Ele gostava sempre de dizer que nascera em um primeiro de abril, mas que não era de mentira. Esse primeiro de abril foi no ano de 1902.
Assim, todos os anos, nessa data, desfilava em carro aberto pela Rua da Carioca comemorando seu aniversário, para mostrar que estava vivo.
Seu nome : Antônio Moreira da Silva, que se tornou conhecido como MOREIRA DA SILVA – O Tal, cognome que lhe deu César Ladeira ao levá-lo para a Rádio Mayrink Veiga, em 1937, depois de descobri-lo no Cassino Atlântico.
Antes de ingressar no rádio, cantava música romântica em bares e bailes, o que hoje parece impossível ter acontecido com o sambista que incentivou sua carreira cantando sambas de breque. Não foi o criador desse estilo de cantar (Luiz Barbosa, também da Mayrink, já o fazia, mas com pequenas frases.)
Foi no Teatro Méier, interpretando o samba “Jogo Proibido” que interrompeu a música e “desfilou” seus breques, entusiasmando a platéia e fazendo-o adotar o estilo até o fim de suas apresentações aos 96 anos , em 1998.
Não foi o cantor que mais gravou, mas foi o que cantou durante mais tempo. Afinal, viveu 98 anos , lúcido até o fim.
Sua primeira gravação foram dois pontos de macumba: “Ererê” e “Rei da Macumba”, em 1931, na Odeon. Mas seu primeiro sucesso foi o samba “Arrasta a Sandália”, em 1932.
Em 1935 outro grande sucesso:”Implorar”,de Kide Pepe e Germano Augusto.
Já sendo um nome conhecido, em 1938 foi a Portugal, ali tomando parte em um filme de nome “A Varanda dos Rouxinóis”, de Leitão de Barros.
Regressando ao Brasil no mesmo ano, voltou à Mayrink, indo depois para a Rádio Tupi.
Em 1940 e 1941 dois sambas “estouraram”:
“Etelvina, acertei no milhar
Ganhei quinhentos contos,
Não vou mais trabalhar... “
E
"Amigo Urso, saudações polares,
Ao leres esta, hás de te lembrares"
Ele a regravou, corrigindo o “português” assim:
"Amigo Urso,saudação polar
Ao leres esta, hás de te lembrar"
A primeira gravação foi recolhida e, quem a adquiriu, ficou com uma raridade.
Dois sambas foram sua marca em 1952: “Olhe o Padilha” e “Na Subida do Morro”.
Padilha era um delegado “durão” que não admitia certas “intimidades” na rua e mandava prender quem as cometesse.
Moringueira, brincalhão, gravou o samba que “estourou” como um dos maiores sucessos daquele ano.
Seu primeiro LP, já nos anos 60, recebeu o nome de “O Último dos Malandros” e em 1963 gravou uma série de composições de Miguel Gustavo, lançados em um LP, aberto com “O Último dos Moicanos”.
Em outros LPs gravou Noel Rosa com “Conversa de Botequim”; regravou “Acertei no Milhar”, alterando sua letra para “ 500 cruzeiros” ao invés de 500 contos e regravou, ainda, “Na Subida do Morro”.
Em 1979, convidado por Chico Buarque, fez parte de um LP com o nome de “A Ópera do Malandro” na qual, em dueto com Chico, gravou “Meus 12 Anos”.
Em 1980, viajou pelo Brasil com o “Projeto Pixinguinha”; em 1989 lançou um LP denominado “ 50 Anos de Samba de Breque” e, em 1992, foi homenageado pela Escola de Samba “Unidos de Manguinhos” com o samba-enredo “Moreira da Silva-90 Anos de Samba”.
Com Dicró, e Bezerra da Silva gravou um LP de nome “Três Malandros in concert”, numa sátira aos “Três Cantores in concert”, com Pavarotti e Cia.
Ainda, em 1995 teve fôlego para se apresentar no Projeto Seis e Meia do Teatro João Caetano.
E em 1998 num LP de nome “Brasil são Outros 500”. encerrou sua carreira com “Amigo Urso”.
Ele dizia que viveria 100 anos, mas a morte o levou em 6 de junho de 2000, aos 98.
Norma
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