por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 12 de março de 2011

C´est ma vie - Aos Bailes da AABB do Crato- Por José do Vale Feitosa







2 de junho de 2008


Segue um riacho tributário das grandes paixões de amor que inundaram o professor Bernardo Melgaço e não menos a Socorro Moreira que transpõe todo o Crato em sua devoção. Aliás, tudo faz sentido: afinal não se tem saudade de um seixo apenas, é de toda a pedreira que se fala, do lajedo, seus mandacarus e a pluma do xique xique..


E eu?
Da fala beiradeira,
tosca na origem, coruscante expressão.
Mesmo que no filme fosse o artista,
que ainda mais falante,
jamais disse: C´est ma vie.

Do alto em que o baile ecoava-se,
através da caixa acústica do céu estrelado do Crato.
Muito além da França,
sendo franco,
até do horizonte,
lá meu sonho nasce: C´est ma vie.

Embaixo do telhado,
no salão de luzes esmaecidas,
toda a repercussão dos sons universais,
cantante, sussurrante,
ao teu ouvido poder dizer,
pois não sou francês: C´est ma vie.

O ritmo ligeiro
de uma cavalaria napoleônica,
todos os terrenos rodopiando.
Eu cantava,
sem que na tua pupila brilhasse
a dúvida desta ousadia imprecisa: C´est ma vie.

De um sopro morno ao teu ouvido,
meu coração se esfumaçava,
Hugo tocando Adamo.
Luzes pontuais
como fora pirilampos na noite escura,
acendiam em teu ouvido: C´est ma vie.

Por entre os outros
casais esquecidos,
como numa noite,
entre as árvores de uma floresta,
o salão rodando,
teu perfume bailando
grades de uma prisão aberta ao infinito: C´est ma vie.

Rápido!
Qual um pensamento ligeiro,
ainda menos que a letra “a”
ou o numeral 1.
De Chanson en Chanson,
estava tua orelha cada vez mais
ao sabor dos meus lábios.

Minhas narinas
lançavam o fogo dos dragões
sobre teu corpo ao meu peito,
cor em brasa,
e para aplacar tamanha ebulição,
suspirava: C´est ma vie.
C´est pas l´enfer.

E girava o mundo
à nossa volta,
como uma ola descomunal
de paixões transcontinentais.
Dali jamais sairia,
mas te levaria a uma ilha deserta,
C´est ma vie.
C´est pas l ´paradis.

Notre histoire a commencé .

Lá fora o universo era universal,
a cana canavial,
o jovem era amoral.
Mas que importa é o visgo
da tua cintura em meus braços
e eu até dizer: C´est ma vie.

Mas como queria ter dito,
mesmo,
ainda hoje, dizer.
C´est ma vie.

Como disse Alain Delon,
ao lado de Dalida em paroles, paroles:
C'est étrange,
je n'sais pás ce qui m'arrive ce soir,
je te regarde comme pour la première fois.

E antes que a orquestra parasse,
ainda dizer:

Mon Amour.


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