* Editora Coqueiro em 20/04/2006 09:09
Violeiro João Nicodemus - Cebolão brasileiro
A AFINAÇÃO CEBOLÃO, típica da viola paulista, marca a apresentação de João Nicodemos (Foto: Divulgação).
Henrique Nunes
A tradução da viola e do cancioneiro brasileiros, influenciados pela convivência em São Paulo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Ceará, marca a trajetória do paulista João Nicodemos. Morando há seis anos na cidade de Crato, o músico faz sua primeira apresentação em Fortaleza hoje, no Centro Cultural Banco do Nordeste
Nascido no município paulista de Tupã, filho cearense e mineira, João Nicodemos rodou um bocado pelo Brasil, absorvendo a cultura destes vários Estados. Além de São Paulo, Goiás, Minas, Mato Grosso do Sul e Ceará, também passou pelo Rio de Janeiro. “Sempre acompanhado pela música, toco vários instrumentos. A viola trato para as raízes regionais, desde o Mato Grosso do Sul, por volta de 87, 88”, descreve.
O músico conta que o instrumento, comum às mais diversas regiões do país, teve um processo distinto de interação com o seu universo musical. “A viola foi a minha professora mesmo, enquanto os outros instrumentos, estudei com professores e tudo... Com a viola não, foi saindo, na ponta do dedo”. Entre outras linguagens desenvolvidas pelo músico, estão o choro (onde ele se acompanha por cavaquinho e sax soprano) e a bossa nova (já através do sax alto). Mas sua aproximação com a música nordestina de raiz acabou o levando a aproximar-se de outro instrumento, a rabeca. “Ia até levar praí, mas vou só com a viola mesmo”.
A viola e toda a sua expressividade musical, em que integram-se linguagens de várias regiões e épocas. Um arranjo simples de “Trenzinho Caipira” sugere o passeio pelo Brasil a bordo de sua viola Xadrez, um modelo com dez cordas de aço que acompanha o estilo paulista até mesmo na afinação “cebolão”. João Nicodemos conta que teve violas de luthiers (caboclos danados na fabricação de instrumentos), mas prefere usar o seu pequeno modelo Xadrez com afinação em ré. Em geral, entre as mais de 20 variações de afinação, a mais usada é em mi. “É ‘cebolão’ porque esta afinação emocionava as moças até as lágrimas em outros tempos”, conta.
Segundo o violeiro, este é um instrumento personalizado, em que você começa a estudar e a tocar, e que, como a rabeca, permite criar uma afinação diferente. “É um instrumento que tem uma história profunda na música brasileira, desde o começo do século passado se toca, se compõe, e que hoje tem um boom muito grande, até orquestras de viola, em Minas e São Paulo”, aponta, acrescentando de pronto: “Eu posso dizer que traduzo o meu sentimento de brasilidade tocando viola. Um violeiro aprende com o outro, aceitando as sonoridades, os ritmos, o timbre, o jeito de tocar, de cada região, cada tradição de cada lugar”.
Depois de embarcar no “Trenzinho” de Villa-Lobos, São Paulo dá o tom em bom “cebolão” com Angelino de Oliveira (“Tristeza do Jeca”), a popular “Cuitelinho” (resgatada pelo paulista Paulo Vanzolini), partindo depois para Goiás com Tião Carrero e sua “Rio de Lágrimas”, (Tião Carrero), Mato Grosso do Sul, via o paulista Mário Zan com “Chalana” e ainda com uma composição própria de Nicodemos, um misto de guarânia e rasqueado “Para Helena” (a violeira sul-matogrossense Helena Meireles).
“Depois de andar um pouco por ali, chego no Nordeste, com Luiz Gonzaga, um pout-pourri com ‘Matulão’, ‘Asa Branca’, ‘Juazeiro’, ‘Algodão’. Também passo pelos baiões estilizados, a bossa nordestina de Edu Lobo, ‘Arrastão’, ‘Ponteio’... E tem também ‘Cio da Terra’, representando um sentimento mineiro”, expõe o paulista bom de palavra. Segundo ele, a empatia com o público, através deste passeio interregional pela verdadeira música sertaneja brasileira, se torna, assim, uma possibilidade real.(...)
"Diário do Nordeste", 20/4/2006:
http://diariodonordeste.globo.com/
Nenhum comentário:
Postar um comentário