por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 28 de março de 2011

A PALAVRA AMOR








A PALAVRA AMOR

Meu pai nunca disse a palavra amor.
Impossível imaginar.
Cumprimentava minha mãe: Bom dia!
Boa tarde!
Dava a mão. Nenhum gesto de carinho.
Mas levava café para minha mãe na cama.
A voz dele enchia a casa.
Enchia de um sossego bom que não pode ter
nome melhor que amor.
Gritava arroooi!!! quando trovejava, a gente dizia
            que era o grito de chamar a chuva
e esse grito não tem nome melhor que amor.
A gente se lembra dele, do meu pai,
            como quem reza.
Gozado! Ele não fazia nenhum gesto de carinho
            para a gente ou para a minha mãe.
Fazia doce de fio de ovos, fazia vassouras de noite
            na cozinha, trabalhava feito doido na roça,
falava da gente com orgulho, falava dos mortos
            com orgulho, dava orgulho ver ele falar,
            sempre de bem com a vida.
Para que é que serve a palavra amor?
                                              
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Li este poema no auditório lotado do SESC de Bauru, em 1999. Depois me envergonhei dele: não é um bom poema. Rasguei-o, nem me lembrava dele quando a minha prima Zilda o comentou – a minha irmã tinha uma cópia, que deu à Zilda. Depois encontrei um vídeo daquela apresentação no SESC – é um pouco mais longa, eu tentei consertá-la encurtando-a. Eu estava escrevendo os 40 poemas de amor e, sem querer (!), saiu este. Porque não era um poema de amor – à minha mulher, como os outros – e porque era ruim, deixei-o fora do livro “Poemas de amor”. Hoje, pelo que ainda possa significar, dedico-o aqui justamente à minha mulher.

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3 comentários:

socorro moreira disse...

Arrepiante!

Um abraço, Brandão!

Stela disse...

Quando leio um poema de Brandão, vou lendo lendo e digo "É Brandão", e é, no fim tá lá o crédito.
Mas esse poema aqui fui lendo e cheguei a pensar que era de Marcos Barreto, mas vi logo que não era, e pensei "no fim vejo de quem é, só sei que tô gostando muito". E gostei até o fim, inclusive da história do poema.

O poema é lindo, o tema amor é lindo, e tudo que o pai fazia falava de amor.
E isso é belo!

um abraço carinhoso pra você, poeta.

Joaonicodemos disse...

mas isso é um poema de amor...
com outra caligrafia, meu caro
Brandão!
não foi à toa que não se perdeu