por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 24 de junho de 2013

As minhas tias High-Tech e as novidades da Internet - José do Vale Pinheiro Feitosa

A conversa entre Tia Mundinha e tia Maria aconteceu na varanda enquanto tia Rosinha acompanhava alguns sites na internet. E lá na fazenda onde moram no Potengi as minhas tias vão de um segundo a outro do local ao universal. Parece anacrônico mas esse é o mundo high-tech em que vivem: uma antena de internet com uma rolinha cascavel bicando as asas numa de suas hastes.

- Maria tu precisa falar com ela!

- Já falei e não foi uma, duas, três ou quatro vezes! Ela concluiu que o banho está afinando a pele e que o frio pode provocar pneumonia.

- Que frio mulher de Deus? Aqui no sertão até melhora quando se sai do banho!

- Aí é que está o mistério! Como vou fazer ela tomar banho?

Tia Mundinha ainda quis insistir na cobrança a ser feita a tia Rosinha, mas tia Maria mudou de assunto e resolveu abriu o assunto que acabara de ler na internet.

- Por isso pai só deixava banco na sala e na varanda. Cadeira grande mesmo só a dele. Nós só tínhamos o assento para repousar o traseiro. Só o tamanho do traseiro e mais nada.

- Lembra de quando estávamos naquela roda de gente na frente da casa de Vó e Criselides cruzou as pernas por dentro daquele pau que amarra as pernas da cadeira para elas não se abrirem? – Tia Mundinha lembrou de um história que falavam das cadeiras exíguas de então.

- Lembro sim. Fernandina veio pelo escuro brincando com aquela capa preta, suspendendo-a acima da cabeça parecendo um pessoa que se esticava e se encolhia ao mesmo tempo. Pronto foi uma correria no rumo da porta de casa e a pobre da Criselides aos berros no chão com os pés enganchados nas pernas da cadeira.

Aí tia Maria voltou ao tema do que lera: - Pois olhem só a novidade. Não é que descobrirem que ter mesas de trabalho bem grandes, sentar-se em grandes poltronas e ter poltronas de carros imensas gera um sensação de poder nas pessoas. E sabe qual é a maior?

Tia Mundinha tirara os óculos de leitura e seus olhos brilhando esperavam o maior que fora anunciado.

- Pois sabe que as pessoas que têm estas coisas bem grandes são mais desonestas?

- Desonestas? E por qual razão?

- Sentem-se mais poderosas. E com mais poder logo não querem seguir as regras e nem prestar satisfação das besteiras que fizeram.

- Menina mais que coisa!

Nisso tinha Rosinha veio tomar um pouco de luz e ar fresco na varanda. Chegou já com uma assunto na ponta da língua:

- A gente pode até criticar o progresso mas existem coisas que se precisa aplaudir. Pois não é que descobriram uma nova lã que faz roupas muito macias, que não esquenta muito e o maior dos milagres, não amassa e não precisa lavar. Pode passar até cem dias sem precisar lavar. Vocês não ficam muito admiradas com uma coisa dessas?


As irmãs nem responderam à última pergunta de tia Rosinha. Apenas olharam entre si com os olhos num movimento de rápida mudança: indo desde uma exoftalmia de surpresa até um baixar de pálpebras semicerradas por desânimo.  

Nenhum comentário: