por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 21 de julho de 2013

PARLAMENTO OU REVOLUÇÃO? - por Pedro Antônio Lima Santos


 

É necessário reconsiderar algumas questões resultantes das manifestações populares de rua. Uma dessas questões é a violência latente, presente e expressa nessas manifestações. Outra questão é o próprio futuro das manifestações: continuar como manifestação, esgotar-se ou transformar-se.

Quanto à violência convém colocá-la em um contexto mais amplo. Pois, a violência, contrariando o sonho idílico dos que querem ver o brasileiro como um povo pacífico, já existia antes das manifestações e se encontra em um processo de crescimento e de expansão por todo o Brasil.

O tráfico e o consumo de drogas produzem, diariamente, cenas de violência (assaltos, espancamentos, assassinatos), que são divulgadas profusamente pelos meios de comunicação.

A violência do trânsito mata tanto quanto as guerrinhas entre países que andam por aí. Há a violência contra as mulheres, contra os idosos e crianças, contra os homossexuais e os negros (e até contra os nordestinos). Mutilações e mortes, sequestros, sequestro-relâmpago, estupros, explosão de caixas eletrônicos –a lista de violências parece interminável.

Mas, há também a violência do Estado, que se manifesta, por exemplo, nas balas-perdidas e balas-encontradas que matam cidadãos –velhos, adultos, jovens e crianças. O Estado age com violência nos processos de reintegração de posse e, mais recentemente, nas manifestações populares de rua. No passado também era assim.

Também há quem diga, às vezes, como um mero slogan, uma bandeira de luta ou uma figura de retórica, que a violência maior do Estado é manter a maior parte da população na pobreza e na miséria. De certo modo, essa violência histórica do Estado é, como diriam alguns, a mãe de todas as violências.

Embora se verifiquem ações violentas de massa e individuais em países sem pobreza e sem miséria (dir-se-ia que estes são elementos intrínsecos da sociedade capitalista), isso não chega a ser muito comum. Assim, acredita-se que uma população informada, assistida e respeitada, com saúde, educação, trabalho e segurança seria uma população pacífica e ordeira. Não há consenso sobre isso. Os assassinatos em série nos Estados Unidos da América e até na Europa (Noruega), as cenas de intolerância racial, sexual etc. desmentiriam aquele enunciado.

Mas isso não explica tudo ou não explica nada. Nada justifica a violência, nem do Estado contra as pessoas, nem das pessoas, nas manifestações populares de rua, contra a polícia e contra as propriedades.

O Brasil é um Estado democrático e de direito. As leis garantem aos cidadãos direitos de livre expressão e de manifestação, e o direito de ir e vir. Cabe ao Estado garantir a integridade das pessoas e das propriedades.

Aí alguém poderia dizer: -A lei só protege os grandes. Os pobres e os miseráveis são, sempre, os desprotegidos da lei. Neste caso, a solução é mudar as leis, aperfeiçoá-las; e mudar os políticos, escolhê-los melhor.

Isto nos remete à outra questão colocada no início dessas anotações: qual o futuro das manifestações populares de rua?

O Partido dos Trabalhadores teve sua origem, também, nas grandes manifestações de trabalhadores, no sindicalismo e em outros movimentos sociais. Quando participei de sua fundação, em Natal, havia o dilema entre adotar a via parlamentar ou seguir o caminho revolucionário. Muitos dos militantes que defendiam esse caminho saíram do Partido dos Trabalhadores e hoje integram partidos como o PCO, PSTU e PSOL…

Coube ao Partido dos Trabalhadores, a partir de 2002, inverter as prioridades nacionais para realizar uma agenda, que ataca a pobreza e a miséria (seculares), garantindo dignidade e cidadania para milhões de brasileiros.

Mas, hoje as manifestações populares de rua repudiam os partidos, os políticos e até a própria Política. Essas pessoas não se sentem representadas pelo Congresso Nacional, desconfiam dos Tribunais e temem a polícia. Então como encaminhar e realizar suas reivindicações –as transformações que almejam para o Brasil?

Parece pertinente, portanto, evocar, aqui, aquele antigo dilema entre a via parlamentar e o caminho revolucionário.

Os grupos que organizam as manifestações e as pessoas que fazem parte delas tenderiam a se institucionalizar, sob alguma forma de entidade ou até mesmo de partido político?

Ou permaneceriam convocando e realizando manifestações para divulgar suas reivindicações? Esta opção corre o risco de se esgotar com o tempo, por falta de organicidade e de objetivos claros.

Porém, se alcançar organicidade e conseguir definir com clareza os seus objetivos, poderia acenar com a perspectiva, digamos, revolucionária. Neste caso, prefiro acreditar que o conteúdo da palavra REVOLUCIONÁRIA explodiria em alguma forma, ainda não realizada, de democracia, onde a política, como o amor, diria respeito e seria praticada por todos os cidadãos.

Sei que as utopias desse tipo ou desapareceram ou andam escassas. Entretanto, um modo de tornar realizável a utopia de uma democracia radical, hoje reivindicada nas ruas, é defender e aperfeiçoar a temos.

 

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