No Brasil, independentemente da formalização oficial e solene de qualquer ato de vinculação partidária, lamentavelmente o adentrar na arena política olvida e deturpa a nobreza do conceito grego sobre (“algo relacionado com grupos sociais que integram a Pólis”), porquanto prevalece a “individualidade”, que objetiva, dentre outros: a) a almejada “ascensão social”; b) o “adquirir status”; c) a materialização de um “bom emprego”; d) a obtenção de um “rentável meio de vida”: e) uma maneira de “se fazer” na vida dentro de um tempo relativamente curto: f) o “beneficiar-se” de informações privilegiadas: g) o descobrir o “caminho das pedras”; h) o aposentar-se prematuramente, faturando o que o “mortal comum” jamais conseguirá (e o povo que se “phoda”).
Nos dias atuais, o exemplo emblemático e pulsante de tal “modus operandi” pode ser vislumbrado em duas figuras que, aparentemente distantes uma da outra, sem qualquer escrúpulo adotaram-no e estenderam-no à família: Jair Bolsonaro (o 00) e seus “filhos-numerais” (01, 02 e 03) estão aí mesmo pra comprovar, porquanto já há décadas mamando nas tetas do governo e sem nada produzirem para o país: na outra ponta, o falastrão papo-furado Ciro Gomes, que conseguiu “empregar” na política todos os irmãos, além da ex-mulher (hoje com “emprego vitalício” de Conselheira do Tribunal de Contas do Estado).
Assim, as vagas postas à disposição pelos partidos políticos a cada pleito são disputadas praticamente “no grito”, ou mesmo via acordos não tão edificantes ou dignos de respeito, firmados entre quatro paredes.
Sob essa ótica, não deveria constituir-se nenhuma surpresa a divulgação da notícia de que muitas prefeituras do Ceará estejam na mira do Ministério Público, porquanto os respectivos gestores sob suspeição de envolvimento em portentosas falcatruas em processos licitatórios diversos.
E, no entanto, uma visão retrospectiva da história nos mostra que essa condenável e nefasta prática não é nenhuma novidade no Brasil, vez que alguns cidadãos tidos e havidos como respeitáveis, íntegros e austeros, não se negaram, quando tiveram oportunidade de exercer um cargo público, de se locupletar, furtiva ou descaradamente.
Quem não lembra, por exemplo, do herói da infância de todos nós, do intelectual brasileiro respeitado em todo o mundo, do brilhante e inconteste tribuno capaz de nos deixar boquiabertos e de queixo caído, do autor de edificantes e memoráveis peças e discursos versando sobre a ética, a moralidade, o apego à nacionalidade, o bem-querer, o respeito, a honestidade, o ser digno e outros predicados – o nosso RUI BARBOSA, o “Águia de Haia” ???
Pois bem, a “FACE OCULTA” do Rui Barbosa, o lado obscuro de sua personalidade, a nódoa que manchou definitivamente o seu currículo deu-se exatamente quando adentrou a arena política. É que, convidado por Deodoro da Fonseca pra ser seu “homem de confiança”, o guardião da chave do cofre, o responsável operacional do governo, a figura que moralizaria sua administração (espécie de primeiro-ministro e ministro da fazenda a um só tempo), Rui Barbosa simplesmente meteu os pés pelas mãos, apropriou-se do dinheiro público, traficou influência até não mais poder, roubou descaradamente o erário, beneficiou amigos com os quais mantinha negócios particulares, corrompeu tantos outros e, enfim, saiu do governo “podre de rico” (e nada disso consta dos livros de história, obviamente)
Em suma, se no setor privado reconhecidamente tivemo-lo como um dos nossos grandes intelectuais, uma figura da qual só tínhamos que nos orgulhar, na vida pública Rui Barbosa revelou-se um “pilantra” de marca maior, um “desonesto até a medula”, um “surripiador” em potencial do que não era seu (enfim, um Aécio Neves da vida).
Tivéssemos àquela época uma mídia “fuçadora” e expedita como o é a de hoje, bem como uma Polícia Federal diligente e objetiva, certamente a história seria contada de uma outra forma, em uma outra versão.
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