedaços
finais do beiju e do café torrado com rapadura, tornado pó na velha moedora
movida a músculo humano. Assim como aqueles de Sebastião.
O resumo da notícia. Tratava-se do orgasmo perfeito. E o
mais importante do mundo ele é feminino. Os homens foram esquecidos destas
considerações sobre a perfeição. O objeto do prazer não é mais o corpo da
mulher, ao contrário, é do corpo da mulher que o prazer se torna objetivo como
parte de estar no mundo.
Um duplo orgasmo: vaginal e clitoriano ao mesmo tempo. Eis o
corpo, ou melhor a forma dos elementos se articularem numa força corporal, não
trata de isolar um orgasmo do outro, ao contrário apenas se juntos são o que
são e serão como expressão no tempo, uma vez que o espaço já é dado.
O êxtase como uma síntese entre os sentimentos pelo corpo de
Sebastião (no caso das tias, mas bem poderia ser de Sebastiana ou até de
estímulos criados) e o exercício realizado no corpo das mulheres. Com
preliminares, estímulos visuais e uma aliança de jornada pela breve eternidade
que flui no êxtase, mas que se prolonga como a real possibilidade de tantos
êxtases atingidos no tempo. Em outras palavras é a conquista do tempo, este
mensageiro do fim.
Eu soube por Chico Véi e até me preocupei que a sólida
aliança havida entre as três tias estivesse com alguma ruptura. Mas foi apenas
uma possibilidade. As três continuam as mesmas como força de união. É o que me
disse a estranheza de Chico Véi, em razão de por três semanas seguidas, cada tia
ter ido até aos Correios de Potengi buscar pequenas caixas de encomendadas.
Foram separadamente e pelo que Chico depreendeu enganavam as outras dizendo que
iam fazer coisas diferentes do havido.
Ao final dos noticiários. Das conversas na varanda até a
noite esfriar, cada uma se dirige para seus respectivos quartos com a pressa de
pesquisarem seus sites preferidos antes da perfeição ao deitar-se.
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