J. Flávio Vieira
“Quando eu vejo
um adulto em uma bicicleta,
eu não perco a esperança na raça humana.”
H.G. Wells
H.G. Wells
Desde as mais priscas eras o homem
buscou, desesperadamente, maneiras de ampliar seus horizontes de
mobilidade. Um bípede perdia de goleada
para as outras inúmeras espécies que com ele disputavam os alimentos. Além de
tudo, num mundo tão hostil e sujeito às mais variadas alterações climáticas, o
poder de deslocamento fazia-se diretamente proporcional às condições de
sobrevivência. A invenção da roda levou o Homo sapiens a um pedestal até então
inimaginado. E consta que há 2500 anos atrás, o chinês Lu Ban inventou um dos meios de transporte
mais populares da nossa história: A bicicleta. No ocidente , o Barão germânico Karl
Von Drais, no início do Século XIX, montou o primeiro rudimento da Bicicleta
moderna : o Celelífero que foi, pouco a pouco, sendo aperfeiçoado e já em 1829
se registrou a primeira Corrida de Bicicleta de que sem tem notícia. No Brasil
, a novidade chegou no finalzinho do Século XIX , trazida pelos imigrantes
europeus de Curitiba. A paulistana
Veridianada Silva Prado construiu o
primeiro velódromo do país, em São Paulo, na
Praça Rosevelt, na Consolação. Até
então, os veículos eram importados, na década de 40 , do século passado, no pós
guerra, começamos , por aqui, a fabricação das nossas próprias bicicletas.
Aqui
no Crato,
observando as fotos antigas, não se percebe como freqüente a presença da
bicicleta entre nossos hábitos cotidianos. Possivelmente, nossa geografia
acidentada, com terrenos cheios de vales e depressões, não tenha propiciado uma
disseminação maior desse meio de transporte, com exceção, talvez, dos moradores
da Chapada do Araripe, mesmo assim com um uso mais utilitarista do que
esportivo. Após a nacionalização da
produção, já no pós-guerra , a
acessibilidade da bicicleta possivelmente se tornou maior . Desde 1948 , temos
a Prova Ciclística de 21 de Junho aqui
na nossa cidade. A informação é do nosso
Huberto Cabral. Se há dúvidas, amigos, se foi o Pedro Álvares quem descobriu o Brasil, não resta qualquer
discussão a respeito de uma outra verdade histórica: foi um outro Cabral, o
Huberto, que descobriu e vem descobrindo o nosso Crato. Nos anos 60, houve um
grande impulso no ciclismo entre os jovens de minha geração, aqui ,
possivelmente, pela passagem de um
famoso ciclista de Petrolina – Souza Filho—que
veio fazer uma prova de resistência na Praça da Sé, encantando e influenciando
toda garotada.
Nos
últimos anos, tem se percebido uma grande população de ciclistas esportivos na
nossa região. A Chapada do Araripe, nos fins de semana, se vê apinhada de um
sem-número de esportistas das mais variadas camadas sociais, com bicicletas e acessórios modernos. Importante lembrar que esse novo
pico na disseminação da modalidade
esportiva entre nós, começou por volta de 1986. Alguns jovens cratenses – Ernesto Saraiva, Hercílio Figueiredo, Rui
Borges -- criaram a
atividade de “Moutain Bike” , imantados de uma natural consciência
ecológica. Preocupavam-se com a devastação da nossa Chapada e da necessidade de
educar os caririenses quanto à necessidade diuturna de preservação. O movimento
cresceu, ganhou adeptos e, em 1996, por fim,
já com o poder pensante de outros sócios beneméritos : Ricardo Borges, Ney Reny, Ildemário Júnior,
Newton Machado, Ricardo Rocha, Alziane Diógenes, Cézar Bandeira, fundaram a
“Eco-Biker´s”. A entidade tem, como
logomarca , uma Flor de Pequi e, hoje, congrega em torno de 1300 esportistas. Eles mostram, com orgulho, os
resultados de um trabalho espontâneo e profícuo : o Tricampeonato Cearense de
Moutain Bike 1999/2000/2001 e o Bicampeonato
Nordestino 2002/2003. Atualmente, a entidade luta pela implementação da Semana
da Bicicleta em nosso município entre 16 a 22 de Setembro, culminando, pois, no
Dia Mundial sem Carro; além da promulgação da Lei 2844/13 : a chamada Lei das Ciclovias.
Como
parece ter se tornado uma regra nesse mundo, as grandes iniciativas partem, geralmente, de pessoas simples e
visionárias. Sem os anteparos das convenções, dos liames políticos, das
ganâncias de Mercado, elas conseguem ver adiante da linha do horizonte. O Crato
é detentor de um imenso capital ecológico e teima em não entender esta riqueza.
Pomo-nos a macaquerar os municípios vizinhos em busca de uma vocação, quando
ela brilha à nossa frente a todo momento
na forma de Ecoturismo. A preservação da Chapada do Araripe é uma lástima.
Nossas fontes viraram patrimônio particular; nossos rios tornaram-se esgotos a céu aberto; caminhões carregam madeira
todo santo dia, ladeira abaixo; vende-se
carvão em quase toda esquina; vans fazem da Serra do Araripe aterro sanitário. Não
existe qualquer educação ambiental para os esportistas que se aventurem pela
Chapada. Caberia ao menos uma mínima ação política no sentido de dar uma infraestrutura
mínima a esta atividade. Medidas como: demarcar as trilhas , especificá-las e
sinalizá-las; estabelecer uma educação
ambiental básica aos visitantes, segurança e primeiros socorros; regulamentar um comércio mínimo de água,
sucos, energéticos, frutas; alocar lixeiras em pontos estratégicos e fazer
coleta regular do lixo; incentivar competições esportivas ; formar e
educar guias para os passeios; criar
ciclovias; estabelecer parcerias com a URCA, a FLONA, o IBAMA, Fundação
Araripe.
O
Crato, por inteira falta de foco, vem perdendo de goleada esse jogo para as outras cidades do Cariri. A Eco-Biker´s
vem mostrando, há quase vinte anos, que
é possível virar esse placar , fazendo
um gol de bicicleta.
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