Daisaku Ikeda (池田大作 いけだ だいさく Tóquio, Japão, 2 de janeiro de 1928) é um filósofo, escritor, fotógrafo, poeta e líder budista japonês.
Graduou-se na Faculdade Fuji Júnior. Em 1947, converteu-se ao Budismo de Nitiren Daishonin com apenas dezenove anos e tornou-se membro da Soka Gakkai, uma organização de leigos que estava então sob a liderança de Jossei Toda, seu segundo presidente.
Em 1958, o segundo presidente da Soka Gakkai, Jossei Toda, faleceu e após dois anos, em 3 de maio de 1960, Ikeda foi nomeado seu terceiro presidente. Sob sua liderança, a organização progrediu, chegando a alcançar aproximadamente treze milhões de membros no Japão, tornando-se a maior organização de seu gênero nesse país. Para apoiar os esforços da Soka Gakkai, baseados na filosofia budista de Nitiren Daishonin e com o intuito de promover a Paz, a Cultura e a Educação, Ikeda fundou, através dos anos, instituições educacionais e culturais, incluindo o Sistema Escolar Soka que abrange da Pré-Escola a Universidade, a Associação de Concertos Min-On e o Museu de Arte Fuji de Tóquio.
VISÃO BUDISTA SOBRE A VIDA E A MORTE
Pres. Ikeda:
- Nascemos porque temos uma missão.
Todos têm uma missão. É por essa razão que nascemos. É por isso que, independentemente do que aconteça, devemos prosseguir na vida superando tudo. A palavra japonesa que designa missão significa “usoda própria vida”. Para qual objetivo usamos nossa vida? Qual o objetivo de termos nascido neste mundo, enviados pelo universo?
Por que fomos enviados para cá?
O budismo considera o universo como uma gigantesca entidade. Se o compararmos ao vasto oceano, cada vida é como uma onda nesse oceano. A vida é quando as ondas se levantam na superfície do oceano, e quando ela volta é a morte. A vida e a morte são unas com o universo. No nascimento de uma única vida, há a aprovação e cooperação do universo inteiro.
Todas as vidas são igualmente preciosas. Não podemos aplicar uma hierarquia ao valor da vida, tornando uma mais valiosa que outra. Cada vida é única. A vida de cada pessoa é tão valiosa quanto o universo, é una com a vida do universo e tem a mesma importância. Nitiren Daishonin declara: “A vida é o maior de todos os tesouros.” (The Writings of Nichiren Daishonin, pág. 1125.) E diz ainda: “O Buda diz que a vida é algo que não pode ser comprado nem pelo preço de todo um sistema maior de mundos.” (Ibidem, pág. 983.) E “Um dia de vida é mais valioso que todos os tesouros do sistema maior de mundos.” (Ibidem, pág. 955.)
É por essa razão que não devemos tirar nossa própria vida. É por isso que não devemos recorrer à violência, que não devemos ferir nem agredir os outros. Ninguém tem o direito de prejudicar o precioso tesouro que é a vida.
Yumitani:
- Um estudante escreveu que quando foi vítima de agressões questionava por que havia nascido neste mundo doloroso, e por quê, acima de tudo, havia nascido.
Pres. Ikeda: “Por que nascemos?” — a juventude é a época de buscar a resposta dessa questão. A juventude é nosso “segundo nascimento”. O primeiro nascimento é o físico, mas é durante a juventude que realmente nascemos como pessoa. Por isso é um período tão difícil na vida e temos de sofrer tanto. É uma luta, tal como a do passarinho tentando romper a casca do ovo.
A questão crucial é jamais desistir. Enquanto lutam para encontrar seu caminho, por favor, orem, reflitam, estudem, conversem com seus amigos e dêem o máximo para o que é mais importante agora. Se desafiarem a si próprios sem se darem por vencidos, sua missão — aquela que somente vocês podem cumprir — será revelada sem falha.
Ueda:
Sim. Se o passarinho desistir no meio do caminho, nunca conseguirá sair do ovo.
Os verdadeiros vitoriosos são os que perseveram até o fim
Pres. Ikeda:
- Espero que não se deixem derrotar por seus problemas e batalhas. As pessoas derrotadas pelos problemas não passam por um renovado crescimento ou “renascimento” como seres humanos e acabam vivendo apenas por instinto, como animais. E isso é uma morte espiritual.
Todos vocês conhecem Mikhail Gorbachev, ex-presidente da União Soviética e também meu amigo. Gorbachev é o responsável pelo fim da Guerra Fria. Ele é um verdadeiro herói que teve o bom senso de dizer: “Essa tolice não pode continuar!” Querendo encontrar uma forma de levar a felicidade a toda a humanidade, ele deu um passo decisivo para a mudança.
Como o líder supremo da União Soviética, ele era praticamente o todo-poderoso de sua terra natal. Ele poderia muito bem ter permanecido confortavelmente na fortaleza do poder. Mas escolheu um caminho diferente — um caminho perigoso e arriscado. Ele sofreu atentados, foi traído e perseguido. Mas, em meio a tudo isso, recusou-se a abandonar seu sonho de uma sociedade em que as pessoas estivessem em primeiro lugar.
Quando Gorbachev e sua falecida esposa Raisa visitaram o Colégio Soka de Kansai [em 20 de novembro de 1997], ela proferiu um discurso aos alunos. “Vocês passarão por todo tipo de sofrimento na vida”, disse Raisa. “Nem todos eles serão curados. Vocês tampouco conseguirão realizar todos os seus sonhos. Mas há algo que vocês podem alcançar. Há um sonho que podem tornar realidade.
“Portanto, a pessoa que triunfa no final é aquela que se levanta após cada queda e avança. A capacidade de continuar a lutar é uma questão de determinação. A morte não vem para a pessoa que está cansada, mas sim para aquela que parou de avançar.
“Vocês podem pensar que hoje ainda são jovens mas, antes que percebam, já terão alcançado a maturidade. Assim é a vida. Logo terão de assumir a responsabilidade por sua família, pela nação e por todo o planeta.
“Que seus sonhos se tornem realidade! Espero que ocorram coisas maravilhosas em sua vida! Que sejam todos felizes!”
Não desperdicem nem um único momento da vida
Pres. Ikeda:
- São indescritíveis os sofrimentos e dificuldades pelos quais o casal Gorbachev passou. “Mas nós sobrevivemos”, disse o casal. “Nós vivemos e lutamos.” Todos vocês estão vivendo agora. Como isso é incrível! Espero que não desperdicem esse maravilhoso tesouro.
Por falar na Rússia, contei anteriormente como o grande escritor russo Fiodor Dostoievski (1821–1881) escapou por pouco de ser executado por um pelotão de fuzilamento. Enquanto aguardava sua vez de ser chamado pelos executores, começou a pensar em como passaria seus últimos momentos. Ele sabia que dentro de cinco minutos seria preso a um poste e executado, e assim desapareceria deste mundo. Não queria desperdiçar esses cinco preciosos minutos, pois eram seu último tesouro. Precisava utilizá-los cuidadosamente. Ele dividiu o tempo restante em três partes. Usaria os primeiros dois minutos para despedir-se de seus amigos e entes queridos. Os dois minutos seguintes seriam dedicados a uma última reflexão sobre si próprio. E o último minuto usaria para dar uma última olhada ao seu redor.
Ao mesmo tempo, decidiu que, se por alguma razão fosse poupado, transformaria cada minuto em uma era e jamais desperdiçaria um segundo sequer.
Aproveitem a vida ao máximo
Pres. Ikeda:
Pensando nisso, mesmo sabendo que não vamos morrer nos próximos cinco minutos, todos nós, sem exceção, morreremos um dia. Podemos contar cem por cento com isso. Não existe nada mais certo.
Victor Hugo disse certa vez: “Todos nós temos uma sentença de morte, mas com um tipo de adiamento indefinido.”2 O ideal é vivermos cada minuto da vida de forma útil, como se fosse uma era. As pessoas que não têm um objetivo na vida chegam ao final dela com um sentimento de vazio, mas aquelas que vivem com plenitude e empenham-se corretamente até o fim terão uma morte tranqüila.
Leonardo da Vinci também disse: “Assim como um dia bem aproveitado faz com que tenhamos um sono feliz, uma vida bem vivida leva a uma morte feliz.”³ As pessoas conscientes do fato de que a morte pode chegar a qualquer momento vivem cada dia ao máximo. Em uma corrida, também é a linha de chegada que nos faz correr com toda nossa força.
Ueda: Enfrentar a realidade da morte dá sentido à vida.
Yumitani: Acho que se não morrêssemos nossa vida ficaria vazia e sem objetivo, assim como não estudamos a menos que saibamos que haverá um exame!
Pres. Ikeda: É verdade. Uma vida sem morte poderia ser uma ótima idéia, mas também significaria que adiaríamos as coisas, pensando que, mesmo que não nos preocupássemos no momento, poderíamos dar conta de tudo dentro de dez ou vinte anos. De fato, provavelmente nunca faríamos nada. Todos nós nos tornaríamos totalmente decadentes e preguiçosos.
Yumitani: Imagino que seja isso o que acontece com as pessoas que passam a vida à toa, sem nunca considerar com seriedade a realidade da morte.
Pres. Ikeda:
Diante da morte, aspectos como riqueza, posição social, honras e qualificações acadêmicas não têm nenhum significado. Nesse momento, tudo se decide de acordo com sua própria vida, destituída de todos os ornamentos externos. Vocês se sentem realizados? Ou sua vida é vazia, fraca e sem energia? É por essa razão que necessitamos da fé para forjar nossa vida e desenvolvê-la.
Ueda: Nunca sabemos quando a morte virá. Portanto, não podemos nos permitir desperdiçar um momento sequer.
Pres. Ikeda:
Não, não podemos. Eu adotei um lema diário: “O dia de hoje equivale a uma semana!” Ainda não vivi cem anos, mas tenho me empenhado para criar várias centenas de anos de valor.
Sem arrependimentos
Yumitani:
Se vivermos cada dia com seriedade e plenitude, não teremos nenhum arrependimento.
Pres. Ikeda: Trata-se de ter senso de missão. Não existe nada mais forte. José Rizal, o herói da independência filipina, deu a vida por essa missão. Ele foi executado por um pelotão de fuzilamento, mas em sua última carta escreveu: “Não me arrependo do que fiz, e se tivesse de começar novamente, faria o mesmo, porque esse era meu dever."
Ueda: Seria maravilhoso se todos nós pudéssemos chegar ao fim da vida sentindo que, se pudéssemos viver novamente, seguiríamos pelo mesmo caminho.
Pres. Ikeda:
Para viver dessa forma, é necessário uma firme concepção da vida e da morte. O que acontece quando morremos? O que acontece com nossa vida? Na próxima vez, vamos analisar as respostas que o budismo dá para essas questões.
Yumitani: Num certo momento da vida, todos se perguntam por que nasceram, por que morrerão e o que acontecerá após a morte.
Jovens filósofos, ponderem sobre a questão da vida e da morte!
Pres. Ikeda:
Por essa razão é tão importante que vocês sejam jovens filósofos e que ponderem profundamente sobre essa questão da vida e da morte enquanto estão na juventude.
Se as pessoas se deixarem levar pela crença de que não existe vida após a morte, sucumbirão facilmente à visão de que podem fazer o que quiserem e então, quando encontrarem alguma dificuldade, simplesmente poderão dar um fim a sua vida e acabar com tudo.
Yumitani: Sim, hipoteticamente isso é possível.
Ueda:
Concordo. Voltando ao exemplo do colegial, tenho certeza de que se nada houvesse após a formatura, muitos estudantes achariam desnecessário estudar tanto.
Yumitani: Bem, as pessoas que crêem que não existe nada após a morte poderiam ainda empenhar algum esforço para viverem de forma agradável, mas provavelmente não se esforçariam tanto para tentar se aperfeiçoar ou para servir aos outros.
Pres. Ikeda: É claro que ninguém que acredite que a morte é o fim vive de forma irresponsável e em absoluto abandono.
Não somente existem restrições sociais contra isso como também, bem lá no fundo do coração, os seres humanos sabem intuitivamente que a vida é eterna e que há uma maneira correta de vivê-la.
Yumitani: Há também algumas pessoas que dizem que exatamente pelo fato de esta ser nossa única existência — como não há vida após a morte — temos de fazer o melhor no presente. Mas nem todos pensam dessa forma.
Pres. Ikeda:
Está se tornando predominante no mundo de hoje a visão materialista de que não há vida após a morte. Creio que seja essa a razão de a ética e a moralidade terem se degenerado em mera ambição. No grande romance Os Irmãos Karamazov, de Dostoievski, a personagem Ivan faz o seguinte comentário: “Supondo que não houvesse nenhum Deus, o que seria então considerado como crime? Todas as coisas seriam lícitas?” Se substituíssemos a palavra “Deus” por “vida após a morte”, poderíamos aplicar a mesma questão. Teríamos um mundo onde poderíamos fazer o que quiséssemos até que alguém nos impedisse.
Yumitani:
De fato, parece que é essa a maneira como o mundo está sendo conduzido.
Pessoas que buscam pelo significado da vida
Ueda:
Algumas pessoas fazem a seguinte questão: “A morte é realmente o fim? Caso assim seja, isso significa então que tudo na vida é vazio e sem significado?”
Pres. Ikeda:
Somos seres que buscam um significado na vida. Enquanto tivermos um sentido para viver, poderemos suportar qualquer sofrimento. Mas, sem um propósito na vida, podemos ter tudo que quisermos e ainda assim sentirmo-nos completamente vazios, como se nosso espírito perecesse.
Assim como têm de adotar uma perspectiva mais ampla de todo seu período no colegial e dar um significado ao primeiro ano letivo, têm de adotar também uma visão mais ampla para enxergar o propósito de sua vida, ou seja, visualizar esta existência e o que acontece após a morte. Sem isso, não conseguirão valorizar a própria vida. Por essa razão é tão importante a compreensão da vida e da morte.
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