por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 19 de agosto de 2011

FRANCISCO ALVES - por Norma Hauer


Foi aqui no Rio, no Largo da Prainha, ali entre a Praça Mauá e o bairro da Saúde, que FRANCISCO ALVES nasceu em 19 de agosto de 1898. Francisco Alves foi um dos primeiros cantores a conhecer sucessos, antes mesmo da criação do rádio no Brasil.

Começou cantando em circos e teatros de revista, em 1918. Já em 1920 , em uma gravadora nova, artesanal, de nome POPULAR, de João Gonzaga, companheiro de Chiquinha fez sua primeira gravação com "Pé de Anjo", uma sátira de J.B.da Silva (Sinhô) ao grupo "Oito Batutas", de Pixinguinha.

"O Pé de Anjo" foi uma revista musical que estreou no Teatro São José e só depois a música-título recebeu uma gravação sendo o lançamento de Francisco Alves em disco.
Na outra face desse primeiro disco foi gravada "Fala, Meu Louro", também de Sinhô.

Nessa gravadora só lançou dois discos, passando depois para a Odeon, onde ainda se gravava mecanicamente e só quem possuía grande voz tinha condições de fazê-lo, como Chico Alves e Vicente Celestino.
A Odeon tinha um subsidiária de nome "Odeonete", onde Chico Alves gravou , ainda na fase mecânica.
Foi em 1927, novamente na Odeon, que Chico Alves gravou o primeiro disco, em gravação elétrica no Brasil . As músicas foram "Albertina" e "Passarinho do Má".
Francisco Alves e outros que estavam começando no final dos anos 20, ainda não acreditavam no rádio (inaugurado em 1923) que de acordo com a lei de então só podiam executar músicas clássicas, seguindo o "slogan" de Roquette Pinto "pela cultura dos que vivem em nossa terra, pelo progresso do Brasil" .

Achavam que música popular não era cultura.

Somente em 1929 Chico Alves começou sua carreira no rádio, mas foi um dos primeiros contratados da Rádio Mayrink Veiga, em 1933, quando passou a ser o "Rei da Voz", cognome dado por Cesar Ladeira.
Nessa época, já gravara mais de 100 discos e, embora falecido em 1952, foi o cantor que mais gravou em 78 rotações (500 discos) perto de 1000 músicas.

Francisco Alves inaugurou, em 25 de setembro de 1935, a Rádio Tupi, do Rio de Janeiro, onde não ficou muito tempo.

Pouco após a inauguração da Rádio Nacional, em setembro de 1936, Francsico Alves transferiu-se para lá, fazendo parte de seu elenco até seu falecimento, em 27 de setembro de 1952, em um acidente automobilístico na Rodovia Presidente Dutra, quando regressava de um programa em São Paulo.
Seus programas na Nacional eram ao meio-dia de domingos, quando quase todos os receptores de rádio estavam sintonizados nos então 980 khz do prefixo PRE-8 Rádio Nacional do Rio de Janeiro.
A locutora Lúcia Helena abria seus programas com a frase"ao juntarem-se os ponteiros na metade do dia, ao soar o relógio dando as doze badaladas, os ouvintes da Rádio Nacional também se encontram com Francisco Alves-o Rei da Voz".

Daí ele abria com: "na carícia de um beijo, que ficou no desejo, boa noite, meu grande amor", início da valsa de José Maria de Abreu e Francisco Matoso, "Boa-Noite amor".

Haveria muito a falar de Francisco Alves, afinal ele foi a mola-mestre que deu origem a tudo que veio depois dele no rádio, na música, no carnaval (grandes sucessos)..."com pandeiro ou sem pandeiro, ê,ê,ê, eu brinco;com dinheiro ou sem dinheiro,ê,ê,ê eu brinco..."

Alguns cantores também foram "descobertos" por ele, como Orlando Silva, João Dias... deu grande força a Carmen Miranda, no início de sua carreira, a Mário Reis, com quem gravou uma série de músicas.
O próprio Orestes Barbosa, jornalista e poeta, apareceu no meio musical quando Francisco Alves musicou-lhes seus poemas, sendo que o primeiro foi "A Mulher que Ficou na Taça"... Carlos Galhardo quando resolveu tentar o rádio, foi de Francisco Alves que se aproximou
Tendo falecido em 1952, quando a televisão ainda "engatinhava", não teve chance de fazer parte de sua programação. Em 1976 a TV Globo tinha um programa de nome "Sexta-Feira Súper" e ali foi feita uma homenagem especial a Francisco Alves.

Quatro cantores de seu tempo, fizeram depoimentos sobre ele e, em quarteto, cantaram "A Voz do Violão", algo inédito e único. Gravei essa apresentação ( em áudio, apenas) e tenho as vozes de Orlando Silva, Gilberto Alves,
Sílvio Caldas e CARLOS GALHARDO interpretando "A Voz do Violão".

"Eu tenho um companheiro inseparável
Na voz do meu plangente violão."

Manhã de 2ª feira, 29 de setembro de 1952...Um grande féretro, o primeiro em que se usou um carro do Corpo de Bombeiros, atravessa as ruas do Rio de Janeiro, da Cinelândia (Câmara Municipal) onde o que restou de seu corpo foi velado (havia morrido queimado) até o Cemitério São João Batista acompanhado de uma multidão a pé cantando...

"Adeus, adeus, adeus...
Cinco letras que choram
Num prelúdio de dor.
Adeus, adeus, adeus,
É como o fim de uma estrada
Cortando a encruzilhada.
Ponto final de um romance de amor.

Quem parte, tem os olhos rasos dágua
Ao sentir a grande mágoa
Por se despedir de alguém.
Quem fica, também fica chorando
Com o coração penando
Querendo partir também

Foi no enterro de Francisco Alves que, pela primeira vez, a Câmara Municipal abriu seu salão para o velório de um cantor e foi também, o primeiro féretro realizado em um carro do Corpo dos Bombeiros, seguido com o povo a pé, até o Cemitério de São João Batista, em Botafogo.

Norma

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