Desde que se tomou conhecimento do primeiro surto do Vírus
Ebola no Zaire e no sul do Sudão, em 1976, que de algumas coisas se tem
conhecimento. Primeiro: é uma doença devastadora do ponto de vista clínico e
dos cuidados necessários, com uma letalidade altíssima e um potencial de
transmissão muito intenso (naquele surto um cientista inglês trabalhando em
laboratório com material de pacientes foi contaminado). Segundo: os precários hospitais
das missões religiosas foram uma fonte de disseminação da doença para toda a
região. Terceiro: até hoje a melhor opção terapêutica continua a ser o soro hiperimune.
Ou seja aquele que é retirado de pessoas infectados. Isso já fora usado em 1976
e depois os laboratórios com ações em bolsa de valores não se “interessaram.”
Agora estamos olhando que mesmo em países onde as técnicas
dos profissionais de saúde são mais apuradas e que o material é abundante,
casos estão ocorrendo entre profissionais de saúde. Na Espanha e no EUA. E
agora é sabido que a contaminação da enfermeira do Texas decorre do despreparo
dos profissionais de saúde para tratar com estes casos (85% dos profissionais
não receberam treinamento).
A verdade é que os arbovírus são extremamente perigosos e
que mais surtos virão pois o desmatamento, a mineração e o impacto ambiental
tem aberto o acervo genético das florestas para o bem e para o mal. O próprio
ressurgimento e a dificuldade de controlar o mosquito transmissor da febre
amarela, o mesmo que transmite a Dengue, já diz algo de mudança climáticas e de
mudança ambiental.
Já se passaram mais de 72 horas e o Centro de Controle de
Doenças (CDC) não tem a menor ideia do que aconteceu com a enfermeira para que
ela se contaminasse. Até agora não surgiu uma avaliação do caso espanhol. O CDC
se encontrar neste nível de resposta diz muito bem dos efeitos das políticas
neoliberais sobre instituições que já não conseguem responder às grandes
questões.
Há pouco mais de uma semana soubemos que Cuba estaria
enviando para os países africanos afetados um grande número de profissionais de
saúde. Não se viu o mesmo dos EUA, mas eles mandaram três mil soldados. Mas
qual o papel de soldados numa epidemia? Proteger patrimônio do interesse deles?
Confinar populações inteiras? Servir de contenção para eventuais manifestações
populares de insatisfações?
Enfim, se até os profissionais de saúde, em seus ricos e
seguros países estão sendo infectados, que diabo pode fazer um soldado
americano numa zona de transmissão ativa do vírus Ebola?
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