Não sei como o assunto foi e se foi tratado aí do nosso
lado. Venho com ele uma vez que sei das paixões, por vezes até mórbidas, que
alguns amigos e conterrâneos têm pelo símbolo histórico de Fidel Castro. O que
todos esquecem na paixão é que a história é feita de aconteceres com a personalidade
humana em cena a ter atitudes e tomar decisões. Mesmo quando se trata de uma
catástrofe natural repentina como um terremoto ou lenta como uma longa seca
gerando fome e sede, o que se extrai de história é o papel humano nestas
ocasiões.
Por isso certas lideranças se tornam simbólicas. Diante do
avassalador efeito do Império Romano sobre a cultura hebraica, o movimento
cristão a despeito do que pensem até hoje os membros da religião judaica, foi um
núcleo gerador que espalhou a irmandade e a solidariedade como algo mais
valoroso do que o domínio imperial. No século XX na América Latina a Revolução
Cubana com suas lideranças, especialmente Fidel Castro, teve impacto tremendo
contra o maior império que já se teve notícia na humanidade (nem o Império
Inglês foi tão expansivo quanto o Americano).
A Revolução Cubana, podemos dizer foi, a senha para os
caminhos próprios e independentes dos países americanos em oposição aos ditames
imperiais. Criou-se uma agenda centrada nos direitos sociais (diga-se que
também ocorria nos EUA), na criação de uma grande camada da população com
escolaridade, saúde púbica, moradia, transporte, emprego e renda. A ideia de
progresso material estava implícita junto com valores de igualdade, autonomia e
participação.
Conheço Cuba muito bem a ponto de logo explicitar que existe
uma forte oposição interna a determinadas políticas e até mesmo muitas críticas
aos “velhos revolucionários”. Mas é preciso não esconder para baixo do tapete
algo muito evidente: com toda pressão externa ainda persiste entre os cubanos a
ideia do debate, do confronto de ideias e a noção de uma Cuba para os cubanos
apesar de todas as sabotagens oriundas dos EUA.
É impossível esquecer que o Governo Americano continua
ocupando o território cubano de Guantánamo e com uma prisão que se tornou o
símbolo da tortura e da sentença sem juízo. Uma prisão que se tornou o símbolo
da arrogância do Império em sua luta contra organizações e pessoas que ousam se
insurgir contra suas políticas agressivas e de domínio. Mais claramente:
ocuparam o território cubano para mostrar as garras contra pobres, organizações
adversárias e nações frágeis. Isso é o Símbolo Imperial desnudo.
Mas voltando ao que queria mesmo comentar. Um jornalista
venezuelano divulgou, o Jornal O Globo repercutiu, que Fidel teria morrido e o
governo aguardava 72 horas para anunciar o fato. Aliás, é a mesma fonte que
levou Merval Pereira, colunista do Globo, a anunciar que Chávez estava com
poucos meses de vida. O homem acaba de vencer uma eleição disputadíssima.
Comento esta grande besteira, mas antes quero falar dos
esquemas ideológicos primários e de má qualidade: o jornalista Venezuelano usa
as velhas táticas da Guerra Fria e cria o mesmo enredo que a propaganda da
época criou para a morte de Stalin. A ideia de que se Fidel morrer tudo o mais
morre. Grande bobagem.
Ora Fidel, assim como Merval Pereira e o jornalista
Venezuelano são mortais. Podemos esperar a morte de um dos três a qualquer
momento, mas com uma diferença. A probabilidade de que seja o Fidel Castro é
muitas vezes maior do que os outros dois: Fidel tem 86 anos e já carrega, como
não é incomum nesta idade, algumas doenças crônico-degenerativas.
Portanto Fidel morrerá nos próximos meses ou anos. Mas isso
não contraria em nada o peso dele na história da América Latina. Um peso que se
diga para esta mentalidade gorda e preguiçosa de certa direita americana, que
não é de graxas, mas com a leveza de uma ordem moral e ética que nos equipara
tanto na mortalidade quanto em força de viver. E viver sem acoelhar-se frente a
nenhum outro ser humano.
Sim, hoje apresentaram uma foto de um Fidel vivo. Vivo até
para morrer, mas não um esquife como aqueles mortos-vivos do jornalismo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário