Quando nos defrontamos com a variação cultural temos a
certeza de que a causa única (deus), responsável por todas as coisas, é uma parte
e não o todo. Na verdade nem tudo se resume a sistemas duais, um sim e um não,
uma probabilidade ou um determinismo, isso ou aquilo. Muito desta dualidade é
meramente uma arapuca da mente preguiçosa a repetir continuamente o mesmo de si
mesma.
Dada a natureza quase universal, a capilaridade com que se
infiltra na vida e principalmente a totalidade que abrande praticamente todas
as relações humanas, a moeda ou dinheiro se tornou uma verdadeira divindade monoteísta.
É o móvel único a executar relações públicas à vista de todos e a executar outras
escondidas ou clandestinas.
Claro que este Deus tem muito da natureza dos deuses gregos,
tem uma teogonia nos Estados Nacionais e seus pesos relativos são disputados
como o eram no Olimpo. Mas, descontadas as potências de cada deus, a dinâmica daí
em diante dirige toda a vida humana: o emprego, a renda, a guerra, a conquista,
o território e assim por diante. Por isso o Deus patriarcal dos Hebreus terminou
dando uma guinada histórica e retornando à dependência permanente e recíprocA entre
o Olimpo e Gaia.
Esta é uma visão catastrófica da história humana ou da desumanização
progressiva por dinâmicas universais e totalitárias a que os neoliberais
chamaram de globalização financeira. Na verdade o projeto de domínio e poder
absoluto não foi superado pela moderna democracia e a diversidade continua em
permanente crise e ameaçada por forças totalitárias no sentido político da
coisa à semelhança com a literatura de George Orwell em 1984 ao denunciar os
sistemas totalitários da Europa nos século XX (União Soviética, Alemanha,
Itália etc.).
A verdade é que o dinheiro evoluiu de uma situação de capilaridade
e da totalidade das relações humanas para a totalidade absolutista no sentido
político. Ontem assistindo a uma aula magna na Universidade Federal Fluminense
sobre modelagem da natureza com os fins de se criar um desenvolvimento
sustentável completou-me uma nova visão. A de que o Big Brother é uma realidade
em evolução e marchando não para o controle pelos Estados, mas pelas
corporações econômicas.
Todos lembramos aquele estudo Suíço realizado com as maiores
empresas quando se viu que o capital e as decisões estão sendo tomadas por um
núcleo duro muito restrito em relação ao conjunto. Isso despontando para o
poder absolutista ou totalitário. E agora como a evolução do papel moeda para o
dinheiro eletrônico os mecanismos estão se ampliando.
Hoje, um dos assuntos da moda em 2012, a mobilidade das
pessoas é monitorada, avaliada, modelada e são criados padrões de controle.
Controlados por quem? Pelas grandes corporações. Para se ter uma idéia de três
mecanismo imensos e que todos em fazemos sem crítica alguma: a telefonia móvel,
os cartões eletrônicos (débito e crédito) e as redes sociais na internet como o
Facebook.
Com a telefonia móvel estão criando modelos que tentam
controlar padrões que estariam na esfera da liberdade e da privacidade das
pessoas e submetendo-as à decisão de pessoas por trás dos modelos. Ao usar seu
telefone celular ele vai mudando de uma antena para outra de modo que é
possível rastrear os passos de uma pessoa para onde ela for desde que use o
celular. Ontem o professor dizia num tom “ético” que ao fazer estes estudos
eles não enxergam uma pessoa, mas isso é uma grande bobagem. Só existe uma
possibilidade de saber-se que este sinal que foi captado numa antena no Grajeiro
e quinze minutos depois em Juazeiro se o telefone for identificado. Pode não
ser a pessoa, mas certamente o assinante ou o dono do CPF está em questão.
Lembram daquele episódio do assassino do cartunista Glauco em São Paulo? O
assassino foi monitorado pelas antenas de celular. E o quê se dizer das
conversas de Toninho Cachoeira?
Quanto aos cartões eletrônicos é impressionante: identifica
mobilidade, ruas, cidades, países, o que se consome e quanto gasta. As
administradoras de cartões eletrônicos têm verdadeiros bancos de mineração de
dados para modelar padrões de consumo de cada cliente seu. Por isso existem
aqueles bloqueios e aqueles avisos para se comunicar com o administrador do
cartão. Agora é só refletir que isso é um salto para criar mecanismos de
controle e indução de consumo.
As redes sociais viraram uma festa popular a serviço do big Brothers.
Elas têm uma sintonia até mais fina sobre a vida. Elas têm as manifestações da
afetividade de cada um, as suas preferências, as emoções, as intenções, as
previsões e os “comportamentos” corriqueiros das pessoas. Quando as
brincadeiras, aquelas fotos de família, aquelas piadas, os comentários são
feitos, criam-se clusters comportamentais de grande utilidade em sistemas totalitários
de controle, manipulação e mobilização política das pessoas.
A liberdade e a discussão sobre a democracia se encontra
muito além dos velhos esquemas de pensar do passado século XX. É preciso quase
que esquecer os paradigmas e prestar a atenção para as mudanças naquilo que já
não corresponde às afirmativas de então. O mundo mudou. E muito. A vida é muito
diferente. E precisamos romper a preguiça com que a nossa própria inteligência
e conhecimento nos cegaram.
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