Certa vez, um pássaro pousou no galho de uma enorme árvore, numa floresta. Em seu bico, carregava uma pequena semente que, por um descuido, deixou cair lá de cima. A pequena semente, ao cair, se chocou contra o chão e, meio atordoada, procurou refazer-se do susto. Em seguida, ainda assustada, olhou para a árvore imensa, e disse:
– Senhora árvore, por favor, me ajude. Eu não sei me defender. Tenho medo de ser comida e morrer. Vejo que a senhora é muito alta, forte e experiente.
Então, a árvore respondeu, dizendo:
– Querida semente, tu és muito pequenina, mas não tenhas medo, que farei balançar os meus galhos de modo a saltar algumas folhas sobre ti, e assim estarás salva dos predadores que existem nessa floresta. Eu tenho mais de um século de experiência.
E assim fez se balançar, e várias folhas caíram sobre a semente, de tal forma que ainda sobrou um pequeno buraco para ela respirar e olhar para a grande árvore. A semente agradeceu, dirigiu-se novamente à árvore, e disse:
– Puxa vida, cem anos! Por favor, gostaria que me dissesse como é ser um dia uma árvore grande, forte e bonita, como a senhora!
A árvore, com muita doçura, respondeu:
– Querida semente, és muito pequenina ainda para compreender essas coisas. Mas, mesmo assim, direi algo de instrutivo. Eu sou uma espécie de árvore entre milhares e milhares que existem por aí, na floresta. Todas – inclusive tu serás também assim, um dia! – são constituídas de três partes básicas: a raiz, o tronco e a copa. Todas elas têm um duplo crescimento: um em direção às profundezas do chão, e o outro em direção ao firmamento do céu.
Em outras palavras, uma parte tua estará enraizada na escuridão do mundo do chão-terra, e a outra estará buscando luz, energia e claridade na imensidão do cosmo. Somos assim, ou seja, temos dois impulsos de crescimento. Um nos puxando para baixo, e o outro nos puxando para cima. Essa situação nos põe em conflito, porque são duas forças que nos remetem para lados opostos. O mundo do chão é escuro, às vezes úmido, às vezes seco, muitas das vezes duro, sofrido e bastante concreto. Esse crescimento é a base de nossa estrutura física. Por isso, temos que escolher com cuidado e prudência as substâncias e os alimentos que a natureza desse mundo nos oferece.
Terás momento de fome, sede, calor, frio e solidão. À noite, ficarás no escuro, e de dia serás aquecida pelo Sol; no verão, serás alagada pelas águas da chuva; no inverno, serás coberta de neve. O cupim e o homem são os nossos maiores predadores, por isso, não guarde teu tesouro na terra, guarde-o no céu. Mas, não te preocupes, porque o nosso Criador nos fez com sensibilidade para nos protegermos, e selecionarmos as coisas sem errar.
Nada é dado, mas tudo é conquistado com perseverança e mérito. O teu esforço pessoal é o caminho para a tua fortaleza no mundo interior do chão. Nunca te esqueças de cuidar da parte superior da copa, que te liga ao mundo transcendente do céu. Ela é extremamente importante, tanto quanto a parte de baixo da raiz. Terás um desafio muito grande, que é alimentar a tua raiz, fortalecendo-a cada dia, e ao mesmo tempo voltar-te constantemente para a luz transcendente do Sol da vida. Agradece sempre esse aprendizado, porque é uma lei da vida criadora.
Terás momentos difíceis e penosos, principalmente quando a espécie humana se aproximar de ti. Muitos deles perderam a sensibilidade, e não nos enxergam como uma parte sagrada da mãe natureza, mas como meros objetos para as suas riquezas egoístas. E mesmo que os homens te ataquem com serras, martelos, foices e palavras de ordem agressiva, entende que a tua missão é servir e morrer em vida dando sombras, frutos, alimentos, abrigos e água em tuas raízes.
A vida é uma árvore que deverá dar bons frutos; os homens são árvores também. Muitos deles vivem apenas dentro do chão, na escuridão, e não percebem o valor da copa e da luz do céu. Um dia, o homem perceberá, um pouco tarde, que o mal está na raiz. Nesse dia, novas sementes crescerão orientadas pelo céu de um novo tempo.
Aceita ser transformada no altar da vida: é a Lei!
Bernardo Melgaço
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