por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Plástica


O centro do Crato está de cara nova, amigos. Submete-se a uma Cirurgia Plástica. O procedimento ainda está em andamento. O início, como em qualquer ato operatório, é sempre aquele desconforto danado : trânsito caótico, logradouros bloqueados, ruas parcialmente fechadas. Tiradas as primeiras gazes e os primeiros esparadrapos, no entanto, o paciente parece risonho e satisfeito. E vejam que ainda faltam alguns Liftings e algumas Lipos.
As praças Siqueira Campos e São Vicente revestiram-se daquele ar provinciano de outrora e trouxeram, novamente, os cratenses para as rodinhas e o doce esporte de arremesso de conversa à distância. Sem a praça, amigos, não existe a fofoca, o noticiário oral e constante da vila, o malandro, o aposentado, o estudante, o menino travesso, o desocupado, o bêbado. E sem esses personagens e as notícias fabricadas pelas línguas no dia a dia, uma cidade não se pode assim considerar, perde a vitalidade : está mais para cartório e para arquivo público.
A meu ver, a mais importante plástica foi feita na Rua João Pessoa, a nossa querida Rua do Commércio. A avenida tinha sido simplesmente tomada de assalto pelos comerciantes. Apossaram-se dos estacionamentos, desfiguraram o casario , plantaram placas enormes e horríveis, invadindo o espaço público e dificultando o tráfego das pessoas. Não bastasse isso , como grileiros, solaparam as calçadas com artigos, carrinhos de carrego , cadeiras e mesas. A reforma , inteligentemente, ampliou as calçadas , plantou banquinhos nas laterais, canteiros e reintegrou a posse dos estacionamentos ao povo, com a criação da Faixa Azul. Não descuidou , ainda, da acessibilidade e refez o calçamento de maneira artística e pragmaticamente duradoura. No final, por incrível que possa parecer, serão as lojas comerciais as primeiras beneficiadas, com um fluxo mais constante e menos desimpedido de fregueses.
Alegra-me quando vejo o Estado cumprir sua função reguladora, pensando primeiramente no bem-estar dos cidadãos. Procedemos de maneira contrária ao crime cometido contra a cidade, anos atrás, no alargamento da Miguel Limaverde, quando se destruiu a rua mais bonita do Crato com o fito único e absurdo de facilitar o trânsito dos carros . Como se o mais importante fossem os veículos e não os cidadãos com sua história.
A praça é o coração de uma cidade e as ruas, amigos, são suas veias e artérias: por elas correm o vívido sangue da vila. Se se reparar bem, as praças e as ruas estão imantadas de vida e poesia. Como dizia João do Rio: “Há suor humano na argamassa dos calçamentos”. O Crato não adquiriu apenas com um novo visual: está com veias e coração novos.

J. Flávio Vieira

4 comentários:

socorro moreira disse...

Achei tudo mais bonito depois desta leitura.
Meu Deus como é gostoso ler este arquiteto das letras!


grande abraço

socorro moreira disse...

Achei tudo mais bonito depois desta leitura.
Meu Deus como é gostoso ler este arquiteto das letras!


grande abraço

jflavio disse...

Beijo pra Socorro! Mas num ficou mesmo legal?

Ângela Lôbo disse...

É mesmo motivo de alegria ver o Estado cumprindo sua função reguladora. O que se espera, agora, é que a população faça a sua parte, ajudando a preservar o patrimônio público, já que o ambiente equilibrado é resultado das atitudes diretas do ser humano. Está na hora de iniciar uma campanha de educação para que não jogar lixo na rua se torne um hábito de todos.