“Cria o teu
ritmo e criarás o mundo.”
Eu era
adolescente quando li esse verso de Ronald de Carvalho. Pareceu-me de imediato
uma chave para a poesia. Simples. Básico. Bastava-me criar o meu ritmo e eu
seria poeta. Fácil, não? Ainda hoje estou tentando criar o meu ritmo, falar com
a minha voz.
Há sempre um
outro por trás. Talvez meu outro eu. A minha máscara – essa que todo poeta usa.
Essa que, afinal, fala com a sua voz.
Dizem: o seu
estilo é inconfundível. E me confundem, se confundem, não me reconhecem no que
escrevo.
Como quando,
certa vez, eu era jovem ainda, mostrei um pequeno poema de Drummond a umas
amigas. Elas ficaram assim, assim. Como quem não sabia o que dizer. Então eu
disse: “É de Drummond.” “Ah, bom”, disseram.
Não era apenas
bom, o poema. Bom como eu não seria capaz de fazer. Tinha mais, tinha uma voz,
que não era a minha – mas se confundia com a minha em sua impessoalidade.
Impessoalidade.
Contento-me lembrando Gide: Estilo é não ter estilo. O estilo ideal é não se
denunciar por artifícios de linguagem, por enfeites, floreios, etc. A linguagem
ideal é a que parece de todo mundo. Nem se percebe que por trás há o homem.
Por trás há o
outro.
Um poeta só é
poeta quando descobre a própria voz, quando cria o seu ritmo.
O ideal é que
não se perceba o outro por trás.
Pouco importa
se não é reconhecido, se a sua voz parece a voz de todo mundo. Melhor ainda. Eu
é um outro, diria Rimbaud.
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