Porque concordamos em gênero, número e grau, postamos o texto de Rubens Alves, à reflexão de todos os que não se deixam manipular por essa farsa chamada "religião" (católica, protestante, evangélica e por aí vai).
José Nilton Mariano Saraiva
*******************************
EU NÃO TENHO RELIGIÃO.
Não vou a igrejas, não participo de rituais,
não acredito nos seus dogmas. Preciso não ter religião para amar a Deus sem
medo, com alegria e, principalmente, sem nada pedir. NÃO TENHO RELIGIÃO PORQUE NÃO CONCORDO COM AS COISAS QUE ELAS DIZEM DE
DEUS. Deus é um Grande Mistério. Está além das palavras. Diante do
Grande Mistério a gente emudece. Fica em silêncio.
Discordo a partir do pronome “ele”.
DEUS “ELE”,
MASCULINO ? ONDE FOI QUE APRENDERAM SOBRE O SEXO DE DEUS ? DEUS TEM SEXO ? SE
TEM SEXO, POR QUE NÃO “ELA”, DEUS MULHER ? Como a mulher do Cântico dos Cânticos? A
IGREJA CATÓLICA NÃO CONHECE A MULHER. CONHECE APENAS A “MÃE” QUE FOI MÃE SEM TER
SIDO MULHER.
DEUS, por que não uma flor, a mais perfumada?
Por que não um mar sem fim onde a vida navega? Místicos houve que disseram que
Deus é uma criança que nos convida a brincar... Mas pode ser também que Deus
seja música, como pensaram os místicos pitagóricos.
Ter uma religião é falar as palavras sagradas
daquela religião e acreditar nelas. As religiões se distinguem e se separam:
pelas diferenças das palavras que usam para se referir ao sagrado. Se elas nada
falassem, se houvesse apenas o silêncio diante do Grande Mistério, a Babel das
religiões não existiria. Diante do Grande Mistério apenas uma palavra é
permitida, a palavra poética, porque a poesia não o diz, mas apenas aponta para
ele. O Grande Mistério está além das palavras.
Só tenho uma religião, ela se chama poesia.
Por isso, amo a Cecília Meireles, sacerdotisa profana, que quando queria se
referir a Deus falava sobre um mar sem fim, misterioso e selvagem. Quem em
silêncio contempla o mar sem fim ouve vozes em meio ao barulho das ondas. Também
Fernando Pessoa sabia disso. Mas, prestando bem atenção, é possível ver, a voar
sobre o mar sem fim, um pequeno pássaro que canta: “Leve é o pássaro, e a sua
sombra voante, mais leve. E a cascata aérea de sua garganta, mais leve. E o que
lembra, ouvindo-se deslizar seu canto, mais leve...”
Os
poetas escrevem em transe: não sabem sobre que estão escrevendo. Faz muitos
anos, escrevi um livro para minha filha. Ela tinha 4 anos. Eu iria fazer uma
demorada viagem pelo exterior e ela ficou com medo de que eu morresse e não
voltasse. Apareceu-me, então, uma estória, A menina e o pássaro encantado.
Resumida, era assim: era uma vez uma menina
que amava um pássaro encantado que sempre a visitava e lhe contava estórias; o
pássaro a fazia imensamente feliz. Mas sempre chegava um momento quando o
pássaro dizia, “tenho de ir”, a menina chorava porque amava o pássaro e não
queria que ele partisse. Menina, disse-lhe o pássaro, aprenda o que vou lhe
ensinar:
EU SÓ SOU ENCANTADO POR CAUSA DA
AUSÊNCIA. É NA AUSÊNCIA QUE A SAUDADE VIVE. E A SAUDADE É UM PERFUME QUE TORNA
ENCANTADOS A TODOS OS QUE O SENTEM. QUEM TEM SAUDADES ESTÁ AMANDO. TENHO DE
PARTIR PARA QUE A SAUDADE EXISTA E PARA QUE EU CONTINUE A AMÁ-LA, E VOCÊ
CONTINUE A ME AMAR...”.
E partia. A menina, sofrendo a dor da
saudade, maquinou um plano: quando o pássaro voltou e lhe contou estórias e foi
dormir, ela o prendeu numa gaiola de prata dizendo: “Agora ele será meu para
sempre”. Mas não foi isso que aconteceu. O pássaro, sem poder voar, perdeu as cores,
perdeu o brilho, perdeu a alegria, não mais tinha estórias para contar. E o
amor acabou. Levou tempo para que a menina percebesse que ela não amava aquele
pássaro engaiolado. O pássaro que ela amava era o pássaro que voava livre e
voltava quando queria. E ela soltou o pássaro que voou para longe. A ESTÓRIA
TERMINA NA AUSÊNCIA DO PÁSSARO E A MENINA SE ENFEITANDO PARA A SUA VOLTA.
Minha intenção, ao escrever esta estória, era
simples: consolar a minha filha. Mas quando foi publicada ganhou um sentido que
não estava nas minhas intenções: começou a ser usada em terapia, com casais
possuídos pela ilusão de que, engaiolado, o amor seria posse eterna.... Desde
então passei a presentear noivos com uma gaiola da qual eu arrancava a porta.
Mas, passado algum tempo, uma pessoa me disse: “Que linda estória você escreveu
sobre Deus!” “Sobre Deus ?”, eu perguntei sem entender. “Sim”, ela me
respondeu. “O PÁSSARO ENCANTADO NÃO É DEUS ? E AS GAIOLAS NÃO SÃO AS
RELIGIÕES, NAS QUAIS OS HOMENS TENTAM APRISIONÁ- LO ?”
Aprendi, então, da minha própria estória,
algo que não sabia: Deus como um Pássaro Encantado que me conta estórias. Amo o
Pássaro. Odeio as gaiolas. O Pássaro Encantado não pousa em galhos para cantar.
Não é possível fotografá-lo. Canta enquanto voa. Dele, o que temos é apenas a
sua leve sombra voante e a cascata aérea de sua garganta... Quando ouço o seu
canto, ele já passou. Só é possível vê-lo em seu voo, por trás. Vai-se o
Pássaro. Fica a memória do seu canto.
Um pássaro voando é um pássaro livre. Não
serve para nada. Impossível manipulá-lo, usá-lo, controlá-lo. Pássaro inútil. E
esse é, precisamente, o seu segredo, a sua inutilidade; ele está além das
maquinações dos homens. Sua única dádiva é o seu canto. Só faz um milagre, um
único milagre: quando, chorando, lhe peço “Passa de mim esse cálice”, ele canta
e o seu canto transforma a minha tristeza em beleza. Por isso eu nada lhe peço.
Sei que ele não atende a pedidos. O seu canto me basta: ao ouvi-lo
transformo-me em pássaro. E voo com ele...
MAS AÍ VÊM OS HOMENS COM AS SUAS
ARAPUCAS E GAIOLAS CHAMADAS RELIGIÕES. E cada uma delas diz haver conseguido
prender o Pássaro Encantado em gaiolas de palavras, de pedra, de ritos e magia.
E cada uma delas afirma que o seu pássaro engaiolado é o único Pássaro
Encantado verdadeiro…
Por que prenderam o Pássaro? Porque o seu
canto não lhes bastava. Não lhes bastava a beleza. Na verdade, não o amavam. O QUE OS HOMENS DESEJAM NÃO É A BELEZA DE
DEUS. O QUE ELES DESEJAM É MANIPULAR O SEU PODER. O que eles querem é o
milagre. O canto do pássaro poderia lhes dar asas para voar. Mas não é isso que
querem. O que desejam é o poder do pássaro para continuar a rastejar: Deus,
transformado em ferramenta. Ferramenta é um objeto que se usa para se atingir
um fim desejado. Assim são os martelos, as tesouras, as panelas... O QUE AS
RELIGIÕES DESEJAM É TRANSFORMAR DEUS EM UMA FERRAMENTA A MAIS. A MAIS PODEROSA
DE TODAS.
A ferramenta que realiza os desejos. Como o
gênio da garrafa. POIS NÃO É ISSO QUE É
O MILAGRE, A REALIZAÇÃO DE UM DESEJO POR MEIO DA MANIPULAÇÃO DO SAGRADO ? Só é canonizada santa uma pessoa que realizou
milagres: o milagre é o atestado do seu poder para manipular o divino.
E é assim que as religiões se multiplicam,
porque os desejos dos homens não têm fim, e os seus santuários se enchem de
santos de todos os tipo. Os santos milagreiros são nossos
despachantes espirituais, todos eles a serviço dos nossos desejos, atenderão
nossos desejos a preço módico, se rezarmos a reza certa e prometermos publicar
o milagre em jornal, e pela televisão se anunciam fórmulas, sessões de
descarrego, águas bentas milagrosas, exorcismo de demônios, os DJs de cada
religião têm uma música na fala que lhes é própria…
Assim, a poesia do canto do Pássaro Encantado
se transforma em manipulação do pássaro engaiolado. E não percebem que aquele
pássaro que têm dentro de suas gaiolas não é o Pássaro Encantado, que não se
deixa engaiolar, porque é como o vento, e voa como quer, e tem uma única dádiva
a oferecer aos homens: a beleza do seu canto.
À TRANSFORMAÇÃO DA POESIA EM
MANIPULAÇÃO MILAGREIRA OS PROFETAS DERAM O NOME DE IDOLATRIA...
Nenhum comentário:
Postar um comentário