por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Na Igreja, o "vale-tudo" pelo poder


Dos 265 papas listados pela história oficial em quase dois mil anos, apenas quatro renunciaram: Bento IX (1045), Gregório VI (1046), Celestino V (1294) e Gregório XII (1415). E sequer eles foram precedentes comparáveis. Gregório XII, papa de Roma, foi forçado pelos cardeais a abdicar, enquanto os antipapas concorrentes João XXIII de Pisa (que não se confunda com o papa do mesmo título do século XX) e Bento XIII de Advinhão eram depostos, para por fim ao Grande Cisma do Ocidente e reunificar a Igreja. Bento IX renunciou para “vender” o cargo a Gregório VI que, por sua vez, foi “renunciado” à força pela maioria de seus bispos, com apoio do imperador Henrique III. Celestino V, um eremita respeitado como homem santo em Roma, foi eleito papa contra a vontade ao “ameaçar com a ira divina” o colégio de cardeais que se reunia havia dois anos sem chegar a um consenso. Em cinco meses no cargo mostrou-se completamente incompetente. “Aconselhado” pelo cardeal Benedetto Gaetani a abdicar, decretou o artigo do Código Canônico usado agora por Bento XVI. Gaetani elegeu-se papa Bonifácio VIII e por recear a influência do ex-papa, “mandou prender” o idoso Celestino, que morreu após dez meses de prisão. Bonifácio ficou quase nove anos no trono, mas se desentendeu com Felipe IV da França, quando este quis taxar a Igreja. Após se declarar superior aos reis e excomungar Felipe, foi capturado por tropas francesas que o “intimaram” a renunciar. Ao recusar, foi espancado e morreu três dias depois. Após a morte, sofreu a humilhação de ser destinado ao oitavo círculo do Inferno de Dante Alighieri, seu inimigo político, ao lado de Celestino V e Nicolau III.
Bento XVI
Sua renúncia evidenciou a incapacidade de controlar o conluio de interesses empresariais, políticos e clericais que ajudou a alimentar e hoje travam as tentativas de reforma tanto do Vaticano quanto da Itália – a corrupção secreta que viceja à sombra de qualquer autoritarismo. Provavelmente, será sucedido por um europeu igualmente conservador e intransigente para com os pecados da massa, mas mais tolerante para com os da Cúria, que manterá a Igreja no caminho firme, reto e seguro da decadência. 
(transcrito da revista Carta Capital)

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