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A morte não é nada para as coisas, mas caminha
dentro delas
como numa carruagem. É uma fatalidade que o espelho
conjuga
com as goiabas da infãncia e todas as lagartas. Não fechem
as pálpebras do morto. Não fechem os ouvidos
do morto. Ele
traz nos olhos as ondas do mar primevo. Ele
traz nos ouvidos o rugido de tigre do oceano
como a pérola
na sua concha. As coisas
são pesadas, fechadas em seu ser de concha,
de pedra. É preciso considerar a pedra
do abismo. Carrego a morte no pescoço como uma
canga. Nasci com a morte na língua. O homem nasce
e morre de uma vez
só. É a questão da palavra
exata. As coisas que o fogo não consome, que se agitam na
sua
língua,
nas labaredas do eterno.
Que teatro para o meu anjo? Que palco? Que bastidores e que
plateia? As coisas, desprovidas de ênfase,
não são apenas coisas. As coisas, em sua nudez,
estão vestidas para o êxtase.
J. C. Brandão
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