Gosto muito de café. Não me importo com as estatísticas de saúde sobre o seu consumo, em que, ora faz bem para o coração, ora é nocivo para o sistema nervoso... Apenas observo os meus sintomas. Gosto do sabor, do cheiro, da temperatura e das lembranças que me acorrem ao saborear um bom cafezinho. Lembro-me, por exemplo, do “telecoteco“ da colher batendo no bule toda manhã, quando meu pai adoçava o café iniciando a jornada diária. E o aroma que exalava pela casa acordando a todos com a sensação de segurança, de que tudo está bem. Gosto especialmente daquele cafezinho bebido ao pé do balcão, onde apoio o cotovelo e observo a fumaça subindo da xícara e anunciando seu sabor. Uma conversa casual com o vizinho de balcão, sobre o tempo ou alguma notícia recente. Ou mesmo em silêncio ouvindo fragmentos das conversas, alheio aos assuntos.
Estive hoje andando pelas ruas do Crato, depois de uma ausência de quase um ano e, passando pelo calçadão, me lembrei com saudade do Cinelândia, onde saboreei incontáveis cafezinhos acompanhados da prosa espontânea e circunstante. Não que eu tenha me conformado com a derrubada daquele prédio histórico, mas há situações em que nada podemos fazer. Segui, então em direção à praça Siqueira Campos onde poderia saborear o gostoso café servido no Café Crato. Quem gosta de café sabe o que é a vontade de tomar um cafezinho. As papilas gustativas, antes mesmo do contato com o saboroso líquido, salivam de prazer em expectativa. Ali, no Café Crato, pude me deliciar inúmeras ocasiões, com a alegria deste hábito: beber um café e confabular gostosamente com os amigos. Mas qual o quê? Quando meu paladar já anunciava o sabor preso na memória, tive um espanto. Fiquei pasmo! Boquiaberto e triste como um viúvo diante da surpresa inevitável... No lugar do Café, encontrei uma agência bancária.
Por João Nicodemos.
Foto do acervo de Ivens Roberto de Araújo Mourão
Um comentário:
Sentimento igual ao de muitos...
Eu que não gosto de café, procuro na lembrança, um cheiro da cidade perdido(a).
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