1979 a 2009 - 30 anos, num minuto.
Deixei Recife com uma dor sem avaliação. Decolei numa noite comprida, e aterrissei numa cidade estranha. Escolha aleatória, como ponto de recomeço : Fortaleza.
Luzes esparsas, lugar de exílio. Eu estava assaltada pelos letreiros luminosos do Recife; cortada por suas pontes ferrenhas; apaixonada pelos seus cais , e chorando os meus ais.
Quem me fez pensar em despedidas?
" Muda-se a cidade, mas não se muda o poço."
E o poço era profundo, escuro, viscoso. Quase não me devolveu ao mundo.
Fortaleza parecia uma noiva com suas roupas e lençóis de rendas. As noites eram provincianas :: violões, canções, e uma sucessão de dias amanhecendo.
Da minha janela eu viajava nas velas do Mucuripe, escutava os boémios do "Bar Santiago", e esticava o pensamento até alcançar o "Nick Bar”, "Tia Rosa”... A música era sempre um convite a entrar na roda, a contar histórias. Embriagada das noites, eu molhava as emoções nas águas do mar; suspirava valsas, choros e antigos sambas . De Kalu para trás, aceitava o desafio... Domínio de letra e melodia, além da frase principal, que condensava a canção : “... Joga a rede no mar, deixa o barco correr...". Um desespero de vida ;uma responsabilidade mais pesada do que a minha própria alma. Um dia despedi-me do vivido. A vida tinha sugado parte da minha alegria. Perdera mais uma vez, um pseudo amor (às vezes a gente jura que encontrou!).
Mudei de estação. Estava outra vez, na estrada:
Cariri / Uberlândia
Uberlândia/Cariri
Cariri/Macaé
Macaé/Mauriti
Uma pressa desmedida; uma vontade incontida, que o futuro chegasse, e aposentasse as minhas asas cansadas. Mas não parei por ali...:
Mauriti/Bela Vista
Bela Vista/Bahia
Bahia/Friburgo
Friburgo/Paraíba
Paraíba/ Ceará... “Eu penei, mas aqui cheguei!
Cheguei aquietada . Desprendida de tudo , sem bagagens.
E aqui estou ... Nuvem de quase novembro.
5 comentários:
Lindo texto. Parabéns! Sua prosa poética me causa uma boa sensação de estar lendo uma escritora já totalmente nascida para a literatura.
Uma fã
Armênia Siebra
Sempre sensível e visionária. Me ví, por uns momentos tambem de saudades, inserido na tua poesia/prosa. Esqueceste de Uberlandia/Brasília. Lá eu estava, e compartilhei. Faz parte de um tempo inesquecível. Obrigado por me lembrar que tive momentos felizes.
"Vc é a saudade que eu gosto de ter..."
Feliz pelo comentário. Continua inserido , na minha trajetória vida.
Abs.
Armênia,
A sensibilidade comum nos irmana!
Abs
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