por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 25 de março de 2015

"INJERA" - José do Vale Pinheiro Feitosa

Feita da farinha do “teff” fermentada, com a troca de três águas, a “injera” é na prática assada numa grande e redonda forma de cerâmica sobre o fogo e tampada a maior parte da cocção. A matéria prima do fogo pode ser o carvão, lenha, gravetos ou fezes seca de gado.

Nos restaurantes populares e no sofisticado Yod Abissinica de Adis Abeba a injera é servida à moda tradicional, com porções de carnes, legumes, cereais, molhos, pãezinhos feitos com a farinha do teff. Come-se com as mãos, pegando pedaços da injera junto com porções de suas coberturas. Se você é uma pessoa de consideração para o anfitrião, ele pode até pegar uma porção e servi-la em sua boca.

Na velocidade do asfalto deslizado o Sami traduziu todas as lembranças dos já vividos e os desejos dos desconhecidos. Estancou a bota de sete léguas bem no centro de uma vila. Onde o povo vivia como é de cada dia. Sem teatro, apenas o discurso de sua história e tradição.

Do outro lado da pista, entre as casas de taipa uma fumaça com gente em volta. Sami nos transportou para a intimidade da vila. Onde se assava a injera. Todos os seus passos, toda a sua arte, seu modo paciente e andante, lento desnovelar processo de ser. Uma vila da Etiópia. Mesmo que à beira do asfalto.

E aquelas máquinas de filmar. Fotografar. Aquela pele, aquela cor de cabelos, aquelas roupas, a curiosidade em forma de uma gente estranha entrou na roda da injera sendo assada. Parte importante da vila veio para conhecer aqueles modos, aquelas maneiras de se apresentar, olhando-os repetidamente através das lentes de vidro de máquinas silenciosas.

Com alguma interação por certo. De curiosidade recíproca. De um lado é possível que tenham sobrado algumas conversas, comentários e vagas e fugidias lembranças. Do outro lado ficaram gravadas estas imagens. As imagens que podemos repetir milhares de vezes.


Fazer um eco duradouro até não se sabe quando, mas por certo duradouro, daquele breve momento onde toda a força de um povo se comprovou como forma de imagens em movimento e instantâneas. Talvez tão duradoura sejam quanto a certeza de assar outras injeras e junto aos seus fazer uma refeição coletiva. 


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