Ninguém mesmo andará com tua bengala.
O pombo que solta mísseis pastosos
acertando em cheio o colarinho
da tua camisa polo
é só um aviso
que o tempo
é outro.
Encosta a bengala,
meu caro.
A saudade consumida
pelo mormaço do quarto
e pelas traças enjoadas
de livros empoeirados
é só um sinal
que a vida mudou.
O mundo do dia pra noite
não planta orquídeas nem
faz papa quentinha de bebê.
O mundo permanece
(graças a deus) o de sempre:
tuberculoso, frio e vão.
Não o mudes
[esse mundo
é uma prévia
da tua existência]
se fosse diferente
haveria no teu quintal
na tua área de serviço
na tua varanda
aqueles cavaleiros
de capa e capuz
e foices
abrindo os dentes
sob um ar sombrio
de queimar a espinha
de medo.
O teu olhar, meu caro
é que é totalmente
diferente hoje
diferente amanhã.
Graças ao teu deus
tu agora percebes
com os olhos fechados
debaixo do chuveiro
é mais fácil esquecer o tempo
não se importar com a vida.
Nem precisas especular
a tua ansiedade.
Ninguém mesmo andará suspenso
sobre os teus chinelos e nem arderá
encostada à parede a tua bengala.
Tu só mudaste
porque sabes:
um vacilo
é tenebroso
o prelúdio
da dor.
E dor (convenhamos)
só se for de parto
e de filho querido.
por Domingos Barroso
2 comentários:
Salve grande Buñuel ! Li ou ouvi,não me lembro onde, que o Deserto de Atacama no Chile, é o lugar mais seco da Terra. Tem a ver com seu poema ? rsrsrs
Um terno abraço
A vida mudou?
Ou foi o poema
em outro espelho
ou outra dimensão?
Um abração, Domingos.
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