Nos final dos anos 60 as marchas continuavam encantado a MPB, as versões de músicas estrangeiras inundavam nossas rádios (depois perderam o pudor e passaram a dominar no original) e foi quando Caetano estourou com sua música tropicália. Juntando tudo isso uma dupla de cantores típica da Jovem Guarda, chamada Deny e Dino chupou o arranjo da Tropicália e ao sabor do tipo do Eu te amo meu Brasil gravaram esta canção chamada O Ciúme.
Para contribuir com a breguice de então e d´agora segue um discurso sobre o mesmo tema:
Desprezo
maior que o desprezo,
A
pupila opaca da indiferença
E
aquele canto de olhar ao diferente,
Eis
o ciúme.
Gelosia,
jaloezie, jealousy,
Jalousie,
gelosia, em catalão,
Alemão,
inglês, francês ou italiano,
Do
mesmo que Celos em espanhol,
O
ciúme em português é ponta de punhal.
Mais
do que apenas o medo da perda,
É
a permanente iminência do perdido,
É
o zelo com o fluido que some pelos dedos
A
insuficiência pelas demandas do outro
O
teu amor em busca de um novo ícone.
Se
uma prova havia de tanto amor,
O
ciúme que irrompe na alma,
Que
apena cada ciclo da respiração
Corta
em cacos de vidros a face dos pés,
Que
até então rompia léguas pelo encontro,
Faz
descer tempestades de dúvidas sobre a existência,
É
a prova terminal da eternidade esgaçada.
E
se em português entendes ser outra palavra,
Engana-te
pois é a mesma que sentiam os romanos,
Se
tanta gelosia do italiano a assemelhar-se a outras línguas
O
ciúme português originou-se igualmente daquele zalus latino,
Daquela
ameaça amorosa, daquele desejo incontrolável de conter o outro.
Eis
que os ciúmes corroem o coração,
Na
mesma infiltração que vai até o mais íntimo,
Que
inunda todo o conteúdo subterrâneo da mente,
E
pinta com cores tinta de sangue os olhos inseguros,
Aquela
ventania que inevitável apagará a chama frágil do amor,
Pois
o ciúme é o mesmo que zelumen um derivado do latim zalus.
Eis
que o nosso zelo tem a mesma origem grega,
Que
expressava o ardor, emulação, ódio,
E
então os latinos deram-lhe o formato de zalus,
Que
é o nosso arrasador ciúme no mesmo diapasão,
Na
mesma linha incomensurável do encontro,
Doar-se,
abraçar-se, reproduzir, tornar-se sedentário,
Entrar
sob o abrigo de um teto e a proteção de paredes.
O
edifício erguido pelo amor se faz com pedras de zelo
E
a argamassa do ciúme.
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