por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 2 de junho de 2015

ZÉ DE TOM-IN - José do Vale Pinheiro Feitosa

Zé de Tom-in é o mais completo exemplo de um projeto perfeitamente executado.

Um projeto de feiura. Desmantelo de fim dos tempos.

Quando me deparei com a marmota foi aquele Louro da Oficina dizendo: “olhe ajude este desgraçado que a mãe não cuida dele de jeito nenhum. O outro irmão até já morreu de fome!”

Zé de Tom-in para resumo da estampa é mais ou menos assim (e pode botar menos): a bunda é murcha como se arriasse para dentro das pernas, tronco curto e uma cabeça que teima em ser maior que o resto. E os faróis da alma? São duas boticas saltadas como a feitura acabada daquele que os pais prometiam aos filhos: “Doca do Oião”.

E não fica nisso não! Zé tem orelhas de humilhar dois abanos. Aquele conjunto além do mais é de pouca estatura. É o tipo mínimo no tamanho e grande na estampa do que representa.    

E peguei o arremedo estético e entreguei para Catarina. Ela amamentava uma filha e Zé podia receber algo por aquelas mamas. E não foi que recebeu. Zé de Tom-in tem uma coisa, é feio no arranjo externo, mas tem uma gana de viver como ninguém.

Ora, ele se aproveitou dos peitos de Catarina como a verdadeira ponte entre o último suspiro e o fungado da satisfação. E assim Zé passou por todas as fases que a vida nos dá. Virou meninote danado, depois, sem mudar muito de tamanho, assumiu estampa de adolescente e pronto para deixar semente no mundo.

E deixou, o desgraçado. Catarina já teve uma prole de Zé de Tom-in, assim como a irmã de leite já está para parir.

E Zé sempre por ali, entre um prato de comida e um útero para juntar a herança dele com alguém que valorize a libido do danado, sem levar em consideração o apanhado físico resultante.

E assim Zé vai misturando o que lhe é abundante com a temperança de alguma beleza fêmea para agrado dos olhos.

Zé de Tom-in continua sendo um bom sujeito, embora de vez em quando some aquela irritação da raça Pinscher no seu diálogo conosco.


Esta narrativa me foi oferecida pelo Jansen, funcionário aposentado do BB e hoje concorrente no abate e distribuição de frangos em Paracuru. 

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