“Quando olhei a terra ardendo, qual fogueira de São João” as
levas de retirantes libertos das pernas estropiadas, “em um caminhão, ele joga
a famia, chegou o triste dia, já vai viajar.” Vai dia e vem dia e o “carro rodando,
na estrada do Sul.”
“Faz pena o nortista, tão forte e tão bravo” sofrendo de sede
no norte e no sul. “Hoje longe, muitas léguas, numa triste solidão, espero a
chuva cair de novo, pra mim voltar pru meu sertão”. Falta água na cidade, nas
mangueiras dos bombeiros, falta água prá banhar-se, falta água prá beber.
E tanta gasolina foi gasta para fugir da seca no norte e
depois de arranhada quase a quarta parte do planeta, chegou a São Paulo para
suprimir-se com um conta gotas da água que lhe chega. Como se diz por lá: preparando-se
para uma vida sem água.
Preparando-se para gastar toda a poupança no mercado negro
do líquido essencial à vida. Quem sabe no calor do verão que já se anuncia do
horizonte a chuva chegue, mas os abismos das coisas ruins apontam para uma
tensão de necessidade premente e de ódio por quem terá direito à gota d´água.
E pensar que não se juntou mais água porque era preciso
pagar os dividendos da companhia de abastecimento para que assim os seus “investidores”
tivessem mais “confiança”. E pensar que os investimentos para matar a sede não
foram feitos e o Governador de São Paulo será reeleito.
Depois a sede continua explicando como se pensa o momento e
depois se decepciona com as decisões ali tomadas. E isso é da democracia:
sempre é possível agir diferente do que já se agiu.
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