A conversa entre Tia
Mundinha e tia Maria aconteceu na varanda enquanto tia Rosinha acompanhava
alguns sites na internet. E lá na fazenda onde moram no Potengi as minhas tias
vão de um segundo a outro do local ao universal. Parece anacrônico mas esse é o
mundo high-tech em que vivem: uma antena de internet com uma rolinha cascavel
bicando as asas numa de suas hastes.
- Maria tu precisa
falar com ela!
- Já falei e não foi
uma, duas, três ou quatro vezes! Ela concluiu que o banho está afinando a pele
e que o frio pode provocar pneumonia.
- Que frio mulher de
Deus? Aqui no sertão até melhora quando se sai do banho!
- Aí é que está o
mistério! Como vou fazer ela tomar banho?
Tia Mundinha ainda quis
insistir na cobrança a ser feita a tia Rosinha, mas tia Maria mudou de assunto
e resolveu abriu o assunto que acabara de ler na internet.
- Por isso pai só
deixava banco na sala e na varanda. Cadeira grande mesmo só a dele. Nós só
tínhamos o assento para repousar o traseiro. Só o tamanho do traseiro e mais
nada.
- Lembra de quando
estávamos naquela roda de gente na frente da casa de Vó e Criselides cruzou as
pernas por dentro daquele pau que amarra as pernas da cadeira para elas não se
abrirem? – Tia Mundinha lembrou de um história que falavam das cadeiras exíguas
de então.
- Lembro sim. Fernandina
veio pelo escuro brincando com aquela capa preta, suspendendo-a acima da cabeça
parecendo um pessoa que se esticava e se encolhia ao mesmo tempo. Pronto foi
uma correria no rumo da porta de casa e a pobre da Criselides aos berros no
chão com os pés enganchados nas pernas da cadeira.
Aí tia Maria voltou ao
tema do que lera: - Pois olhem só a novidade. Não é que descobrirem que ter
mesas de trabalho bem grandes, sentar-se em grandes poltronas e ter poltronas
de carros imensas gera um sensação de poder nas pessoas. E sabe qual é a maior?
Tia Mundinha tirara os
óculos de leitura e seus olhos brilhando esperavam o maior que fora anunciado.
- Pois sabe que as pessoas
que têm estas coisas bem grandes são mais desonestas?
- Desonestas? E por
qual razão?
- Sentem-se mais
poderosas. E com mais poder logo não querem seguir as regras e nem prestar
satisfação das besteiras que fizeram.
- Menina mais que
coisa!
Nisso tinha Rosinha
veio tomar um pouco de luz e ar fresco na varanda. Chegou já com uma assunto na
ponta da língua:
- A gente pode até
criticar o progresso mas existem coisas que se precisa aplaudir. Pois não é que
descobriram uma nova lã que faz roupas muito macias, que não esquenta muito e o
maior dos milagres, não amassa e não precisa lavar. Pode passar até cem dias
sem precisar lavar. Vocês não ficam muito admiradas com uma coisa dessas?
As irmãs nem
responderam à última pergunta de tia Rosinha. Apenas olharam entre si com os
olhos num movimento de rápida mudança: indo desde uma exoftalmia de surpresa
até um baixar de pálpebras semicerradas por desânimo.
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