Tem dias em que a gente amanhece como se tivéssemos dentro de nós, um imenso relógio parado , marcando uma hora qualquer de um momento também qualquer que aconteceu em nossas vidas . É como se diante de nós existisse um longo cais sem ancoradouro, com correntes e águas profundas ... Uma espécie de paisagem inerte refletida num céu nublado sem expectativa nenhuma de um tímido raio de sol. E ficamos parados, inertes como aquele relógio... Apenas um objeto pendurado na parede sem nenhuma função a desempenhar , a não ser emoldurar o silêncio. É quando mergulhamos então num mundo de lembranças procurando encontrar algum fato que nos traga a memória o dia exato em que aquele relógio parou. Abrimos nossos braços e não mais encontramos os abraços recebidos . Inclinamos cabisbaixos a cabeça a procura de um ombro onde repousá-la , e tombamos no vazio de mil lembranças .Nenhuma voz a nos dizer uma simples frase que nos arraste daquele momento.Só o relógio mudo , sem vida . com seus ponteiros parados a nos fazer companhia ! Fazemos um esforço na memória , e imaginamos que ele tenha ficado mudo e quieto no momento em que foram desligados os ponteiros de algum sonho. De repente um tênue raio de sol entra pela janela acariciando meigamente o relógio fictício... Quem sabe esse novo calor não o impulsione a movimentar seus ponteiros .... Quem sabe ! Quem sabe também num outro amanhã,eu não volte a escutar mais forte os ponteiros já cansados do meu coração , e esqueça de uma vez por todas o momento em que ele ficou silencioso como esse relógio ilusório num velho muro carcomido rabiscado de tantas recordações
por rosa guerrera
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