por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 27 de junho de 2013

O CIÚME - José do Vale Pinheiro Feitosa

Nos final dos anos 60 as marchas continuavam encantado a MPB, as versões de músicas estrangeiras inundavam nossas rádios (depois perderam o pudor e passaram a dominar no original) e foi quando Caetano estourou com sua música tropicália. Juntando tudo isso uma dupla de cantores típica da Jovem Guarda, chamada Deny e Dino chupou o arranjo da Tropicália e ao sabor do tipo do Eu te amo meu Brasil gravaram esta canção chamada O Ciúme.


Para contribuir com a breguice de então e d´agora segue um discurso sobre o mesmo tema:

Desprezo maior que o desprezo,
A pupila opaca da indiferença
E aquele canto de olhar ao diferente,
Eis o ciúme.

Gelosia, jaloezie, jealousy,
Jalousie, gelosia, em catalão,
Alemão, inglês, francês ou italiano,
Do mesmo que Celos em espanhol,
O ciúme em português é ponta de punhal.

Mais do que apenas o medo da perda,
É a permanente iminência do perdido,
É o zelo com o fluido que some pelos dedos
A insuficiência pelas demandas do outro
O teu amor em busca de um novo ícone.

Se uma prova havia de tanto amor,
O ciúme que irrompe na alma,
Que apena cada ciclo da respiração
Corta em cacos de vidros a face dos pés,
Que até então rompia léguas pelo encontro,
Faz descer tempestades de dúvidas sobre a existência,
É a prova terminal da eternidade esgaçada.

E se em português entendes ser outra palavra,
Engana-te pois é a mesma que sentiam os romanos,
Se tanta gelosia do italiano a assemelhar-se a outras línguas   
O ciúme português originou-se igualmente daquele zalus latino,
Daquela ameaça amorosa, daquele desejo incontrolável de conter o outro.

Eis que os ciúmes corroem o coração,
Na mesma infiltração que vai até o mais íntimo,
Que inunda todo o conteúdo subterrâneo da mente,
E pinta com cores tinta de sangue os olhos inseguros,
Aquela ventania que inevitável apagará a chama frágil do amor,
Pois o ciúme é o mesmo que zelumen um derivado do latim zalus.

Eis que o nosso zelo tem a mesma origem grega,
Que expressava o ardor, emulação, ódio,
E então os latinos deram-lhe o formato de zalus,
Que é o nosso arrasador ciúme no mesmo diapasão,
Na mesma linha incomensurável do encontro,
Doar-se, abraçar-se, reproduzir, tornar-se sedentário,
Entrar sob o abrigo de um teto e a proteção de paredes.

O edifício erguido pelo amor se faz com pedras de zelo
E a argamassa do ciúme. 

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