Feita da farinha do “teff”
fermentada, com a troca de três águas, a “injera” é na prática assada numa grande e redonda forma de cerâmica
sobre o fogo e tampada a maior parte da cocção. A matéria prima do fogo pode
ser o carvão, lenha, gravetos ou fezes seca de gado.
Nos restaurantes populares e no sofisticado Yod Abissinica de
Adis Abeba a injera é servida à moda
tradicional, com porções de carnes, legumes, cereais, molhos, pãezinhos feitos
com a farinha do teff. Come-se com as
mãos, pegando pedaços da injera junto
com porções de suas coberturas. Se você é uma pessoa de consideração para o
anfitrião, ele pode até pegar uma porção e servi-la em sua boca.
Na velocidade do asfalto deslizado o Sami traduziu todas as
lembranças dos já vividos e os desejos dos desconhecidos. Estancou a bota de
sete léguas bem no centro de uma vila. Onde o povo vivia como é de cada dia.
Sem teatro, apenas o discurso de sua história e tradição.
Do outro lado da pista, entre as casas de taipa uma fumaça
com gente em volta. Sami nos transportou para a intimidade da vila. Onde se
assava a injera. Todos os seus
passos, toda a sua arte, seu modo paciente e andante, lento desnovelar processo
de ser. Uma vila da Etiópia. Mesmo que à beira do asfalto.
E aquelas máquinas de filmar. Fotografar. Aquela pele,
aquela cor de cabelos, aquelas roupas, a curiosidade em forma de uma gente
estranha entrou na roda da injera sendo
assada. Parte importante da vila veio para conhecer aqueles modos, aquelas
maneiras de se apresentar, olhando-os repetidamente através das lentes de vidro
de máquinas silenciosas.
Com alguma interação por certo. De curiosidade recíproca. De
um lado é possível que tenham sobrado algumas conversas, comentários e vagas e
fugidias lembranças. Do outro lado ficaram gravadas estas imagens. As imagens
que podemos repetir milhares de vezes.
Fazer um eco duradouro até não se sabe quando, mas por certo
duradouro, daquele breve momento onde toda a força de um povo se comprovou como
forma de imagens em movimento e instantâneas. Talvez tão duradoura sejam quanto
a certeza de assar outras injeras e
junto aos seus fazer uma refeição coletiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário