PRANTO
Eu não quero ouvir o barranco.
Eu não quero ouvir o rio e os peixes.
Eu preciso aprender a chorar em silêncio.
A minha dor vai arrebentar as paredes.
A cabeça de boi no portal da casa
é branca como a minha dor.
O meu cavalo encostou as narinas no chão
agonizando,
agonizando com gosto de terra na boca.
As rodas da carroça gemem nas pedras.
As nuvens pesadas roncam no céu escuro.
As crianças estão geladas, duras de frio.
Os bois no pasto mugem a dor do mundo.
Os lampiões projetam sombras na cozinha,
as sombras dançam nas telhas negras da cozinha.
A fogueira no quintal lança labaredas
como estrelas desesperadas.
Eu não quero ouvir o barranco.
Eu não quero ouvir os mortos.
Eu quero chorar em silêncio
como quem morre.
O deserto cada vez mais pesado,
a noite cada vez mais pesada.
Nem se respira de tanta dor.
Como quem morre.
3 comentários:
Leio tua dor, poeta, irmã da minha, nesse "deserto cada vez mais pesado".
...Preciso de um antídoto!
Abraços
meu Deus!!
quanta propriedade!!
"a dor que infere sobre a singularidade do vivente
que por estar vivo dói"
(perdona-me)
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