- É o espírito animal do capitalismo meurmão?
- Pôra meu! Uma grana dessa eu faria uma reforma no meu bar
só para atrair a elite paulistana. Você ia vê só como o meu forró de final de
semana ia ficar!
- Setecentos pau não é tanta grana assim. É preciso
administrar.
- Achado não é roubado – os olhos se dirigem aos céus como a
pedir perdão antecipado por eventuais falhas da frase.
- E se der uma enxurrada e os bueiros vazarem espalhando
nota pela rua? Ia ser uma confusão igual ao “corre-corre” pelas balinhas no dia
das crianças.
Todos imaginam o acontecido não com os ladrões em fuga, mas o
deixado para trás dentro do esgoto segundo estimativa da polícia militar.
Aconteceu no correr da semana. Uma gangue, com a mesma “tecnologia” da toca de
minhoca do Banco Central em Fortaleza invadiu o cofre da Protege, empresa
transportadora de dinheiro.
Num labirinto de bueiros, se arrastando, furaram o cofre e
começaram a difícil lida de arrastar-se e caminhar com o esgoto na cintura
carregando fardos de dinheiro. Um ônibus com um fundo falso parou bem em cima
da tampa do bueiro e por este os fardos chegavam e abasteciam o piso do ônibus.
Seguranças da empresa viram pelo monitor de vídeo que
ladrões andavam pelo pátio e avisaram à polícia. Na aproximação do prédio, os
policiais notaram o ônibus de turismo parado e resolveram averiguar. O
motorista apavorado disparou, esmagou um companheiro que naquele exato momento
saía do bueiro para o piso do ônibus e na debandada geral deixaram o dinheiro
para trás, mais dois sujeitos envolvidos na ação foram mortos, outros presos e
a maioria fugiu.
Como as contas não fecharam. Faltavam setecentos reais, veio
a hipótese de que o dinheiro na debandada tenha sido abandonado nos esgotos.
Ninguém sabe é qual a realidade desse abandono. Se ele é uma desculpa para
encobrir a parte que coube aos policiais no botim sendo assim uma deixa para a
população criar fantasias. Ou será que faz parte do acerto do seguro? Nunca se
encontrará a resposta exata.
Mas algo já sugere um acerto: a Protege contraditoriamente
afirma que todo o dinheiro foi recuperado.
Aceitou o pagamento, digamos assim.
Quanto ao povo das ruas próximas têm uma boa lenda urbana
para continuar sonhando com aquilo que nunca chega: uma grana inesperada e
necessária a algum dos seus projetos.
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