por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 27 de abril de 2015

OS DEUSES GRITARAM - José do Vale Pinheiro Feitosa

O Deus à imagem e semelhança do homem é pura psicologia humana. E não é à toa que fosse entendido na região do mundo afeta à agricultura e à pecuária. Pastores e agricultores necessitam de ordem para cumprir as fases das plantas e do rebanho. A ordem patriarcal é uma forma e por isso o monoteísmo tende ao Deus Pai.

Os deuses naturais refletem toda a relação temporária, intempestiva e incontrolável dos indivíduos e grupos com os fenômenos planetários e terrestres, que envolvem atmosfera, terra, água e a luz solar. Onde se diz adense-se no monoteísmo no outro se diz disperse-se pois muitos se salvarão das iras dos deuses.  

E assim minha perplexidade frente ao terremoto no Nepal, com mais de 3.700 mortos, 60 mil feridos, desaparecidos, soterrados, montanhas de escombros. Falta de recursos de sobrevivência, pessoas isoladas a serem resgatadas, vias incomunicáveis, levas humanas em fuga dos tremores secundários e em busca de sobrevivência onde os recursos faltam.

Em março do ano passado estive no Vale de Katmandu, viajei por terra até a fronteira da China (na região do Tibete). O vale é denso de população. Uma época seca, o rio sagrado Bagmati era, então, um esgoto fétido e cheio de lixo, as pessoas costumavam usar máscaras de pano devido à poeira levantada pelo trânsito nas ruas.

Esta densidade está na raiz do desastre. O Vale de Katmandu fica exatamente nos limites da placa indiana e eurasiana, aquelas mesmas que, em choque, formaram o Himalaia. Uma região de grande risco de abalos sísmicos não deveria concentrar gente, como os deuses naturais revelaram.

Os animais, incluindo os humanos, recebem recados de que os desastres estão por acontecer. Recados históricos como este aspecto da junção de gente à beira de rios, oceanos, em montanhas, em locais de possíveis desastres. Mas recebem recados da própria natureza.

Estudo recente demonstra que animais pressentem um iminente terremoto. Quando as placas tectônicas começam a se atritar existe ionização das camadas mais altas da atmosfera que afetam o comportamento dos animais. Os humanos ficam agitados e confusos, mas não têm condições de mudar suas vidas imediatamente.

As agências de notícias dizem que o Nepal foi avisado por estudiosos que um terremoto era iminente. Até mesmo o Primeiro Ministro nepalês mostrou preocupação exatamente sobre este aspecto há poucos dias. No entanto o desastre do povo vivendo em prédios sem estrutura para abalos e correndo atrás da vida não pode ser evitado. A realidade do povo não pode ser modificada. Apenas o desastre, a morte e destruição podem acontecer.  

E por isso mesmo um dos destaques das matérias do jornalismo ocidental, profundamente comercial foi a morte de um executivo da Google na base do Everest. Fotos do jovem executivo, à frente de dois companheiros, com óculos espelhados, manchas branca nas maçãs do rosto e um porte destemido e enfrentador.

Um olhar de executivo de grande sucesso. Que tem uma performance descomunal no mundo aleatório da acumulação. Que precisa mostrar alto impacto a quem aposta em seus negócios. O olhar de desafio que precisa ser mantido para que o seu mito se mantenha visível na constelação das grandes estrelas da Bolsa Nasdaq.


Os deuses naturais avisam bem.

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