Um dia tomamos conhecimento de um lugar. Diferente. De tudo
que temos como realidade. Assim como os contos das mil e uma noites. Chegando
até nós pelos arcos dos palácios, entre as alamedas dos jardins internos, esgueirando-se
através dos muros e saindo pelas amplas trilhas dos desertos.
Muitas noites em torno de brasas a fazer chá. Muitos sóis
queimando todo o movimento das possibilidades, reduzindo-as a um silêncio
introspectivo das caravanas abrasadas. Através o ermo até chegar ao destino com
sua preciosa mercadoria.
A mercadoria da história. Chegando à porta daquele lugar,
que agora sabemos ser Harar a capital muçulmana. A quarta mais importante
cidade do Islã, após Meca, Medina e Jerusalém. E escolhido um entre cinco dos
seus portões que representam as virtudes do Islã.
Escolhido e penetrado no burburinho do mercado interno.
Contemplando suas mesquitas. As madraçais onde as crianças aprendem sobre as
trilhas da terra e dos céus. Deixado
suas novidades nos depósitos, ido até Alá e prestar-lhe conta de seus atos
perante o mundo.
Amar. Os belos olhos que penetram meu peito não para bisbilhotar
meus segredos, mas para cevar nas suas entranhas um ramo que perfume, que
irriga os desertos como um jardim, colore os céus como suas roupas e faz do
lago um imenso cristal habitado por flamingos, patos e peixes a pular na
superfície.
Harar chegou até meu conhecimento como um lugar. Um lugar
para penetrar seus muros, vender as mercadorias e extrair da vida toda a
promessa de felicidade que o mundo guarda para aqueles que a buscam.
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