por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 15 de dezembro de 2024

 

FARIA LIMA: PESSIMISTA NA ECONOMIA, OTIMISTA NA MORTE DE LULA (OU “OS URUBUS DE SAPATÊNIS”)

Em exercício bizarro de urubologia, mercado tem alta com notícias de segunda cirurgia de Lula e cai quando ela ocorre bem.

 

 

“Faria Lima lança bet para apostar na morte de Lula”, manchetou o site humorístico Sensacionalista. O lançamento da bet é mentira, mas a aposta da Faria Lima na morte de Lula é uma verdade absoluta. 

Depois de passar as duas últimas semanas abanando o rabinho para o ultraliberalismo de Milei, a cachorrada da Faria Lima começou a salivar com a recente complicação de saúde do presidente. 

Mesmo sabendo que os procedimentos cirúrgicos pelos quais ele passou eram de baixo risco e que em breve voltará normalmente ao expediente em Brasília, os agentes do mercado não pensaram duas vezes antes de colocar um preço na vida do presidente e passaram a especular cenários após a sua morte.

A internação de Lula para a cirurgia melhorou — e muito —  o humor do mercado financeiro. Numa tacada só, a Bolsa disparou e o dólar despencou. A Faria Lima deu início ao terrorismo eleitoral para 2026. Nas mesas de negociações de corretoras, os urubus de sapatênis apostam que Lula pode morrer ou se afastar do cargo por não ter mais condições de saúde. 

Parte do otimismo se deve à possibilidade de Geraldo Alckmin comandar o país e as negociações em torno do pacote de corte de gastos com o Congresso.”A visão é de que Alckmin faria um governo mais parecido do que o de Temer, mais assertivo na organização das contas públicas e mais preocupado em entregar o mandato com controle da dívida pública”, disse abertamente Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos. 

Como se vê, os grandes agentes financeiros não fazem a mínima questão de esconder o otimismo com um cenário futuro sem Lula. 

Não é só o mercado financeiro que sonha com Lula morto. Lembremos que o governo Bolsonaro planejou matá-lo. Se o golpe tivesse sido bem sucedido, seria um dia de grande festa na Faria Lima.

Não é à toa que, segundo pesquisa Quaest, se a eleição fosse hoje, 80% dos agentes do mercado votariam em Bolsonaro contra Lula. A pesquisa foi feita logo após a revelação da Polícia Federal de que o governo Bolsonaro tinha um plano para matar o petista. 

Ou seja, os faria limers preferem ter na presidência um golpista sanguinário que conduza a economia a reboque do mercado financeiro. E daí que Bolsonaro quis matar Lula? 

A opinião desta entidade sem cara e sem coração chamada mercado é historicamente usada como meio para chantagear governos e manipular a opinião pública. Por enquanto, a opinião da Faria Lima é quase diametralmente oposta ao da população. 

Se a eleição fosse hoje e o inelegível Bolsonaro pudesse concorrer, Lula lhe daria uma sova no segundo turno de 51% a 35%, segundo pesquisa Quaest desta semana. Como Bolsonaro está mais próximo da cadeia do que das urnas, simulou-se também a disputa de Lula com os possíveis candidatos da direita e da extrema direita. 

O petista venceria em todos os cenários. Tanto Tarcísio de Freitas quanto Pablo Marçal e Ronaldo Caiado perderiam para Lula em um segundo turno. Isso significa que, para a tristeza dos urubus de sapatênis, Lula está mais próximo da reeleição do que do caixão. 

Apesar de governar com o mercado colocando a faca em seu pescoço, Lula chega à metade do mandato com uma boa avaliação. 52% dos brasileiros aprovam o seu governo contra 47% que desaprovam. Não há grande folga nos números, mas eles seriam suficientes para garantir a reeleição em 2026. 

A pesquisa avaliou também a hipótese de Haddad disputar a eleição no lugar de Lula. Ele venceria todos os candidatos bolsonaristas em um eventual segundo turno, ainda que de maneira mais apertada. Bolsonaro, o candidato queridinho do mercado, é hoje o líder político mais rejeitado do país, com 57% dos brasileiros afirmando que não votam nele de jeito nenhum. 

É claro que ainda é muito cedo para qualquer previsão e o Brasil segue bem dividido, mas os números indicam que há uma discrepância enorme entre o que pensa a Faria Lima e o que pensa o povo. 

Segundo a pesquisa feita com a turminha do mercado, todos os candidatos bolsonaristas venceriam Lula com folga. O inelegível venceria por 80% a 12%;  Tarcísio, por 93% a 5%; Caiado, por 91% a 7%; e Marçal, por 65% a 17%. Pela vontade da Faria Lima o golpismo venceria Lula com folga em qualquer cenário. 

Não é preciso ser de esquerda ou fã do Lula para constatar a chantagem que o mercado financeiro faz de modo permanente contra o governo. Nesta semana, o deputado da bancada ruralista Luiz Carlos Hauly, do Podemos, um antipetista histórico do Paraná, deixou os incautos confusos com uma fala em plenário na semana passada. 

Segundo ele, “dizer que o Brasil está quebrado” é “irresponsabilidade e politicagem de mau gosto contra o nosso povo. O que o mercado financeiro vem fazendo com a economia chama-se crime de lesa-pátria”. 

Hauly acusou ainda a existência de um “conluio” entre o Banco Central e o mercado financeiro: “se ele [Banco Central] é independente, não deveria ouvir a opinião do mercado financeiro e não deveria aumentar a taxa do dólar, porque não há nenhum motivo. Somos superavitários na balança comercial. Não sou governo, não defendo o governo, mas sou brasileiro patriota e defendo a economia brasileira”. 

Em entrevista à Folha, o deputado afirmou que parte da oposição tem “interesses econômicos por trás, para manipular o mercado”. “Todo dia falam que a economia vai quebrar, que está indo mal. E eu, como estudioso da matéria, sei que os dados não são estes”, arrematou o deputado. 

Não é necessário ser lulista para fazer as mesmas constatações de Hauly. Basta ser honesto com os fatos. O desemprego teve queda recorde, o pib cresceu além das expectativas, a renda do trabalhador melhorou, a pobreza diminuiu e os programas sociais foram retomados. 

O mercado aposta na morte do presidente que conquistou tudo isso, enquanto o povo, neste momento aposta na sua reeleição. 

Fonte: INTERCEPT BRASIL

sábado, 14 de dezembro de 2024

 ATÉ QUE ENFIM (UFA !!!) – José Nílton Mariano Saraiva

Até que enfim (ufa !!!) conseguimos concluir a leitura das 884 (oitocentos e oitenta e quatro páginas) do Relatório da Polícia Federal, tratando sobre a tentativa de Golpe de Estado engendrada por Jair Messias Bolsonaro e seu séquito de “generais(zinhos) de estimação”.

Minucioso e detalhista, ali se encontram todas as provas necessárias à prisão da cambada de milicos insurgentes (Jair Messias Bolsonaro, Braga Neto, Augusto Heleno, Cesar Cid, Alexandre Ramagem, Mário Fernandes e por aí vai).

Vejam abaixo alguns detalhes do Relatório: 

Página 359 de 884: Ao ler o referido documento, o General FREIRE GOMES confirmou que o conteúdo da minuta de Decreto apreendida na residência do ex-ministro da Justiça ANDERSON TORRES era o mesmo das minutas apresentadas nas reuniões no palácio da Alvorada pelo Presidente da República JAIR BOLSONARO e no ministério da Defesa, pelo General Paulo Sérgio, no dia 14/12/2022. 

Página 370 de 884 - QUE em uma das reuniões dos Comandantes das Forças com o então Presidente da República, após o segundo turno das eleições, depois de o Presidente da República, JAIR BOLSONARO, aventar a hipótese de atentar contra o regime democrático, por meio de algum instituto previsto na Constituição (GLO ou Estado de Defesa ou Estado de Sítio), o então Comandante do Exército, General FREIRE GOMES, afirmou que caso tentasse tal ato teria que prender o Presidente da República; 

PAGINA 425 DE 884 - Nesse contexto, a investigação, com base nas medidas cautelares probatórias deferidas pelo juízo, avançou em identificar que a organização criminosa planejou e executou ações clandestinas para prender/matar o ministro ALEXANDRE DE MORAES. A ação final foi realizada no dia 15 de dezembro de 2022, data em que a consumação do golpe de Estado ficou mais próxima de se concretizar. Além disso, o planejamento operacional previu o assassinato do então presidente da República eleito LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA, por envenenamento, e do vice-presidente eleito, GERALDO ALCKIMIN, com a finalidade de extinguir a chapa vencedora das eleições presidenciais de 2022. 

Página 845 de 884 - Na manhã seguinte - 07 de dezembro de 2022-, após ter realizado pessoalmente ajustes na minuta do decreto presidencial, JAIR BOLSONARO convocou os Comandantes das Forças Militares no Palácio da Alvorada para apresentar o documento e pressionar as Forças Armadas a aderirem ao plano de abolição do Estado Democrático de Direito. Os comandantes do Exército e da Aeronáutica se posicionaram contrários a aderirem a qualquer plano que impedisse a posse do governo legitimamente eleito. Já o comandante da Marinha, ALMIRANTE GARNIER, colocou-se à disposição para cumprimento das ordens. Diante da recusa dos então comandantes do Exército e da Aeronáutica em aderirem ao intento golpista, o então presidente JAIR BOLSONARO, no dia 09 de dezembro de 2022, reuniu-se com o General ESTEVAM THEÓPHILO, comandante do COTER, que aceitou executar as ações a cargo do Exército e capitanear as tropas terrestres, caso o então presidente JAIR BOLSONARO assinasse o Decreto.

PAGINA 880 DE 884 - As ações descritas no documento denominado “PUNHAL VERDE AMARELO” evidenciam que os investigados estavam dispostos a ir além da simples detenção do ministro. Os métodos que seriam empregados na ação clandestina demonstram que o resultado morte era quase inevitável e aceito pelos criminosos. Ademais, o planejamento ainda acresceu de forma direta a previsão de ações para assassinar o presidente LULA por envenenamento e o vice-presidente GERALDO ALCKMIN para extinguir a chapa vencedora.

PAGINA 881 DE 884 - No entanto, apesar de todas as pressões realizadas, o general FREIRE GOMES e a maioria do Alto Comando do Exército mantiveram a posição institucional, não aderindo ao golpe de Estado. Tal fato não gerou confiança suficiente para o grupo criminoso avançar na consumação do ato final e, por isso, o então presidente da República JAIR BOLSONARO, apesar de estar com o decreto pronto, não o assinou.

terça-feira, 26 de novembro de 2024

Noite de Núpcias - (para o Tio Dinô, in memoriam)

Dr. Demóstenes Ribeiro (*)

Sertão, oh meu eterno sertão, quanto mais a gente se afasta, mais eu estou com você. E comigo, Batista e Dasdores, lá nos anos cinquenta, lembro como se fosse hoje e eles nunca sairão de mim.

Na serra da mãozinha, eram posseiros felizes do coronel João Renato, até chegar mais uma seca trazendo sofrimento e aflição. Quando essa chegou, Dasdores se alistou numa frente de serviço e Batista foi pro Maranhão.

Órfão de pai, deixou a mãe e a irmã, e certamente ganharia dinheiro nas plantações de arroz. Venceu a malária, mas a saudade o trouxe de volta. A seca findou e ele, forte e solitário, recomeçou a vida de posseiro trabalhando como um leão.

Um dia a sua mãe faleceu e ele se tornou um solteirão convicto, vivendo pro trabalho e pra Zezinha, a irmã deficiente mental. Ela nunca aprendeu a ler nem a escrever. Passava os dias brincando com bonecas de pano, rezando e pensando no céu.

E Dasdores, também solteira, era uma mulher diferente. Sem mãe desde a infância, vivia sozinha com o pai paralítico e que morreu tempos depois. Muito alta, tinha um gênio forte e braços musculosos. Parecia pouco feminina quando montava a cavalo.

Naquela época, foi a única mulher da região a usar calça comprida e, passada a seca e sem a frente de serviço, dedicou-se com afinco à plantação de milho, mandioca e feijão. Também criava porcos e ovelhas. Tudo de meia com o coronel João Renato.

Embora morando próximos desde a infância, Dasdores e Batista eram estranhos um ao outro, a vida inteira quase não se falaram. Mas, quando veio o cultivo do algodão, percebendo interesses comuns, eles aos poucos se aproximaram. Entre julho e setembro, dividiam burros e jumentos no transporte do “ouro branco” até a usina de beneficiamento na cidade.

E assim, melhorando de vida, entre eles surgiu um ar diferente. As suas palavras tímidas agora se acompanhavam de um brilho inusitado no olhar. Aos quarenta anos usaram anel de noivado e até o padre ficou surpreso quando decidiram se casar.

Aconteceu num final de tarde de setembro e o mundo estava feliz. Foram padrinhos os casais João Renato e Jesualdo – um irmão do coronel. O noivo, de sapato novo, vestia calça de brim azul e camisa manga comprida, bem branca como o algodão. Dasdores de rosa e cetim, jamais pareceu tão mulher. E Zezinha, em chita estampada, rindo muito, trazia nas mãos um buquê de flor de algodão.

Depois de café e bolo, na noite enluarada a rural wilis do coronel os levou de volta. Na casa de reboco, estavam na parede gravuras do Coração de Jesus e de São João. Após algum tempo, todos foram dormir e apagou-se o lampião petromax.

Quase meia noite, após mil rangidos e tentativas na cama patente e no colchão de junco, Dasdores desesperou-se e falou: “ home bote na doida !” Então, detrás da porta, subitamente surgiu um vulto e ouviu-se um grito na escuridão: “em mim, não, em mim não Era Zezinha, que saiu correndo pelo terreiro afora.

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(*) Dr. Demóstenes Ribeiro é médico cardiologista, natural de Missão Velha e atualmente radicado em Fortaleza-CE

Noite de Núpcias - (para o Tio Dinô, in memoriam)

Dr. Demóstenes Ribeiro (*)

Sertão, oh meu eterno sertão, quanto mais a gente se afasta, mais eu estou com você. E comigo, Batista e Dasdores, lá nos anos cinquenta, lembro como se fosse hoje e eles nunca sairão de mim.

Na serra da mãozinha, eram posseiros felizes do coronel João Renato, até chegar mais uma seca trazendo sofrimento e aflição. Quando essa chegou, Dasdores se alistou numa frente de serviço e Batista foi pro Maranhão.

Órfão de pai, deixou a mãe e a irmã, e certamente ganharia dinheiro nas plantações de arroz. Venceu a malária, mas a saudade o trouxe de volta. A seca findou e ele, forte e solitário, recomeçou a vida de posseiro trabalhando como um leão.

Um dia a sua mãe faleceu e ele se tornou um solteirão convicto, vivendo pro trabalho e pra Zezinha, a irmã deficiente mental. Ela nunca aprendeu a ler nem a escrever. Passava os dias brincando com bonecas de pano, rezando e pensando no céu.

E Dasdores, também solteira, era uma mulher diferente. Sem mãe desde a infância, vivia sozinha com o pai paralítico e que morreu tempos depois. Muito alta, tinha um gênio forte e braços musculosos. Parecia pouco feminina quando montava a cavalo.

Naquela época, foi a única mulher da região a usar calça comprida e, passada a seca e sem a frente de serviço, dedicou-se com afinco à plantação de milho, mandioca e feijão. Também criava porcos e ovelhas. Tudo de meia com o coronel João Renato.

Embora morando próximos desde a infância, Dasdores e Batista eram estranhos um ao outro, a vida inteira quase não se falaram. Mas, quando veio o cultivo do algodão, percebendo interesses comuns, eles aos poucos se aproximaram. Entre julho e setembro, dividiam burros e jumentos no transporte do “ouro branco” até a usina de beneficiamento na cidade.

E assim, melhorando de vida, entre eles surgiu um ar diferente. As suas palavras tímidas agora se acompanhavam de um brilho inusitado no olhar. Aos quarenta anos usaram anel de noivado e até o padre ficou surpreso quando decidiram se casar.

Aconteceu num final de tarde de setembro e o mundo estava feliz. Foram padrinhos os casais João Renato e Jesualdo – um irmão do coronel. O noivo, de sapato novo, vestia calça de brim azul e camisa manga comprida, bem branca como o algodão. Dasdores de rosa e cetim, jamais pareceu tão mulher. E Zezinha, em chita estampada, rindo muito, trazia nas mãos um buquê de flor de algodão.

Depois de café e bolo, na noite enluarada a rural wilis do coronel os levou de volta. Na casa de reboco, estavam na parede gravuras do Coração de Jesus e de São João. Após algum tempo, todos foram dormir e apagou-se o lampião petromax.

Quase meia noite, após mil rangidos e tentativas na cama patente e no colchão de junco, Dasdores desesperou-se e falou: “ home bote na doida !” Então, detrás da porta, subitamente surgiu um vulto e ouviu-se um grito na escuridão: “em mim, não, em mim não Era Zezinha, que saiu correndo pelo terreiro afora.

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(*) Dr. Demóstenes Ribeiro é médico cardiologista, natural de Missão Velha e atualmente radicado em Fortaleza-CE

domingo, 24 de novembro de 2024

 BOLSONARO, O "MAGNÂNIMO" - José Nílton Mariano Saraiva


Definitivamente, estão profundamente enganados aqueles que vivem a pregar que Bolsonaro nada fez pelo Brasil, nos seus 04 anos de (des)governo. Fez, sim, e fez muito. E foi de uma desnuda magnanimidade, uma magnanimidade a toda prova.

Nos mostrou, por exemplo (e para todo o mundo) que na cúpula do Exército brasileiro (generais, tenentes-coronéis e por aí vai) existem adeptos fervorosos, intransigentes e radicais do contundente e letal “modus operandi” miliciano, porquanto, pra se manter no poder, CAPAZES DE MATAR OU MANDAR MATAR os que lhe fazem oposição.

E, como tem o presidente da Rússia, Vladimir Putin, como referência, exemplo e ídolo, envenenamento ou bala de fuzil são as opções preferenciais.

Sem choro nem vela.

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

 O PLANO, HORROROSAMENTE MACABRO, DE BOLSONARO E SEUS GENERAIS/ZINHOS DE ESTIMAÇÃO – José Nílton Mariano Saraiva

Em 2021, durante um ato golpista na Avenida Paulista, o então desprezível presidente Jair Bolsonaro afirmou, com convicção: "Quero dizer a vocês que qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. A paciência do nosso povo já se esgotou; ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais".

Ante o exposto, teoricamente não deveria constituir-se surpresa nenhuma o contundente e minucioso documento, da Polícia Federal (agora de conhecimento público), onde o mundo todo toma conhecimento da trama macabra e diabólica arquitetada dentro do Palácio do Planalto (sede do governo) e na casa do general Braga Netto (Ministro da Defesa, Chefe da Casa Civil e posteriormente vice-presidente), visando ASSASSINAR o Presidente da República recém-eleito, Lula da Silva, seu vice, Geraldo Alkmin e o Ministro do Supremo Tribunal Federal (então acumulando a função de Presidente do Tribunal Superior Eleitoral), Alexandre de Moraes.

É que, após fracassadas tentativas de “melar” a eleição (usando nosso dinheiro e um arsenal de irregularidades/ilegalidades) e agora, descontentes com a decisão soberana e democrática da maioria do povo brasileiro de trazer de volta à Presidência da República, Lula da Silva, uma súcia de generais, tenentes coronéis e outros graduados das Forças Armadas decidiram simplesmente ELIMINÁ-LO FISICAMENTE, visando tomarem o poder, na marra.

Assim é que, sob o comando de Bolsonaro (um dos envolvidos confirma isso, ao afirmar que o próprio sugerira que a operação se realizasse até 31 de dezembro, e há um vídeo sobre), o plano previa importar o método corriqueiro e macabro utilizado por Vladimir Putin, lá na Rússia, onde os adversários são eliminados sumariamente por “envenenamento”, além da opção de armamento pesado, se necessário.

A minúcia dos detalhes nos mostra, por exemplo, que, estrategicamente colocados no trajeto percorrido diariamente pelo Ministro Alexandre de Morais, e comunicando-se entre si, cada um deles estaria pronto pra entrar em ação, incontinenti, visando eliminá-lo.

Particularmente, entendemos que o grande erro de Alexandre de Moraes foi não prender Bolsonaro quando este desembarcou aqui, após 90 dias nos Estados Unidos, para onde houvera fugido covardemente depois de tramar e insuflar seu rebanho para fazer o que fizeram em 08 de janeiro.

No mais, é chegada a hora de acabar com essa babaquice de “prisão domiciliar com o uso de tornozeleira eletrônica” já que não existe e nunca existiu respeito sobre; além do que, e o próprio Mauro Cid quando foi preso pela primeira vez usou de tal expediente, não tem essa de ficar com “peninha” do delinquente choroso porque saudoso das filhas e/ou por não se adaptar ao “rango” da prisão.

Alfim, não é possível que após tão sérias denúncias da Polícia Federal, Bolsonaro e seus generais/zinhos de estimação continuem impunes, em razão da alta periculosidade que representam. É prisão de segurança máxima, sem tergiversações.  

quarta-feira, 20 de novembro de 2024

 TRAIDORES DA PÁTRIA (editorial do jornal o Estado de São Paulo, de 20.11.24)


É de indignar todos os democratas deste país, sejam quais forem as identidades político-ideológicas que possam distingui-los, a revelação de que autoridades do governo de Jair Bolsonaro e militares das Forças Especiais do Exército, além de um policial federal, TERIAM CONSPIRADO PARA ASSASSINAR, NO FIM DE 2022, O ENTÃO PRESIDENTE ELEITO LULA DA SILVA, O VICE, GERALDO ALCKMIN, E O MINISTRO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL (STF) ALEXANDRE DE MORAES, QUE À ÉPOCA ACUMULAVA O CARGO DE PRESIDENTE DO TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL (TSE).

Como se sabe, na manhã de ontem a Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Contragolpe, que culminou na prisão do general reformado Mário Fernandes, ex-secretário executivo da Secretaria-Geral da Presidência (2020) e atualmente assessor do deputado Eduardo Pazuello (PL-RJ). Além de Fernandes, outros três militares com formação em Forças Especiais, conhecidos no Exército como “kids pretos”, foram presos por suspeita de elaborar o plano homicida com vistas “à abolição violenta do Estado Democrático de Direito”: Rafael Martins de Oliveira, Rodrigo Bezerra de Azevedo e Hélio Ferreira Lima. O quinto envolvido diretamente na trama, também preso, é o policial federal Wladimir Matos Soares.

A tentativa de golpe de Estado urdida pelos inconformados com a democracia, uma súcia de civis e militares, da ativa e da reserva, TODOS DO ENTORNO DE BOLSONARO, já era execrável por tudo o que se sabia a respeito da sedição até agora. Por meio da desqualificação do processo eleitoral, entre outras artimanhas, pretendia-se evitar a eleição de Lula da Silva como presidente da República. Malfadado esse desiderato, partiu-se, então, para o impedimento da posse. A rigor, o que a Operação Contragolpe fez foi mostrar ao País, com impressionante riqueza de detalhes, até onde esses golpistas pretendiam chegar com seu furor delitivo para manter Bolsonaro no poder, em afronta à vontade popular legitimamente consagrada pelas urnas em 2022.

Chamado no ninho golpista de “Punhal Verde e Amarelo”, como se patriota fosse, o plano dos militares liderados, do ponto de vista operacional, pelo general Mário Fernandes, ex-comandante de Operações Especiais do Exército (2018-2020), consistia, pasme o leitor, em envenenar Lula, “considerando a vulnerabilidade de seu atual estado de saúde e sua frequência a hospitais”. Alckmin, segundo consta, também seria envenenado. Já para matar Alexandre de Moraes, os golpistas pretendiam detonar explosivos durante uma cerimônia pública. Eis a dimensão da infâmia.

AINDA SEGUNDO A PF, AO MENOS UMA REUNIÃO PARA ARQUITETAR O TRIPLO HOMICÍDIO TERIA SIDO REALIZADA NA RESIDENCIA DO GENERAL WALTER BRAGA NETTO, então ministro da Defesa e candidato a vice na chapa de Bolsonaro pela reeleição. ESTE JORNAL APUROU QUE A PF NÃO TEM DÚVIDAS SOBRE O “ENVOLVIMENTO DIRETO” DE BRAGA NETTO NESSA TRAMA MAIS DO QUE ANTIDEMOCÁTICA, MACABRA.

Em um ofício de 221 páginas endereçado ao gabinete do ministro Alexandre de Moraes, relator do Inquérito 4.874, que investiga no âmbito do STF a ação das chamadas “milícias digitais antidemocráticas”, a PF detalhou como os militares sediciosos monitoraram os passos de Lula, Alckmin e do próprio Moraes para decidir como e quando agir. Resta claro que o País esteve muito próximo de ser tragado por uma convulsão política e social inaudita em sua história recente. E é lícito inferir que as consequências mais nefastas dessa extrema violência política, gravíssima por sua mera cogitação, só não se materializaram porque o Alto Comando do Exército não endossou a estupidez.

Mas que ninguém se deixe enganar. Se felizmente a intentona não foi adiante, o simples fato de frutificar entre os mais bem treinados militares do Exército esse ímpeto golpista em nada tranquiliza a Nação. O PAÍS SÓ ESTARÁ EM PAZ QUANDO, UM POR UM, TODOS OS TRAIDORES DA CONSTITUIÇÃO, QUE, COMO DISSE ULYSSES GUIMARÃES, TAMBÉM SÃO TRAIDORES DA PÁTRIA, FOREM JULGADOS POR SEUS CRIMES SOB A ÉGIDE DO MESMO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO CONTRA O QUAL SE 
INSURGIRAM.

terça-feira, 19 de novembro de 2024

Marquises

 


J. Flávio Vieira

 

                --- Vocês não sabem do absurdo ! Rauzito foi recolhido à Fundação Casa, hoje ! Foi pego no sinal cheirando cola ! Pode ?

 

                        A notícia se alastrou como faísca correndo no estopim .  Um menino de oito anos, já viciado em drogas ? Onde vamos parar ? Rauzito   era conhecido de muita gente. Franzino, portando sempre uma camiseta puída de lycra e uma bermuda de longa vida, invariavelmente suja,   fazia ponto em um dos sinais da pomposa rua Abelardo Studart, vendendo balas, limpando para-brisas --entre o vermelho e o verde—e  pastorando carros estacionados ao longo da via. Tinha por casa uma marquise de uma loja de departamentos próxima dali. Era tido como um marajá da via pública. Para os colegas de rua, tinha a casa mais suntuosa  do centro comercial da cidade. Defendia seu espaço, com unhas e dentes, como se tivesse conseguido o direito por usucapião. A reação de surpresa do povo, por incrível que possa parecer, foi pelo vício precoce de Rauzito e não pelo outro absurdo que já se tornara normalidade: uma criança de oito anos ter por lar a via pública. Antes,  a população já se indignara quando Rauzito , defendendo seu território, a sombra da marquise, agredira um outro guri que  se fez de posseiro, sem imaginar que já lhe pertencia. Quem vive na cidade não entende das leis da selva!  E agora o povo parecia boquiaberto com a descoberta de que já na infância o vício estava se alastrando.

                        D. Veridiana, uma coquete da vila, chacoalhando suas joias, pediu donativos, num clube de serviço,  para a Infância Abandonada da cidade: A Caridade é o Caminho para o céu ! O Padre Gilbertino, na homilia daquele domingo, explicou que o vício era a presença do demônio no seio da sociedade e pregou um reforço nos óbolos para ajudar a infância desvalida. O prefeito Sinderval Codó, em entrevista na Rádio  “A Voz da Bíblia” , informou ter colocado toda a Secretaria de Ação Social  na investigação das causas daquele crime e a polícia já abrira inquérito para descobrir os responsáveis pela distribuição da droga nas ruas. Cacildo Honório, “A Voz de Ouro do Rádio”, no Programa “ Ronda Policial” , pediu providências urgentes da polícia na repressão ao tráfico de drogas no município que se tornara uma calamidade. Onildo Jurema, o presidente do Partido Comunista Operário Obreiro, o PCOO, que faz oposição ao atual governante, propôs a deposição imediata do prefeito que, segundo ele, era o proprietário do Jogo do Bicho local e sócio da Facção que comandava o tráfico na região. Em meio à indignação geral de superfície, as múltiplas propostas de solução do caso Rauzito, uma pergunta permaneceu no ar, perfeitamente intocada, procurando uma resposta, assim como os meninos moradores de vias públicas procuravam o Estado: Por que Rauzito , de oito anos, sem pais e sem país, tem por casa uma marquise ?

                        Na Fundação Casa , Rauzito chega agitado, confuso. Menos por não entender o motivo da sua detenção do que pelo medo de perder, para os outros zumbis que invadem a rua, a única propriedade que possui por usucapião: a marquise. Alimentado, dorme à noite numa cama mais confortável do que a sua, mas, ansioso,  sabe que não lhe pertence. Encontra-se com uma tropa de iguais abandonados,  aqueles que nunca tiveram infância, apenas a luta pela sobrevivência: um monstro a cada dia, um fantasma em cada esquina. Apesar de tudo, a desgraça comum lhe traz algum conforto, talvez por ser o único socialismo que conhece: o da miséria. No dia seguinte, a Assistente Social o entrevista junto com a psicóloga.

                        --- Rauzito, por que você decidiu morar na rua ? Você não tinha pai e mãe ?

                        --- Meu pai nunca conheci. Mamãe disse que era o patrão dela na casa em que ela trabalhava, mas era casado e nunca assumiu. Conheci só meu padrasto que batia e abusava de mim desde eu bem pequenininho.

                        --- E foi por isso que você fugiu de casa e foi para a rua ?

                        --- Não, a polícia , antes de mim, matou meu padrasto. Ele era descuidista. Um dia se descuidou. Fui para a rua quando minha mãe morreu. Era viciada na “pedra” e, um dia, fumou mais do que devia.

                        --- E por que você começou a cheirar cola, para anestesiar e aguentar a viver na rua ?

                        --- Não, porque só quando cheiro a latinha de cola é quando eu consigo ver e conversar com minha mãe...

                        A  Psicologia e a Assistência Social viram-se, de repente, diante do sinal vermelho. Tinham há pouco tornado Rauzito, novamente, um sem teto e , agora, lhes pairava aquela sensação de que haviam matado sua mãe por uma segunda vez. Era justo arrancar-lhe das mãos a latinha que , ao menos, lhe proporcionava o bálsamo do sonho, sem que lhe ofertassem , em troca, um mundo mais justo e respirável ?  

 

J. Flávio Vieira

Crato, 08/11/24

quarta-feira, 13 de novembro de 2024

 Abaixo, um bom artigo "internetiano".

POR QUE AS MÚSICAS QUE OUVIMOS NA JUVENTUDE MARCAM NOSSA VIDA ???

Se você gosta de “Drop It Like It’s Hot” do Snoop Dogg, “Dance, Dance” do Fall Out Boy e “Hollaback Girl” da Gwen Stefani tanto quanto eu, é provável que tenhamos nascido na mesma época.

Quando ouço essas músicas agora, sou atingido por ondas de nostalgia — primeiros amores, as tribulações do ensino médio e os altos e baixos de morar com meus pais.

Embora eu tenha começado a apreciar artistas mais jovens como Doja Cat, Lil Nas X e Sabrina Carpenter nos últimos anos, as músicas da década de 2000 ocupam um lugar especial na minha cabeça e coração.

Uma colega mais jovem recentemente me disse que “a música de 2008 a 2016 era de primeira linha”. Ela disse que amava Meghan Trainor, One Direction e Kesha durante esse período — artistas que foram a trilha sonora de seus anos de desenvolvimento cruciais.

Ao ver outras gerações de amantes da música dizerem que a música era muito melhor quando eram mais jovens, fiquei me perguntando por quê. Não podemos estar todos certos — ou talvez sim? Conversei com especialistas em como a música influencia nossos cérebros para descobrir.

“Não é que a música era melhor quando (nós) éramos mais jovens; é que a música suscita emoções muito, muito fortes”, disse Rita Aiello, psicóloga da música da Universidade de Nova York, que examina como as pessoas processam a música e como a música e as memórias se moldam mutuamente.

Aiello lembra “Yesterday” dos Beatles e “People” de Barbra Streisand como duas de suas músicas favoritas da juventude. “A música é um gatilho extremamente poderoso para lembrar o que aconteceu antes em nossas vidas”, ela disse.

Mas por que a música tem tanto poder?

“A música é episódica”, disse Robert Cutietta, professor de música da Universidade do Sul da Califórnia. “Se você olha para uma obra de arte ou algo assim, você pode olhar para ela e sair. A música é ao longo do tempo. Há uma parte do nosso cérebro chamada memória episódica — é praí que ela vai.”

Faz sentido. A preferência de uma pessoa por música popular atinge o pico por volta dos 23 anos, de acordo com um estudo de 1989 publicado no Journal of Consumer Research, com uma atualização publicada em 2013 na revista Musicae Scientiae relatando a idade de 19 anos. Uma republicação de 2022 do último estudo no Marketing Letters: A Journal of Research in Marketing descobriu que a preferência musical de uma pessoa atinge o pico aos 17 anos.

“Isso faz parte da sua identidade”, disse Cutietta. “Durante esses anos, estamos desenvolvendo muito do que somos e nos apegamos à música.”

Cutietta, que nasceu em 1953, citou o trabalho dos Beatles e do maestro Leonard Bernstein como alguns de seus favoritos. Esses artistas ajudaram a moldar seus gostos musicais quando adolescente.

Esse apego à sua identidade pode ser o motivo pelo qual você se sente menos conectado à música contemporânea à medida que envelhece.

As emoções ligadas à música em idades impressionáveis ​​ajudam a formar um vínculo ao longo da vida, com sentimentos felizes e tristes se entrelaçando — até mesmo se complementando — ao ouvir uma música.

“Se estávamos tristes (ouvindo uma música) há 20 anos, vamos ficar tristes hoje, mas com uma distância dessa tristeza. Há um sentimento diferente de enriquecimento na experiência”, disse Aiello, observando que “tristeza pode ser a abertura da alegria”.

Isso também pode explicar por que ouvir algo que você gostava de um período anterior e mais difícil de sua vida pode trazer uma sensação de catarse ao ouvi-lo agora, ela disse.

E se você considera os anos 1970 e 1980 o santo graal da “música real”, mesmo que todas as décadas contenham músicas boas e ruins?

Pode ser porque você está se lembrando dos artistas, músicas e álbuns que foram significativos para você e esquecendo aqueles que não foram. “Existem circunstâncias que tornaram certas músicas particularmente significativas para você e as memórias dessas circunstâncias voltarão quando você ouvir as músicas”, disse Aiello.

Essas músicas significativas ainda ressoam em você, disse Cutietta, eclipsando as esquecíveis.

“Toda época tem músicas horríveis que se tornaram grandes sucessos”, disse Cutietta. “Eles ainda estão em algum lugar da nossa memória, mas escolhemos não trazê-los à tona. Naturalmente, vamos escolher as músicas que gostamos.”

Tenho certeza de que os jovens de hoje saudarão o início dos anos 2020 como uma ótima época para a música, dizendo que os artistas de outras épocas não têm nada a ver com os da época deles.

Mas, muito provavelmente, eles estarão pensando em como os artistas que amavam moldaram seu eu mais jovem e esquecendo as músicas que não importavam.