ELEGIA DE ABRIL
O jardim seco,
a terra se esfarela como farinha de pedra.
Nem os lagartos passeiam entre as pedras, ao sol.
Ainda brilha o sol
e queima como fogo, como ácido.
Espero o sopro da morte
com a memória dos mortos na palma da mão.
Derrotado, ostento
os meus andrajos como bandeiras desfraldadas ao vento.
De minha casa não restam nem as ruínas,
apenas o eco ribomba sob a terra.
Eu me olhava no espelho e não me reconhecia,
olhava novamente e já era outro;
hoje todos os espelhos estão quebrados.
O último baú que abri (quando eu ainda tinha baús)
guardava o meu próprio esqueleto.
Eu me perguntava: como não estou morto, Senhor?
Deus se calava, apascentava as ovelhas do eterno.
Conheço a desolação com um nó na garganta.
Ainda vejo minha mãe aos prantos na beira da estrada,
ainda vejo meu pai na beira do poço
e os meus irmãos perdidos no mundo.
Nós ouvimos o Verbo de Deus,
sofremos todas as desgraças da nossa idade.
A idade do homem é a idade do escárnio,
eu me cubro de cinza e saio pelos caminhos.
Esta é a idade do escárnio, esta é a idade do escárnio.
Eu sou um fraco.
Não aprendi a orar
nem conheci a cegueira dos puros.
Eu tenho uma espada na garganta
para que não conspurque a palavra.
Eu tenho uma espada no peito
que me exaure as forças.
Deus trouxe a espada ao mundo.
A luz vive no eterno, amém.
Um comentário:
Que maravilha, Brandão!
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