por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

ADEUS A WISLAWA SZYMBORSKA


 Há tempos eu queria fazer um poema a Wislawa Szymborska.
Agora ela morreu.
... Wislawa Szymborska morreu e eu não fiz o meu poema.
Fiquei sem graça.
Com cara de tacho.


Não sei por que não escrevi.
Certamente porque não ficaria à altura dela.
Mas eu tinha o poema todo na cabeça.
Eu iria falar de um gato.
Seria um gato comum, sem nenhuma particularidade especial.
Um dia ele subiria na mesa,
Se espreguiçaria como os gatos fazem,
Dormiria numa almofada, num canto da sala,
E Wislawa Szymborska diria: Isto é a poesia.


Não era preciso nada de extraordinário.
Ninguém veria que o gato tinha um olho verde e outro azul,
Que era branco com o rabo xadrez (ou rajado).
Era apenas um gato.


Hoje penso em Wislawa Szymborska subindo uma escada.
Falta pouco para chegar ao topo.
Falta tão pouco
Que, de repente, Wislawa Szymborska está no topo da escada.
Cheguei, diz.
E agora?
A morte é como um poema: você não sabe como,
Mas sabe que precisa escrever.
Depois de escrito, não é surpresa nenhuma.
A vida continua.
Com suas pedras no meio do caminho,
Alguma borboleta – a leveza da borboleta,
Algum gato – que pisa leve, muito leve,
Gente que reclama,
Gente que segue em frente.
A poesia não é um prato de sopa.
Se fosse, seria um prato de sopa de pedras.
Adeus, Wislawa Szymborska.


1-2-2012 - J. C. M. Brandão

Um comentário:

socorro moreira disse...

Obrigada, poeta!

Grande abraço