Quando eu era criança
gostava de dormir no quarto de Mãe São.
Cama enorme com lençóis branquinhos e cheirosos, lavados por Maria Pretinha-
no rio das piabas.
Lembro-me das palavras da minha avó.
-Leve o seu lençol, e eu levava enrolado debaixo do braço.
E bem antes do galo cantar,
no quintal da D.Maria Romão.
Lá estava vovó rezando o ofício
de Nossa Senhora(...Deus nos salve relógio,
que anda atrasado...).
Mas o nosso relógio não atrasava.
Pontualmente o galo cantava
alto e em bom tom.
Era a hora do levantar.
Eu ficava deitada só mais um pouquinho
escutando os versos assobiados,
na cumeeira da casa.
Então eu ouvia a voz do Sr.Vicente,
o padeiro.
-Olha o pão!
-Olha o pão D.Conceição!
Minha avó abria a porta
e de mão lavadas,
recebia o pão nosso de cada dia,
ainda quentinho.
Era sempre assim, o pão era cortado
e ela fazia a chamada dos presentes:
Aurélia, Alísio,Arcy,\Emílio, Fernando...
Eu, menina gulosa, sentava-me à mesa
e esperava impaciente
que o café cheiroso e esfumaçante
fosse servido da velha chaleira de ferro.
Com os olhos compridos, pidão,
namorava as tapiocas feitas por Ninãn.
-Vó, vou guardar o pão,
quero a tapioca
-Quem guarda com fome,
o gato vem e come.
Dizia sorrindo
Eita vida boa!
Tranquila, sem pressa.
Eita tempo bom!
* Maria Aurélia Milfont Benício é filha do Maestro Hidelgardo Benício, e esteve no carnaval da saudade 2015, representando o pai, na homenagem prestada pelo CTC.
Tive o prazer de conviver com ela e Clóvis( seu esposo), neste final de semana festivo.
Revelou-se grande poetisa popular, quando na sua primeira postagem, no Azul Sonhado, atingiu o maior número de nossos leitores. Espero que tenhamos oportunidade de postar mais alguns dos seus inúmeros versos brancos e cordéis.
Hoje considero Aurélia minha amiga de infância, pelas afinidades, inclusive de sangue. Somos trinetas do Cel.Maiinha.
Socorro Moreira
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